terça-feira, 30 de dezembro de 2008

o ano em que eu não fui

Entre as minhas variadas atividades mora uma paixão pela astrologia. Faço mapas, dou consulta, mas às vezes esqueço de usar pra mim mesma.
No quesito previsões, sou ótima de trânsitos, mas não sou muito boa de revolução solar. Falta estudo e prática.
Mas agora fui fazer a revolução do meu marido, já que vai passar o aniversário dele no Brasil, e aproveitei para revisar a minha de 2008 pra ver se achava sinal de alguma melhora a partir de junho de 2009.
Então na minha revisão que envolve o período de junho de 2008 a junho de 2009, estou com o que se diz em astrologuês, um ascendente na casa doze. Numa apostila minha, achei a seguinte anotação sobre o assunto:

"Ano para aprender a me despachar e reestruturar, abrir mão do controle. Neste ano a sensação que a pessoa tem é de que está presa e é inocente. Convivência em hospital ou prisão. Aceitar a vida como ela é. "

Depois de ler isso, minha única reação possível foi uma gargalhada fenomenal.
Como pude perder este textinho de vista? Ele resume exatamente meu ano. A lista infindável de regras, as mudanças inacreditáveis de hábitos, a falta de vida Um ano dedicado a saúde incluindo muitas idas a hospital, um ano em tentei controlar tudo por não poder controlar nada. O ano em que investi tudo num projeto e dei majestosamente com a cara na parede. Um ano em que eu não fui.

Sei que não sou, mas neste momento me sinto perdida e impotente. Como se o mundo fosse um monstro com uma bocarra imensa que vai me engolir inteira se eu ficar parada onde estou um instante mais que seja.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

saudades do Rio II

Enquanto curto uma tosse que já dura dez dias, o carro que quebrou esta manhã e foi guinchado pela enésima vez este ano e uma fossa que não espera a hora de 2009 chegar deixando as dificuldades de 2008 para trás, me delicio imaginando os dias quentes que me aguardam em menos de um mês.
Esta expectativa reaviva toda a minha paixão pelo Rio de Janeiro e me fez cavocar um texto que escrevi numa tarde de sexta que passei no posto dez.

"Olha o queijo coalho! O sorvete! Mate limão, quem vai querer?!! Empada, empada, empaaada! Suco naturaaaaal!Guaravit! Ó a limonada mate! "

Tento ler mas não consigo com o festival de chamadas da esperança ambulante que pulsa à minha volta.

"Ó o queijo na brasa, queijooo! Abacaxi com hortelã, suco de laranja com cenoura! Aí o açaí! É o queijo na brasa aí ó! Mate, água, guaraplus e o biscoito. Óculos, Ó-le-o! Óleo pra bronzear. Aqui não leva água, é pura polpa de açaí, the bésti on the beachi!"

E eu choro. Choro. Choro. Pela minha pátria que se vira. Descalça, carregando peso sob o sol. Vai e vem. Vai e vem.

"Olha o sanduíche natural no capricho!"


Os farelos da empada barata me rolam umbigo abaixo. Alguém ao longe grita, 'caralhooooo'!

"Alô mate, geladão aí!"

Tô na banca do João, qualquer coisa é só chamar.
Uma gringa me pede com sotaque depositando a bolsa perto de mim com cara de quem precisa de um mergulho, 'posso deixar isso aqui um minutinho'?
E eu me lembro do poema do Vinícius, e choro na praia. Eu branca, vinda do frio me sinto estrangeira com meu sovaco cabeludo bem statement político do feminino, e ao mesmo tempo parte disso tudo, dessa beleza, dessa lindura, desse calor, abobada por eu ter comprado um brinco de cinco reais.
Guardo uma lata já vazia da cerveja pra entregar pra um dos dois que passam recolhendo alumínio reciclável. Na certa para revender em algum lugar e ajudar no pão de cada dia.
'Guardei pra ti', digo com meu sotaque gaúcho entregando a lata, e ela responde em carioquês, 'pô, valeu aí!'.
Sol e nuvens. Agora o brilho do sol escondido reflete na pedra da ilha em frente. ILHA em frente. Só isso já vale a vista. Sem contar que se arrisco olhar pra direita vejo o Dois Irmãos rodeado de nuvens no topo, e à esquerda vejo o céu azul que Copacabana manda para Ipanema.
Pátria amada, patriazinha! De pés descalços, calcanhar rachado e nordestino...
Pátria minha que me invade de emoção e me enche de saudades, carinho e por que não, orgulho.
'Tá tudo certo aí amiga?' , me pergunta o João, 'mais uma cerveja?'
E eu me derramo e choro, mais uma vez, neste dia de praia no Rio.

Fevereiro de 2007

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

sonhos no freezer

Dois mil e oito foi praticamente inteiro dedicado a um projeto de vida que não deu certo. Acho que poucas coisas são mais difíceis de se aceitar que encarar o fato de que apesar de a gente ter feito tudo, absolutamente tudo que podia e não podia, não chegamos ao que se deseja.
Pra lidar com a frustração que atingiu seu clímax da negativa exatamente junto das festas, estamos nos valendo daquela famosa tática humana de confortar a alma chamada 'prêmio de consolação'.
No meu caso, o prêmio que estou ganhando e me permitindo é uma viagem antecipada ao Brasil.
Agora só penso nisso. Nas três semanas de calor que me esperam a partir de 24 de janeiro... ...dream dream dream...
Aliás, estes dias, meu marido, conversando via msn com um amigo no Brasil, ao ser perguntando sobre como estava a vida, simplesmente respondeu que nesta época do ano, seu julgamento sobre os fatos fica comprometido por causa do desgosto com o frio e a neve.
Este inverno está sendo pior, repito PIOR do que de costume.
Semana passada pegamos sensação térmica de 35 negativos. A neve se acumula e vira gelo sobre todos os lugares, é uma coisa tétrica simplesmente enfiar a cara na rua.
Eu amo Chicago e odeio Chicago.
Mas agora só tenho pensamentos para o fim de janeiro, onde estou depositando a minha felicidade. Vinte e um dias de liberdade, de esquecimento desses horrores nórdicos.
Já sei que 2009 traz promessas legais de trabalho pra mim. Conclusão de um filme, duas peças engatilhadas... E também estou contando com o ano novo para trazer dias melhores na nossa vida, renovando algumas esperanças ou trazendo a serenidade para decidir abandonar os sonhos que não dão certo.

domingo, 14 de dezembro de 2008

a palavra e a máscara

Fevereiro de 2007 eu passei na cidade maravilhosa fazendo aulas na CAL. Eu tava com uma vontade imensa de atuar em português. Eu só atuei em português quando menina, e aquela não sou mais eu. Só que foi bem na época da minha paixão doida pelo teatro físico. Resultado, acabou que fiz várias aulas ligadas à fisicalidade, e quase nada à palavra.
Eu me pergunto sempre que liberdade sensacional seria expressar o texto na minha língua mãe! Quantas nuances mais, quantos duplos-sentidos e quantos sotaques e tiques de classe social deixariam de me escapar e coloririam minha expressão de mais complexas formas humanas?
Ou não. Há uma professora minha que disse que talvez eu também use o idioma como uma máscara. Que seja talvez mais fácil eu desnudar a alma me escondendo atrás do inglês.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Saudades do Rio I

Eu amo o Rio. Morei lá quando pequena. Foi uma época foda pros meus pais. Muita falta de grana e muita falta de amor. Eu não morava na Zona Sul. A gente passou aquele ano de 79 pra 80 na Ilha do Governador. Mas uma tia do meu pai morava no Leblon.
Não foi um período propriamente feliz, mas eu fiquei com esse amor pela cidade, uma memória do cheiro, da umidade das calçadas de Ipanema e Leblon, o cheiro do suco, o queimar da areia da praia na sola do pé. Talvez porque minhas idas ao Jardim de Alá nos fins de semana pra visitar a tia e tomar picolé tenham ficado marcadas como momentos idílicos, um contraponto ao meu dia a dia em casa. Ou talvez não seja nada disso. Talvez embora hoje meus pais recontem suas histórias daquela época com tanta dificuldade, eu estivesse alheia a tudo isso e fosse simplesmente feliz do alto dos meus quatro anos.
Três anos atrás exatamente eu estava lá de novo. Passeando. Hospedada no Marina com vista pro mar, me vesti de carioca e fui de ônibus redescobrir o centro. No fim, a água dos olhos, o sal que me escorria pelas bochechas e meu olhar lento eram um contraste às caras de sexta-feira à tarde, e revelavam a cada passo meu na rua do Ouvidor, a minha verdade turista. Meu amor cresceu ainda mais com a beleza dos prédios, a sensação da história. Minha visita sentimental teve seu apogeu na Confeitaria Colombo onde fiz esse quase-poema:

Confeitaria Colombo

Dois reflexos no grande espelho da direita.
No andar de cima,
uma dona, de boné dourado e short exibindo pelancas, passa apressada entre cadeiras guiando seu gringo de bermudas brancas.
Logo abaixo, ao lado do piano,
uma jovem dama-perdida no tempo - inspira e expira devagar,
sorvendo o estabelecimento a goles demorados de prosecco.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

break para talentos domésticos



O frio


A moleza


A espera


Fazem a gente mudar o alvo das dedicações.


Há anos eu tento achar alguém que me dê uma boa receita de Ambrosia, meu doce mais favorito do mundo, e do qual sinto imensas saudades. Ontem, melhor que a receita, pude testemunhar passo a passo a preparação de uma panelada do doce pela mãe de uma amiga minha.


Dona Isa, vinda diretamente de São Paulo, veio adoçar nossa tarde de quarta. Ela nas panelas, eu e Patty super atentas com caderninho em punho registrando todas as informações. Enquanto fervia a ambrosia, o mulherio tomava café, chá, comia bolo com pudim. Na foto estamos Isa, eu, Magali e Tarcia. Foi divertidíssimo e pude trazer um potinho pra casa.

Meu segundo projeto é um suéter para 'Ricardo', um boneco. Mais um projeto doido da griffe Patricia Peixoto e Magda deJosé. Estas duas paulistas, agora americanas, foram colegas de segundo grau em Sampa e se reencontraram aqui para fazer Arte (com letra maiúscula) juntas. Elas se divertem com uma dupla de bonecos que batizaram Douglas and Ricardo, e decidiram que os dois tem um relacionamento amoroso. A dor deles, é que como Magda está em Nova York, os amantes agora vivem separados à espera um do outro. Elas criaram um blog ricardoanddouglas com fotos para acompanhar as aventuras dos dois. É uma coisa meio o lance daquele anão de jardim viajante. E eu estou no momento colaborando com meus talentos artesanais para dar uma variada no guarda-roupa desta dupla. Para complementar o suéter azul, acho que vou tricotar um cachecol bem pink. ;)

domingo, 30 de novembro de 2008

aquecendo os holidays

Ter estações bem marcadas faz com que, inevitavelmente, a gente se adeque aos chamados da natureza.
Esta época, com a noite chegando às quatro e meia da tarde, eu não faço nenhum esforço para resistir. Simplesmente me entrego aos deleites da acolhedora vida doméstica. Por questões da minha vida pessoal, este ano estou ainda mais recolhida.
Mais em sintonia com o frio, estou curtindo muito as festas e a espera pelas comemorações do Solstício de inverno.
Esta quinta foi o Thanksgiving. Um casal de amigos queridos, ela Brasileira-Americana, ele Americano, nos convidaram para a ceia deles. Fomos bem felizes, e levamos um prato tradicional de vagem com cogumelos e minha primeira torta de abóbora. Foi um sucesso e a comilança estava inesquecível, mesmo para uma vegetariana como eu, que não partilha do tradicionalíssimo peru.
Nosso sobrinho de 16 anos está passando uns meses conosco e indo à escola aqui. Como é a primeira vez dele nos EUA, temos feito todas as coisas que a cidade oferece. Semana passada fomos ver o Mickey Mouse acender as luzes de fim de ano da avenida Michigan, a Magnificent Mile de Chicago. Nesta sexta, aproveitamos o feriado para irmos à abertura da feirinha alemã que tem em downtown todos os anos.

Esta foto ficou ótima, mostrando a feirinha, a escultura do Picasso na Daley Plaza, e o Daley Center, o prédio do fórum da cidade, onde o Obama tem conduzido suas reuniões e trabalhado na transição do governo.

Aqui estou eu e o sobrinho, Bernardo, na frente da árvore da cidade. Claro que com flash, não dá pra ver a árvore...


Embora eu não celebre o Natal (muito menos com o nome de Christmas) pois não sou Cristã, eu A-MO os festivais de fim de ano, e faço muito gosto de festejar o solstício de inverno com tudo que tenho direito. Não passo sem uma árvore de Yule, bem pagã, cheia de fadinhas. Esta deste ano é pequena e não é natural, mas é meu orgulho do momento:




Eu também adoro as musiquinhas, os carols. Muitas delas mencionam as tradições religiosas dominantes, but I don't care. Tem uma rádio aqui que toca essas musiquinhas direto, 24 horas por dia, 7 dias por semana. E eu escuto, bem feliz no carro, sozinha, para não causar desespero no meu marido.
É realmente perfeito passar esta época aqui. Faz todo o sentido celebrar o Papai Noel no frio, mas quando chega o 31 de Dezembro, começa, sem falta, o meu desespero. Porque não há lugar melhor no mundo para passar o ano novo do que na minha querida pátria, o meu amado Brasil.

sábado, 22 de novembro de 2008

por inteiro

Se na vida a gente pode adiar decisões e deixar que os fatos escolham por nós, no palco não temos esta opção.
Ali toda atenção é pouca. A presença integral dos sentidos é condição obrigatória, temos que estar preparados para qualquer resposta imediata a tudo que acontece. Estar a frente de uma platéia, ao vivo, é um convite para o inesperado.
E nosso compromisso com o 'ensemble', o grupo - como os americanos chamam - é ajudar uns aos outros a nos sairmos todos bem. We help each other look good.
Tem um lance de confiança que rola. Confiança que se alguém esquece ou troca alguma coisa, todo mundo ajuda a retomar o curso do que precisa ser feito.
Também há a segurança de que, no final das contas, a história é nossa! Nós que estamos contando, portanto podemos fazer adaptações necessárias caso haja algum acidente de percurso.
Quinta-feira fiz duas apresentações seguidas de Quiltmaker's. Tivemos pequenos probleminhas nas duas, texto trocado, figurino esquecido... E nas duas tudo se resolveu e chegamos ao fim como se nada tivesse acontecido - ao menos para quem estava assistindo.
Para a platéia que não sabe o que esperar minuto a minuto, tudo é parte do espetáculo, e se não deixarmos transparecer nenhum desespero e, graciosamente, procedermos nas correções e soluções, tudo fica bem.
A maior prova disso eu tive anos atrás numa peça chamada Blade. A luz apagou durante um monólogo da minha personagem. Eu vi a luz indo... e, mesmo em pânico, segui falando. Quando fiquei na absoluta escuridão, não tive como não ficar reticente, dei uma pausa, que deve ter sido de dois segundos, quando a luz voltou e pude retomar e concluir.
Pós show, conversando com uma espectatora e um colega, eu comentei do blecaute acidental, e ela disse ter achado que era parte do espetáculo. Ela entendeu que aquilo significava que a minha história continuava além do que eu estava falando e, como se fosse um corte de cinema, indicava uma passagem de tempo, retomando quando eu concluía meu argumento.
Mesmo quando estamos calados em cena, temos de estar presentes, e ativos! Não dá pra ficar fazendo a lista de supermercado, recapitulando o problema com a companhia elétrica, ou além de correr o risco de perder uma deixa, perdemos o pique da nossa energia. Ao removermos nossa atenção dos acontecimentos, abrimos uma brecha para a platéia remover a deles.
O prazer e comprometimento do ator são as atitudes que mais auxiliam a transportar quem nos vê para dentro da peça, e atingir a tão fantástica suspension of disbelief, quando a descrença dá lugar a fantasia e o público embarca por inteiro no nosso universo.

sábado, 15 de novembro de 2008

janeiro de 2009

Não sou de repassar piadas e coisas do gênero, mas acabei de receber esta de uma grande amiga e traduzi com urgência para compartilhar aqui.

Num dia ensolarado de Janeiro 2009

Um senhor idoso se aproxima da Casa Branca atravessando a Pennsylvania Avenue onde ele estava sentado num banco de parque.
Ele se dirige ao U.S. Marine que está de guarda e diz:"Eu gostaria de entrar e falar com o presidente Bush." O Marine olhou pro homem e disse, "Meu senhor, o Sr. Bush não é mais o presidente e não mora mais aqui.". O homem disse, "okay" , e foi embora.
No dia seguinte, o mesmo homem se aproxima da Casa Branca e diz ao mesmo Marine: "Eu gostaria de entrar e falar com o presidente Bush." O Marine, novamente, diz ao homem, "Senhor, como eu disse ontem, o Sr. Bush não é mais o presidente e não mora mais aqui." O homem agradeceu novamente e foi embora.
No terceiro dia, o mesmo homem se aproximou da Casa Branca e falou com o exato mesmo U.S. Marine, dizendo "Eu gostaria de entrar e falar com o presidente Bush." O Marine, um tanto incomodado a esta altura, olhou para o homem e disse, "Sr., este é o terceiro dia seguido que vem aqui pedindo para falar com o Sr. Bush. Eu já lhe disse que o Sr. Bush não é mais o presidente e não mora mais aqui. Não dá pra entender?"
O homem de idade olhou para o Marine e disse, "Ah, eu entendo. É que estou adorando ouvir isso." O Marine, alerta, bate continência e diz, "Então até amanhã, Senhor."

fazendo a corte

Eu sou representada por duas agências de talento. Uma delas me manda sempre pra testes para papéis de latina.
A parte engraçada de fazer comerciais é que todo mundo esperando o teste tem a minha cara, ou meu tipo físico. Exceto que, em geral, eu sou mais clara e tenho sotaque falando espanhol, o que dificulta muito eles me encaixarem. De fato, por mais que eu tente, eu não passo por mexicana.
Fazendo auditions, eu conheço gente. Duas delas se tornaram amigas e as duas fazem parte do Teatro Luna.
Teatro Luna é uma companhia formada exclusivamente por mulheres latinas e que apresenta apenas trabalhos originais de cunho autobiográfico, ou seja, falando da experiência de ser latina, viver esta cultura estrangeira dentro dos Estados Unidos. A companhia é super amada pela crítica, já vi dois espetáculos e realmente elas são ótimas e os trabalhos super contundentes, ao ponto.
Estava eu na sala de espera de uma audition para um comercial da companhia elétrica. Queriam uma latina bem espevitada mas cheia de estilo fazendo papel de hair stylist para lançar uma lâmpada que economiza energia. Esperávamos ansiosas eu e várias outras com meu tipo físico, exceto por uma bem gordinha. Eu reparei nela e, confesso meu preconceito, pensei comigo que aquela atriz estava meio fora de lugar naquela sala.
Depois dali, parei no café de uma livraria, num outro bairro, para almoçar. E foi neste café, que esta mesma atriz chegou na minha mesa.
Tanya Saracho disse que tinha me visto na audition e que, dada a coicidência de me ver de novo no mesmo dia, não resistiu. Perguntou se eu era atriz latina, se falava espanhol e me deu o cartão da companhia de teatro dela, Teatro Luna. Fiquei boba. Pela inusitada seqüência dos acontecimentos pela simpatia e abertura dela, e de ser ela a minha brecha na porta de entrada para uma companhia que eu admiro pra caralho.
Ali começou nossa amizade.
Tanya também escreve para teatro. Esta temporada tem três textos dela sendo montados na cidade.
Quinta-feira fui ver Jarred, atualmente em cartaz com o próprio Teatro Luna. Curti muito. Foi bom ver as meninas, agora já conheço várias.
Estou numa fase de namoro com o Luna e também com o Teatro Vista, outra companhia latina em Chicago. Já fiz alguns testes nas duas, e espero que, em breve, eu tenha a minha chance de trabalhar com essas pessoas com quem compartilho tanto da minha cultura e do meu ponto de vista.
Ver o sucesso da Tanya atuando e escrevendo me estimula a escrever também. É uma merda que me falte tanta disciplina para tocar meus projetos.
E, pra dar um tom de anedota a essa história, foi justamente a Tanya quem pegou o trabalho do comercial da companhia elétrica.
Taí uma bela lição.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

o blog dos outros

Ser mencionada por outros, pra mim, é sempre um pequeno choque.
Acho muito divertido quando alguém aprecia algo que escrevi e decide citar no seu blog, como foi o caso de Miguel Cavalcanti que bloga sobre o Obama e menciona meu texto emotivo sobre a eleição.
Me sinto honrada quando alguém que admiro, ou para quem trabalhei, me faz um elogio aberto em um espaço seu. Assim fez Anne Phelan, a autora de "The Tale of the Duck" cuja leitura dramática eu fiz no lançamento de uma revista literária. Anne bloga sobre o evento da Conclave e fala bem de mim com foto e tudo.
Mas de todas as surpresas, a maior veio do blog de uma atriz do Rio de Janeiro.
Quando eu comecei a Green Room , desde o início, meu intento foi conectar com outros atores e atrizes brasileiros. Sinto uma falta enorme de usar a minha língua mãe e trabalhar na minha cultura. Achei que, ao menos assim, eu poderia me sentir mais inserida neste universo, achando outras almas que também utilizassem o ciberespaço para falar das suas experiências e compartilhar suas emoções - em português.
Portanto, me vi, desde logo, numa cruzada em busca destas pessoas. Como o Blogger não tem um diretório (ou pelo não consegui encontrar um, se alguém souber, por favor me avise!), fui utilizando as ferramentas do perfil. Clicava nas palavrinhas dos meus interesses, cliquei sobre atriz, e fui achando alguns blogs, e estes me levaram a outros. Fui separando o que eu gostava, lendo e comentando.
Mal sabia eu que, o que pra mim era um processo natural de busca, podia causar no outro a sensação de que eu apareci do nada neste espaço privado/público. Também não pensei que minha atitude (ou ousadia) de ir comentando posts poderia afetar tanto o autor dos textos.
A autora desse blog, dedicou um post inteiro a uma "leitora desconhecida".
Fui ler como de costume, e de repente me vejo ali, refletida, quase nua! exposta! E com uma pitada de orgulho e outra de bobeira, cheguei até o final com um sorriso enorme na cara.
Era eu a encherida que apareceu do nada, cujos comentários tornaram-se importantes e fizeram diferença na vida da autora.
Eu acho que blogs podem ser um exercício bem além do narcisismo, podem ser uma ferramenta de formar comunidades, de networking e de se conhecer pessoas incríveis. Blogs permitem ver bem mais a fundo do que uma página de orkut, myspace ou outra engenhoca social.
Estou com a sensação feliz de que minhas pequenas iniciativas em conectar com pessoas estão começando a dar resultado.

domingo, 9 de novembro de 2008

a platéia e o amor


Desde pequena eu tenho verdadeira adoração pelo teatro. Assistir peças infantis eram ocasiões especiais.
Como morava no interior do Rio Grande do Sul durante boa parte da minha infância, eu assistia espetáculos principalmente quando ia visitar meus avós em Porto Alegre. Quando maiorzinha, eu mesma lia no jornal as sinopses e escolhia qual eu queria ver. Eu me arrumava, botava vestido, meia-calça, tiara no cabelo e lá íamos nós, eu e minha mãe - ás vezes com meu irmão menor - ver as tradicionais sessões das quatro da tarde em fim de semana.
Além da peça em si, eu também amava quando os atores iam para o lobby para conversar e dar tchau pras crianças. Eu colecionava cartazes das peças e pegava autógrafos na saída. Eu sabia os nomes dos atores que eu gostava e os reconhecia na listagem da agenda cultural do jornal.
Dado meu histórico, talvez eu não devesse ter ficado tão surpresa com o tamanho da minha felicidade ao estrear "The Quiltmaker's Gift" esta semana para um público de 115 crianças de jardim de infância.
Confesso que eu estava super nervosa. Toda minha experiência era com teatro adulto, e eu não tinha idéia de como ia ser.
Do camarim, ouvimos a chegada da molecada como uma avalanche que ruidosamente tomou conta das cadeiras. No prólogo, quando duas atrizes interagiam com eles fazendo brincadeiras e explicando o que iria acontecer ali, meu coração comecou a derreter ouvindo as vozinhas que respondiam "Hi Jill" em unísssono, ou gargalhavam daquela forma gostosa que só criança sabe fazer.
Eles são um público muito direto. Você sente de imediato quando começa a perder a atenção da sua platéia, o que requer medidas imediatas de variação de tom e ritmo.
As palmas no final, com todos os pares de olhinhos e sorrisos voltados pra nós, me trouxeram uma satisfação que eu ainda não tinha sentido nesta minha experiência como artista.
Depois dos aplausos, nós atores corremos para o lobby para a despedida. Me vi então do outro lado da experiência que eu tanto apreciava quando pequena.
As turmas da escola iam se organizando em filas, e passavam por nós abanando, dizendo thank you , fazendo high five ou, melhor de tudo, abraçando a gente.
Fiquei super emocionada, e ainda estou agora, revivendo a memória daquele momento.
O carinho deste público não se disfarça, não é distorcido por ego ou por críticas, é um puro e simples gostei ou não gostei. E quando eles expressaram este carinho, este amor me tomou de assalto. Eu geralmente termino um espetáculo super ligada, energizada, plena, mas nunca tinha me sentido tão amada ao final da minha missão cumprida.
Eu nunca tinha pensado em fazer teatro infantil, mas neste momento, posso dizer que talvez esta tenha sido a mais completa de todas as minhas experiências num palco até hoje. Estou descobrindo que gente pequena pode ser a platéia mais generosa que existe.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

tudo pode acontecer


Sim eu moro em Chicago. Sim eu conheço muito bem o Grant Park. Sim eu acordei feliz demais por Barack Hussein Obama ser o novo presidente do país. Mas não, eu não fui pra downtown pra ver o discurso da vitória ontem.
A gente não tinha ingresso pra entrar no parque e ficar mais perto. No fim preferimos ficar chorando de emoção em casa do que tentar vencer as multidões só pra ver o Obama num telão.
A vitória aqui, apesar de reunir o povo, não teve festa como no Brasil. Não tem banda tocando e celebração regada à cerveja, mas também não tem violência. É tudo muito bem comportado.
Eu tava grudada na TV desde às seis da tarde acompanhando toda a apuração. A vitória projetada inquestionável foi anunciada às 11 e o discurso veio um tempo depois disso.
Chorei muito em frente à TV. Chorei porque hoje, depois de mais de sete anos, tenho orgulho de morar neste país. Chorei porque me emocionei com a capacidade humana de evoluir sua consciência. Chorei por ver nesta vitória a demonstração de uma possibilidade linda de união entre raças e aceitação das diferenças.
Chicago tem curtido um veranico desde o início do mês, inacreditável pra esta época do ano. Temos tido dias claros e temperatura chegando aos 25 graus, quando em geral a temperatura média é de 5c.
Este verãozinho contribuiu pra este clima geral de esperança e alegria. A cidade hoje respira aliviada, não peguei ninguém na rua falando em política. Há uma satisfação geral no ar. O povo na rua, com cachorro, carrinho de bebê, tomando café nas calçadas. Relaxando e aproveitando este momento que de mágico, passou a concreto; da fantasia, para uma realidade que se estabelece em definitivo na casa branca dia 20 de janeiro.
Como o texto que rolou hoje na internet do Michael Moore, eu também quase estou pedindo pra alguém me beliscar.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

almas decaídas


Este fim de semana me chamaram de última hora pra filmar as externas do "Fallen Souls", um thriller sobrenatural que estou fazendo este ano.
Estou envolvida com o filme já desde 2006. É um projeto ambicioso, de roteiro comercial, mas com orçamento mega baixo de filme bem independente. A sorte foi que este ano, várias pessoas se apaixonaram e adotaram o filme, fazendo o projeto sair do papel com tremenda qualidade.

Entre quem aposta em Fallen Souls, está Steven Hiller, um diretor de fotografia que alia aos seus cabelos brancos uma filmografia bem respeitável em Hollywood.
O pessoal que tá fazendo a luz também tem café no bule, é o mesmo crew que iluminou o Dark Knight (o último filme do Batman) que foi feito em Chicago.
As filmagens começaram em julho, e acabo de saber que as cenas internas que fiz terão de ser refeitas porque deu um problema sério no material (o que quase causou um ataque cardíaco no diretor). Então mais paciência... Volto a filmar em Dezembro para concluir minha participação.
Aqui estou eu, Terrance e a cadeira sensacional que é parte do set da minha personagem. Ele faz um dos demônios, e eu uma arcanja. Como dá pra notar, eles me envelhecem um bocado para o papel. Se isso for alguma indicação do meu futuro, posso ficar tranquila, vou envelhecer graciosamente. ;)

sábado, 1 de novembro de 2008

halloween


Há anos a gente não ia a uma festa de Halloween, então ontem decidimos caprichar. Como não sou muito boa em pensar fantasias engraçadinhas, e por gostar decididamente do clima mais macabro da estação, escolhi uma linha mais Tim Burton para o meu look.
Vejam o detalhe da nossa gata preta, Morgana, posando ao fundo. ;)

A temperatura estava agradabilíssima ontem, tipo 15 graus à noite. E depois do trick or treating das crianças, a noite pertence aos adultos. No caminho da festa vimos muita gente fantasiada na rua, um barato! E precisamos parar num supermercado pra pegar um six-pack de cerveja pra levar. Nada de assombros, o supermercado também estava cheio de outros seres esquisitos fazendo o mesmo. Mas, realmente, eu e meu maridão fizemos sucesso na rua e na festa. Ele estava lindo de noivo-cadáver, com sangue nos dentes e rosnando - um partidão! ;)



Delícia brincar de dress-up.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

um par de sapatilhas

Hoje comprei um par de sapatilhas de ballet. Eu não botava uma sapatilha no pé desde os meus seis anos de idade, quando eu e todas as minhas amigas ficávamos alinhadas, mão na barra da escola de dança, saia de tule cor-de-rosa e cabelo puxado para trás, aprendendo a fazer pliê.
Ontem à noite foi o último ensaio no estúdio da Moving Dock para o Quiltmaker's Gift. Semana que vem começam os ensaios técnicos no teatro e a gente estréia na quinta dia 6..
No espetáculo, os atores são contadores de histórias que vão se transformando nos diferentes personagens. E estas transformações ocorrem na frente da platéia. Além da narrativa é tudo movimento; meio dança, meio teatro. Por causa disso, e como a roupa básica do show é toda preta (sobre a qual colocamos variados adereços), precisei comprar as tais sapatilhas. Pé no chão não tava dando e sapato normal não contribui pra fluidez que queremos passar.
Ontem mesmo um colega estava comentando que quando alguém perguntou pra ele se ele era um dancer (bailarino), ele respondeu que não, mas que era um mover (movimentador).
Por mais que eu não tenha treinamento em dança e sempre tenha detestado educação física, acabei me achando justamente no teatro físico, que usa o corpo e o movimento como parte integral - ou até principal - do processo de contar uma história.
Já fiz várias aulas que preparam para este tipo de teatro, como artes circenses, máscara neutra e dança moderna. Hoje sinto que posso dizer também que não sou bailarina, mas sou sim uma mover. E agora, com passinhos ainda mais leves e suaves, nas minhas novas sapatilhas pretas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

bode na garganta

Descobri a Yael Naim por causa da propaganda do MacBook Air. Achei a música "New Soul" tão gracinha, que não resisti e fui descobrir de quem era.
Quando achei o CD da moça, comprei na hora. Adorei todo o disco. Intrigante ela cantar em hebraico, inglês e francês. Os arranjos são super modernos misturados com instrumentos muito tradicionais, como o acordeon.
Especialmente adoro a versão que ela fez para "Toxic", uma música, pasmem, de Britney Spears.
O disco que foi gravado em dois anos, dentro do apartamentinho dela em Paris, supreendeu seus criadores (Yael e o parceiro David Donatien) no resultado e os levou para o mundo. Ela está na sua primeira turnê nos EUA e tive a sorte de poder vê-la uns dias atrás.
O House of Blues estava cheio, mas não lotado. Ela parecia tensa nas primeiras músicas, mas assim que soltou o cabelo e relaxou, aconteceu uma coisa muito inesperada. Yael Naim, estava com o famoso "bichinho do ranrran", que ela descreveu como um "bode dentro da garganta".
Ela parou no meio da música e não tinha mais jeito. Ela pediu chá, deitou no palco, até que alguém da platéia trouxe pra ela uma bala de menta, que pelo visto ajudou.
A gente estava na primeira fila e pode acompanhar todo o desespero dela e da banda. E também a carranquice do David Donatien que pelo visto é patrão da Yael e não foi nada simpático no episódio todo.
Ela terminou o show, que foi super curto e voltou para apenas uma música no bis.
Foi interessante presenciar o ocorrido. Ela em choque porque isso nunca tinha acontecido antes, mas tentando ser graciosa com seu público. O David, furioso... A platéia ajudando trazendo a bala de menta...
Me dei conta que enquanto platéia a gente torce pelos nossos ídolos. A gente torce por quem está lá, pra que dê tudo certo. Eu nunca tinha realizado de forma tão clara o quanto o público também está investido numa performance. Este sem dúvida é um sentimento confortante para quem está num palco.
Mesmo com problema na garganta e tudo, o show valeu. E continuo amando Yael Naim, que conheci graças a Apple e seu bom gosto para trilha sonora de campanhas.
CSS, a banda brasileira Cansei de Ser Sexy, também estourou aqui por ter "Music is my hot sex" como trilha da campanha do I-Pod Touch. Também descobri CSS por causa disso, embora não ame CSS a ponto de ir no show que vão fazer daqui uns dias aqui no Metro. Mas meu sobrinho de 15 anos vai.
E você? Teve alguma banda ou artista que descobriu - e caiu de amores - por causa de um comercial ou um filme?

domingo, 26 de outubro de 2008

herança eleitoral

Normalmente eu sou ligada no que está acontecendo no Brasil. Eu assisto Jornal Nacional, Jornal da Globo (via Globo Internacional) e confiro alguma coisa na internet. No entanto, às vezes eu me perco legal em datas e grandes eventos.
Este fim de semana é uma dessas vezes, eu só descobri que já era o dia da eleição de segundo turno para prefeito quando abri a internet.
Bateu a minha "gauchice" e fui correndo ao site da Zero Hora pra saber das últimas. Além disso, cliquei no link irresistível para a cobertura ao vivo da TVCOM que estou acompanhando agora enquanto escrevo.
É divertido ver alguns dos meus antigos colegas, firmes e sérios, dedicando seu fim de semana às suas funções de comunicadores.
Lembrei direto da cobertura que trabalhei para a TVCOM (canal a cabo da RBSTV no Rio Grande do Sul) nas eleições de governador. Mesmo sendo repórter de cultura, fui chamada para auxiliar o hardnews normalmente naquele fim de semana que elegeu Olivio Dutra (PT) para o governo do RS. Acho até que apresentei algumas chamadas, de terninho e tudo. Sempre me senti meio peixe fora d'agua nessas circunstâncias, mas estava ali para ajudar.
No fim do domingo, eu tinha tanta dor de cabeça que tomei duas neosaldinas. E depois de subir correndo duas vezes os quatro lances de escadas do, então, novo estúdio da TVCOM, eu comecei a ter uma coceira insuportável por todo o corpo e minhas mãos começaram a inchar.
Eu estava tendo uma reação alérgica à Neosaldina, e me fui, solita, dirigindo pro pronto socorro. Depois de duas injeções dolorosas, principalmente ao meu orgulho, fui liberada para ir pra casa, mas até hoje tenho que ficar longe do famigerado composto farmacêutico chamado dipirona.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

aquém das expectativas

Tem dois filmes brasileiros passando no Chicago International Film Festival. “Desafinados”, de Walter Lima Jr, e “A Festa da Menina Morta”, de Matheus Nachtergaele. Com saudades de ver um filme nacional e por admirar muito o trabalho do Matheus como ator, convidamos um casal de amigos americanos pra assistir Menina Morta. Ele é professor de ciência política aposentado, ela é pró-reitora do departamento de sociologia da DePaul. Também foi conosco uma amiga deles, uma socióloga brasileira que agora trabalha na França, Lícia Valladares.
Por dois terços da película estava tudo bem. Eu tinha embarcado na jornada, estava ali em Barcelos com aquela gente, cativada pela atmosfera, mitologia e disfunção das relações das pessoas do lugar , mas seguia esperando a grande virada ou revelação prometida na sinopse publicada na programação do festival. E elas nunca vieram. Nada muda. Nada altera.
Cada novo elemento introduzido acende uma possibilidade de um desfecho, mas pára por ali. Não concretiza. A mãe desaparecida do Santinho (Daniel de Oliveira) aparece, deixando-o perturbado, mas só isso. Uma menina de repente se junta à procissão - será ela a Menina Morta, que na verdade está viva? Santinho não recebe revelações da Menina neste ano - será que ele finalmente será desmascarado como fraude? O irmão da Menina não quer cooperar com a festa, decide que não vai acompanhar Santinho como de costume, mas vai. E a relação incestuosa do pai com o filho? Será descoberta trazendo conseqüências? Claro que não.


O filme em si também falha em explicar vários acontecimentos, importantes para entender a história que só ficam claros se o espectador leu a sinopse antes de sentar pra assistir.
Fiquei muito perturbada com a matança de animais - especialmente quando eles sangram uma galinha ainda viva -, e com o uso freqüente da câmera na mão, chacoalhando a imagem vertiginosamente na tela do cinema, causando enjôo a ponto de eu precisar fechar os olhos.
Fiquei impressionada pela dificuldade de achar online alguma crítica ao filme em português. E em inglês, a única que encontrei saiu logo depois de Cannes, na Variety, chamando o filme de auto-indulgente.
Fiquei sabendo que A Festa da Menina Morta ganhou dois prêmios importantes no Festival do Rio. Infelizmente não entendo o porquê. O filme não acrescenta, o que é sim uma pena.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

tortillas e arte

Este fim de semana passado, também como parte do Chicago Artists Month, teve o Pilsen Art Walk. Pilsen, um bairro mexicano super colorido e famoso por seus murais, além de ser super família, virou também um reduto de artistas plásticos na cidade. Três amigas minhas brasileiras dividem um estudio lá, o Arthouse.
A exposição delas estava linda. Especialmente o "White Garden" que Patrícia Peixoto e Magda DeJosé fizeram. Era uma coleção de quatro cubos de acrílico, cada uma com um olho mágico instalado pra poder bisbilhotar a cena montada dentro. Sensacional!
O público do estúdio curtindo o White Garden

Foto de dentro de uma das caixas. Não foi fácil fazer a foto, pois câmera nenhuma conseguia fazer o foco através do diminuto olho mágico. Magda usou a câmera do telefone celular que tinha a lente do tamanho do buraquinho da caixa.

Aí estão as duas, Magda e Patty felizes à janela. :)

As fotos são das duas. Tem mais no blog da Patty: http://pattyartsblog.blogspot.com/

terça-feira, 21 de outubro de 2008

corpo que trai




"The Tale of the Duck", a leitura dramática que eu fiz no lançamento da revista literária Conclave foi bem. O evento tinha bastante gente, a livraria The Book Cellar é um barato (já adotei e quero voltar lá milhares de vezes) e meu trabalho foi bem recebido.
Era uma leitura longa, cinco páginas direto, com bastante comédia, mas também sofrimento. A autora do texto, Anne Phelan, estava lá e a presença dela adicionou um tanto mais de pressão nas minhas próprias expectativas.
O que aconteceu, que eu não esperava, é que eu fiquei nervosa. Demais. Nunca tinha me acontecido uma coisa assim antes.
Eu fico com borboletas na barriga sempre antes de entrar no palco, mas assim que começo a falar, tudo fica bem. Desta vez não. Não sei se tinha a ver com estar lendo... Ter o papel a princípio poderia me acalmar, não tinha como esquecer texto, etc. Estava ali, eu tinha esta bengala pra me segurar. Mas... pelo contrário, todas as vezes que eu tirava os olhos do papel, é onde eu encontrava meu centro.
Outra coisa é que o texto é meio tipo comédia stand-up, eu não falo para um outro personagem, mas sim com o público, e acho que isso me desestruturou um pouco, pois tinha muita gente de pé, e mesmo sem querer, eu encontrava os olhos das pessoas.
Mesmo tendo já feito centenas de audições, onde todos os olhos estão fixos em mim, na frente de uma sala, subitamente, me senti só, e sob o escrutínio de todos. Resultado, o papel na minha mão, vira e mexe tremia. E eu via isso acontecer, e ficava tentando achar um jeito de parar. Zilhões de coisas passavam pela minha cabeça enquanto eu continuava a leitura, firme e certa até o final - exceto pela minha mão que de vez em quando me traía.
No fim, eu me senti meio mal. Foi um alívio quando terminou. Virei um copo de vinho quase inteiro pra afogar meu pânico. Mas aí, quando eu vi, as pessoas estavam ao meu redor, elogiando, dizendo como foi ótimo.
A própria Anne, que estava sentada do meu lado, pediu meu cartão. Ela estava encantada, disse ter sido a primeira vez que ouviu o texto interpretado por alguém, e que eu tinha achado direitinho os pontos todos das emoções, onde tinha comédia, sarcarsmo, onde tinha dor, onde ela fugia da dor... etc. Ela inclusive disse que se eu viesse a mudar pra New York, para procurá-la, pois ela sempre precisa de atores competentes para as peças dela - e me deu seu cartão também.
Pra onde eu olhava, tinha alguém chegando pra me cumprimentar e dizer o quanto tinha adorado minha leitura.
Então talvez o que me grilou tanto, as pessoas nem deram bola, ou nem notaram tanto assim. Eu estou até agora tentando analisar que diabo que me deu.

domingo, 19 de outubro de 2008

prazeres inesperados


Este fim de semana está sendo super artístico. Começando na quinta-feira quando fui assitir a preview de "Militant Language", com o Halcyon Theatre. Foi com este grupo que eu fiz "Henry IV" este ano, e por isso fui convidada para esta pré-estréia.
A peça é sobre o Iraque, retratando um episódio fictício mostrando a guerra do ponto de vista dos soldados americanos que estão lá. Eu estava muito receosa com o tema, já que parece meio oportunista, mas devo dizer que me surpreendi muito.
O texto é de Sean Christopher Lewis e está tendo uma estréia nacional simultânea em Chicago, Columbus, Cleveland, Cincinatti, Seattle e NYC. O texto e as performances me afetaram de forma visceral e fui transportada pro deserto, pros questionamentos, pros medos e abusos causados por esses soldados.
No meio da guerra, o texto é recheado de conteúdo sexual e toca no tabu do homossexualismo no exército. Teve um momento de nudez masculina, que me deixou bem desconfortável, apesar de ser rápido e contribuir na forma que a história foi contada. Acho muito legal quando a arte consegue deixar a platéia sem jeito.
O Halcyon está alugando um espaço comercial que transformaram em teatro. Achei bem precário e mal construído - o velho problema da falta de grana. Felizmente, na magia do teatro, a qualidade da perfomance faz a gente esquecer onde se está.
Sexta fui ver um show de KD Lang. Ela é conhecida por ser uma cantora country lésbica do Canadá. :) E ela é ótima!
Grecco Buratto, amigo de infância do meu marido e guitarrista extraordinaire, está tocando na tour de KD. Eu não conhecia o trabalho dela, mas a convite do Grecco ganhamos lugares na sexta fileira do magnífico e suntuoso Chicago Theater e passes para o backstage após o show. Fiquei fascinada. Ela é bem humorada, tem uma voz inacreditável e uma super presença de palco.
Vestida bem masculina, com calça risca de giz, camisa de abotoadura, colete, lenço amarrado no colarinho, e pés descalços ela agradeceu Chicago pelo seu último export, fazendo uma clara referência a Barack Obama, que mora aqui.
A música é de uma qualidade inquestionável. Não sei se o Brasil já descobriu a KD. Ela veio do country, mas há anos seu repertório já inclui jazz e pop, o que abre o trabalho dela para um público bem maior. Delícia conhecer uma artista assim!

Ontem à noite foi minha leitura dramática no lançamento da revista literária Conclave. Foi bem, mas ainda estou processando alguns acontecimentos, e isso merece um post em separado.
Hoje tem a exposição de algumas amigas artistas plásticas como parte do Chicago Artist's Month, e à noite vamos assistir "A festa da menina morta", filme do Matheus Nachtergaele que é parte do International Film Festival - que também está rolando na cidade. Estou tão empolgada pra ver esse filme, I can't wait!
Outubro é um mês lotado de acontecimentos culturais em Chicago, vou me puxar pra atualizar o blog mais constantemente mesmo em meio a todos estes eventos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sunday, Bloody Mary Sunday

Quando a gente sabe que o frio não tarda, a gente se deleita com cada dia em que ele não vem. Este fim de semana foi praticamente de verão. Muito sol, temperatura nos 25 graus e o povo todo na rua aproveitando. No entanto, as folhas amarelas e vermelhas despencando das árvores e as decorações de Halloween que assolam as portas, jardins e janelas não nos deixam esquecer que isso é apenas uma benção antes do horror que vem.
Domingo foi dia de brunch com o pessoal que fez "Camino Real" comigo. Esta é uma peça bem controversa do Tennessee Williams. Tão controversa que tivemos críticas bem opostas na mídia.
Ela é montada muito raramente porque parece o samba do crioulo doido. Se passa em alguma república das bananas, onde falta água e vários personagens históricos ou da literatura se misturam com os locais à espera de uma salvação que vem do ar, num dirigível chamado "el fugitivo". Eu fazia a dama das camélias Marguerite Gautier e também uma das pessoas pobres de rua.
O mais legal foram as amizades que ficaram depois da conclusão desse projeto.
Teatro é sempre estranho pra mim. A gente convive intensa e intimamente com um grupo de pessoas por umas seis semanas de ensaios, mais seis em cartaz, e era isso. Raras são as ocasiões em que amizades permanecem além do período de apresentações.
Mas com essa turma do Camino foi diferente. A gente vira e mexe tem festas juntos, ou sai pra tomar um brunch dominical falando muita bobagem ao sabor de Mimosas e Bloody Marys.


Nesta foto, estamos eu, Stacy e Lila tentando vender tranqueiras ou esperando esmolas dos turistas ricos do lugar.

domingo, 12 de outubro de 2008

Retalhos de um ensaio


Ontem foi um dia intenso de ensaio para o Quiltmaker's Gift, a peça infantil baseada no livro de mesmo nome que estou ensaiando com a companhia The Moving Dock.
Quilt é a colcha de retalhos tradicional americana. Aliás, poucas coisas são tão representativas da expressão folk americana do que um quilt. Eles são muitas vezes temáticos e vários passam de geração em geração em uma família.
A Moving Dock trabalha muito com movimento, e as histórias e cenas surgem dos exercícios exploratórios que os atores fazem, através do corpo e do gesto. Sempre tem muito pouco texto, e muito, mas muito movimento nos espetáculos dela.

Esta é a terceira vez que trabalho com esta companhia, mas minha primeira fazendo um espetáculo para o público infantil.

Nesta cena que estamos trabalhando, a Quiltmaker (fazedora de quilts) tem um flashback, mostrando como ela aprendeu a costurar quando jovem, rica e infeliz (eu).

Quando ela aprende a costurar, descobre sua missão, deixa tudo para trás e vai viver numa casinha na montanha costurando colchas lindas que ela jamais vende, apenas dá de presente para quem é muito necessitado.


Na cena estamos eu (jovem Quiltmaker), a Quiltmaker e a minha professora de costura.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

meu grande encontro

Com mais de 150 teatros, 200 companhias, a maior escola de improv (teatro e comédia de improviso) dos Estados Unidos, grandes companhias de renome mundial e pelo menos três escolas de cinema, de fato, Chicago é um ótimo lugar pra ser ator.
É daqui a Second City, a escola de Improv de onde vieram Bill Murray e quase todos os atores do Saturday Night Live. É aqui a casa do Steppenwolf Theatre, companhia de teatro de ensemble fundada por John Malkovich entre outros, do Chicago Shakespeare Theatre - que é premiado até por ingleses, do Goodman e do Lookinglass.
Em termos de treinamento, há várias escolas independentes e pelo menos cinco grandes universidades com departamento de teatro. Três faculdades de cinema (Columbia, Art Institute e Northwestern) têm produções constantes de filmes dos estudantes, proporcionando assim um rico espaço para aprendizado de todos os envolvidos, atores, diretores e equipe.
No centro, há quatro teatros que oferecem o que eles chamam de "Broadway in Chicago". Muitos musicais ficam mesmo residentes na cidade por meses a fio, como é o caso de Wicked, que tem desde 2005 um elenco local e o mesmo sucesso de Nova York. Outros fazem sua estréia aqui, como mercado teste antes de levarem o show para a Big Apple.
Mas a cidade é feita mesmo de seus teatros pequenos. Qualquer sala escura onde caiba um palco e pelo menos 40 lugares, vira espaço de performance. Com tantas companhias independentes, é fácil conseguir trabalho e adquirir experiência.
Além dos profisisonais e companhias ligados ao sindicato, aqui também se faz muito teatro profissional não sindicalizado. É por isso que tantos atores vêm primeiro pra cá, antes de se decidirem por batalhar um lugar ao sol na costa leste ou oeste - Nova York ou Los Angeles.
Eu não sabia de nada disso quando decidi estudar teatro aqui.
Desde menina eu sempre quis ser atriz, e artes cênicas foi o resultado de um teste vocacional que eu fiz antes da faculdade. Mas, pelo visto, naquele momento eu não estava pronta pra encarar o desafio de ser artista num país em desenvolvimento. Optei por jornalismo e, dentro dele, televisão.
Tive a benção de trabalhar sempre com cultura, cobrindo música, dança, fotografia, artes plásticas, cinema e, é claro, teatro. Por mais que eu sempre tivesse profunda admiração por todos os artistas que tive o prazer de entrevistar, eu sempre tinha uma pontada no estômago quando entrevistava atores e atrizes. Uma pontada de inveja. Da grossa. Eu queria mesmo era estar do outro lado da entrevista.
Cada matéria que eu fazia com profissionais anunciando seus workshops e cursos, eu prometia pra mim mesma que iria me inscrever e participar. Mas, óbvio, nunca dava. Jornalismo é uma profissão de dedicação integral.
No entanto, eu não conseguia ficar longe das artes dramáticas, que insistiam em aparecer misteriosamente no meu destino. Por exemplo, quando eu ia começar a apresentar o programa Palco na TVCOM, ganhei de presente da emissora um curso de interpretação.
Foi idéia da Alice Urbim, diretora de especiais da RBS - talvez inconscientemente iluminada por uma visão profética. A TV tinha ganho uma vaga num curso de interpretação para TV (por Thais de Campos e André Cerqueira, da Rede Globo) e Alice achou que seria ótimo pra mim.
Completamente surpresa pela oferta, lá fui eu, direto pra aula que começava em poucas horas. Foi uma das melhores coisas que fiz na vida. Aquele fim de semana foi fundamental para minha desenvoltura frente às câmeras, mas principalmente, porque ali foi plantada mais uma sementinha, que só mais tarde eu viria a entender.
Logo que mudei pra Chicago, meu visto não me permitia trabalhar. Passei vários meses depressiva sem saber o que fazer da vida, e ao mesmo tempo com um mundo de possibilidades à minha frente. Eu tinha ali a chance de começar tudo de novo, tinha um livro em branco pra poder escrever um novo caminho, um novo destino.
Criei coragem e procurei o Chicago Actors Studio. E foi ali que tudo começou. Depois fiz Act One e outros cursos independentes.
Atuar é um ofício que eu tive que aprender do zero. E como eu não gosto de fazer nada mal feito - por um medo danado de queimar meu filme - levei quase três anos pra me sentir apta a participar de testes.
Todos os anos, quando não estou em cartaz ou filmando, faço novas oficinas e cursos, sempre crescendo, sempre acrescentando novas ferramentas. Sinto falta às vezes de não ter tido uma formação acadêmica, mas na prática, isso não me impede de ter as mesmas oportunidades que meus colegas com diploma.
Todos os dias me dou conta da tremenda sorte que eu dei em vir parar aqui. Como se fosse golpe do destino mesmo. A palavra vocação, os americanos traduzem também como "calling", um chamado. Por mais que eu tenha tentado escapar desse chamado, no final, o teatro me achou, me seduziu, me envolveu e, agora, completamente entregue, não tenho mais planos de me esquivar deste grande caso de amor.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

quem tem medo da gravidade

Passei uns dias agora numa cidadezinha chamada Coudersport, visitando um casal de amigos. Ele é meu amigo de infância dos anos que passei em Santo Ângelo, na região da campanha do Rio Grande do Sul.
Na verdade, quase senti como se esta viagem ao interior da Pensilvânia tivesse sido ao interior do sul do Brasil, tamanha a ligação do Rafael (meu amigo) com sua terra natal e as memórias de infância que, inevitavelmente, ele me traz. Pra reforçar esta sensação, passeamos sábado de manhã na feira de outono do vilarejo tomando um bom mate, com direito a bomba de ouro, prata e rubis. Me diverti com um poema colado na geladeira deles e copio aqui pela extrema sensualidade contida nos versos:
"Amargo doce que eu sorvo, num beijo em lábios de prata! tens o perfume da mata molhada pelo sereno, e a cuia seio moreno que passa de mão em mão, traduz no meu chimarrão, em sua simplicidade, a velha hospitalidade da gente do meu rincão!"


O fim de semana foi todo de natureza. A casa deles é praticamente uma casa de campo. As árvores da região estão num degradê de amarelos, laranjas e vermelhos e o sol da tarde faz subir um cheiro pungente e rico das folhas deteriorando no solo. Visitamos um canyon, caminhamos ao longo de um rio e, de quebra, na volta, como nosso vôo saía de Buffalo, NY, visitamos as cataratas do Niagara.

Percebi, para meu desespero, que várias fraquezas minhas têm aumentado com o passar do tempo. Cada vez enjôo mais de carro, cada vez tenho mais pavor de altura e, tenho que admitir, desenvolvi um sério medo de avião.
O problema com altura ou movimento (ou a combinação dos dois) acho que é bem comum em mulheres. Talvez porque tenhamos uma conexão mais forte com o centro gravitacional do corpo que os homens.
No teatro também se estuda isso. Na contrução de um personagem, há que se buscar onde fica o centro gravitacional dessa pessoa, o centro pelo qual ela se move e opera no mundo.
Eu defendo a teoria que à medida que a mulher amadurece, fica mais apegada ao centro gravitacional que os chineses e o pessoal da dança se referem como lower Dantien. O Dantien é como uma "bola" dentro do corpo, localizado logo atrás do umbigo, preenchendo o espaço da pélvis. A dança moderna usa muito a força que vem deste centro para gerar o movimento. Acho que quando conectamos fortemente, ou em demasia, com este centro baixo, cada vez mais "grounded", a tendência natural é tontura e falta de corporeidade cada vez que se afasta do chão. Aí, ou a pessoa trabalha isso, ou passa trabalho. No meu caso, passo trabalho. E olha que me esforço.
Este ano fiz um curso de artes circenses no Actors Gymnasium. Aprendi um pouco de cada coisa: trapézio, lyra, teia espanhola, cloud swing, tecido, corda bamba, malabarismo, perna de pau. No geral fui um desastre nas artes aéreas, mas algumas coisas eu aprendi, e também ao longo do curso descobri que posso superar vários limites e bloqueios.
No entanto, pareço ter esquecido que antes de fazer qualquer movimento brusco, é bem recomendável alongar, vide o registro da minha "estrelinha" inocente. A frase quase inaudível no final do vídeo é: 'Ai, acho que desloquei meu ombro.' Ninguém mandou desacreditar minha própria sensatez.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Inteligência Outonal

O outono chegou. Tanto lá fora, pelos dez graus que estão fazendo, quanto na minha alma que só quer saber de chás deliciosos e de ouvir Madeleine Peyroux.
Ontem à noite teve ensaio do "Quiltmaker's Gift" a peça que estou preparando com o pessoal da Moving Dock, uma companhia com quem já trabalhei outras duas vezes.
A Moving Dock explora as técnicas do Michael Chekhov (sobrinho do Anton, escritor). Ele desenvolveu um método muito próprio de trabalho do ator, e criou o termo 'gesto psicológico', que eu adoro.
Sempre tive dificuldade de usar o "the method", que foi o que me ensinaram no Chicago Actors Studio, trabalhando muito com memória emocional e afetiva.
Já descobri que não dou muito certo quando tenho uma atitude mental frente a um papel ou um texto, ou se tenho que buscar alguma coisa semelhante que aconteceu comigo, para ali encontrar a emoção que eu quero. No entanto, sempre que o trabalho parte do corpo, a coisa flui.
Ou seja, meu antigo eu, de jornalista super racional, aparentemente segue "emburrecendo", enquando abro outras extensões de outras versões de mim que eu sequer sabia estarem lá.
Sempre me considerei uma pessoa com ótimo vocabulário, mas hoje em dia, pra falar de muitas coisas, simplesmente não encontro as palavras. O gesto, o olhar e o movimento dizem muito mais.
Portanto, estes trabalhos com a Moving Dock, são uma delícia pra mim, com ensaios que viram território de exploração de situações e personagens, usando imagens e metáforas pra chegar onde se quer.
Um tempo atrás, teve uma personagem que tinha como gesto psicológico ficar o tempo todo segurando penas de pássaros que flutuavam à frente dela. Quando ela ficava arrasada, é como se todas aquelas peninhas tivessem caído no chão e fossem ser pisoteadas na lama. Parece papo de maluco... mas artisticamente faz todo o sentido do mundo. E, é claro, esta imagem, só serve pra mim, pra mais ninguém. São achados extremamente particulares.
Nesta peça, estou tendo uma experiência ainda mais brincada, pois é para o público infantil. Os ensaios estão muito engraçados, super intensos, bem físicos, mas parecem jogos e brincadeiras. Vai ter um ensaio aberto dia 11 e quero tirar umas fotos pra botar aqui.
Ontem também encontrei no MSN a Maria Allencar, que foi minha colega na CAL, no Rio. Maria tava fuçando no meu currículo de teatro e ficou curiosérrima sobre a leitura dos contos eróticos 'Sex Scenes', da escritora Polly Frost que eu fiz no ano passado.
Resultado, estou eu agora com idéias de criar algo similar, escrever contos em formato pronto para leitura dramática, cheios de comédia e putaria, pra apresentar em uma turnê por cafés descolados de algumas capitais brasileiras.
A idéia é super boa. Quero ver é se eu tenho coragem de escrever sacanagem. Hmmm.... Chego a ficar vermelha, antes mesmo de começar. Aliás, eu tinha um professor de literatura no colégio Rosário, o Walmor, que chamava as bochechas de "tronos do pudor". Certíssimo ele.
Hoje à noite estou de folga e já comprei vinho (Red Truck, 2007 pinot noir da California), mais um Brie francês, queijo de cabra da Holanda, pão italiano, pêssegos, e vou me divertir com meu marido olhando episódios antigos de L Word. Ah... os prazeres do frio e da boa companhia...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O conto do Pato

Dia 18 de Outubro vou participar do lançamento de uma revista literária. A revista, que vai se chamar Conclave (www.conclavejournal.com), tem como editora uma querida amiga e escritora, Valya Lupescu.
A idéia da Valya é criar neste journal um espaço de coletânea para novos grandes personagens, ricos, inesquecíveis, que saltem da página com suas complexidades e delícias. Pelo que entendi, vai ter poesia, prosa, ficção, não-ficção, fotografia e trechos dramáticos.
É aí que eu entro, é claro. Fui convidada para ler o monólogo "The Tale of the Duck", um trecho retirado da peça "Let Nothing you Dismay" de Anne Phelan.
Não conheço a autora, mas sei que ela estará presente no evento de lançamento.
Acabei de receber o texto via email e fiz minha primeira leitura, pra ter uma idéia geral da Stacey, uma mulher nos seus trinta e poucos, comprando patê de fois gras no natal de Nova York.
Ela explica o que é o patê, e a crueldade envolvida na obtenção desta delicacy. Depois ela entra na sua história pessoal, de ser uma atriz em recuperação, pois relata as tragédias ocorridas durante uma temporada de "A Christmas Carol", onde ela, aos 22 anos, perde a voz. Pra sempre. Bem, ao menos de certa forma, pois ela não pode mais cantar, que era a grande alegria da sua vida. Tudo por causa de um pato que fazia às vezes de ganso durante a peça. Ela arremata revelando ser esta justamente a motivação que a leva a comer fois gras uma vez ao ano, pura vingança.
São cinco páginas, e eu sinceramente espero que não precise memorizar tudo isso, pois o tempo é curto e estou já trabalhando num outro espetáculo. Mas sei que vai ser uma delícia preparar uma leitura dramática, mergulhar numa nova personagem e me divertir em ser a Stacey, mesmo que por alguns minutos.
E como bônus, o evento vai ser no Book Cellar, uma livraria super aconchegante que é também adega de vinhos e um café. (www.bookcellarinc.com)
Maravilha. Ao trabalho!

sábado, 27 de setembro de 2008

Mass Romantic



Este é um filme super querido pra mim, meu primeiro longa. Semana passada estava no Illinois International Film Festival (St Charles, IL) e sábado que vem vai estar no Vacant Era Film Festival em Norman, OK.
Mass Romantic foi feito durante um verão escaldante em 2005. Como todo o filme indie, levou um tempão pra ficar pronto e teve sua estréia em Março de 2008.
A proposta do filme é independente ao extremo. Feito em preto e branco, com as cenas todas criadas por improvisação, acompanha as histórias de vários artistas, ativistas e acadêmicos em sua busca por amor enquanto trabalham com arte política e consciente.
Tem alguns relacionamentos gay no filme, inclusive da minha personagem Annette, que é uma professora de física quântica casada com um um transgender de female to male, ou F2M em linguagem queer. Mas este não é o tema principal do filme, que se concentra nas relações e frustrações humanas, enquanto toca em vários outros temas polêmicos.
O filme já ganhou alguns prêmios e esteve em Berlim, Londres, Lanarkshire (Escócia) e vai pra Nova York em dezembro.
A estréia mundial foi em Chicago e eu estava super tensa. Eu não tinha visto a versão final do filme e não tinha idéia de como seria recebido. A sessão teve lotação esgotada no Landmark Century, um cinema que normalmente passa filmes do circuito alternativo, um lugar que eu e o Rodrigo (meu marido) costumamos frequentar.
Minha cara estava lá, no cartaz na frente do cinema, na capa da trilha sonora que estava sendo vendida...
Eu estava tão nervosa em ver meu rosto e meu trabalho ampliados, ocupando uma tela gigantesca num cinema, que levei uns vinte minutos pra me dar conta que eu estava na ponta da cadeira, toda dura, e podia (e devia) sentar direito e relaxar no encosto da poltrona.
Aqui estão alguns snippets da crítica:

"Mass Romantic, is so indie, it hurts." - BlackBook

"a living, breathing example of what it takes to get along.
Isn't that what politics should be?" - Rob Christopher, Chicagoist

"Critics' pick" - Time Out Chicago

Detalhe: graças a uma pontinha que o Rodrigo fez numa cena, o nome dele também está nos créditos e meu marido agora também está no IMDB!!! (internet movie database)

http://www.myspace.com/MassRomanticFilm

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É sopa!


Parece que foi só o calendário encostar no dia 22 de setembro que as folhas começaram a mudar de cor. As avenidas devagarinho começam a mostrar os tons quentes do outono, que aqui vêm em amarelo-dourado e vermelho- profundo.

A temperatura de fato ainda não caiu, mas sei que não tarda a despencar e, com ela, retorna um dos meus maiores prazeres do frio: tomar sopa!

Mas não é aquela sopa aguada que os céticos teimam em dizer que é comida de doente. Estou falando de sopas sensacionais, cremosas, preparadas por chefs.

Um dos meus restaurantes favoritos das estações gélidas é o Soupbox aqui em Chicago. Todos os dias eles trocam o menu de 12 sopas que sempre inclui opções vegetarianas e a especialidade deles, bisque de lagosta.

Quando fica difícil escolher, dá pra fazer um mix de dois sabores, mas infelizmente nem todas as misturas são felizes. Quando eu misturo, geralmente pego alguma de vegetais com base de tomate e adiciono uma cremosa, de batata e alho-poró.

Em novembro do ano passado, recebi a visita de um casal de amigos que não estava preparados para o frio que já assolava a cidade. Pra aquecer, levei os dois pra almoçar lá. Eles amaram. Viraram fãs imediatos e prometeram que iriam tentar encontrar uma receita similar da sopa de frango com arroz selvagem para testar em Porto Alegre.

Lembrei também da Soupbox, porque vi no blog da Fernanda Zaffari uma foto do "Rice to Riches" de NYC. Este é um lugar que serve uma dezena (ou mais) de sabores de arroz doce (ou arroz de leite, como preferir). Tem um amigo da faculdade que é tarado por este lugar e toda vez que vai a NY leva com ele os potinhos plásticos do arroz como recordação.

Espero que um dia o Soupbox também tenha no seu roll de glórias alguns "aficionados" estrangeiros. :)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

minha primeira green room

Green Room é o termo usado em inglês em referência a salinha que fica nos bastidores de um teatro onde ficam os performers quando não estão no palco. Ela pode fazer as vezes de camarim, mas é em geral um lugar para retoques e breaks.
Segundo a wikipedia, a origem do termo que mais faz sentido vem do tempo do teatro Shakespeareano, quando os atores faziam sua preparação em uma sala cheia de plantas e arbustos, já que a umidade seria benéfica às cordas vocais dos artistas.
A minha primeira green room foi dentro do Chicago Actors Studio, minha primeira escola, que tinha também um teatro com capacidade para 80 pessoas.
Além de usar a sala na preparação de exercícios de cena, a escola apresentou um festival que apresentava todas as noites 3 peças de um ato.
A nossa green room era também camarim, e eu adorava ficar ali com meus colegas (da minha ou das outras peças) repassando texto, colocando maquiagem e falando besteira.
Esta foi justamente a minha estréia num palco.
Antes disso eu apresentava um programa de televisão a cabo em Porto Alegre, que casualmente também chamava Palco. Eu sempre me divirto com esta ironia do destino.
Mas, diferente da televisão, que também lida com público, a intimidade de um teatro traz uma verdade quente, a reação da platéia está ali na sua cara, para os seus ouvidos. Não há disfarce nem fuga. Bem diferente do filtro de uma câmera através da qual a gente tenta chegar em quem está do outro lado.
Eu já fui viciada em trabalhar com televisão, especialmente quando eu fazia ao vivo. Talvez por isso o rush de adrenalina de estar num palco me faça sentir tão viva, com todos os nervos à flor da pele, pronta para qualquer imprevisto, atenta a todos os movimentos e palavras num raio de pelo menos 15 metros.
Quantas vezes na vida podemos dizer que estamos assim inteira e intensamente presentes em uma situação?