terça-feira, 21 de outubro de 2008

corpo que trai




"The Tale of the Duck", a leitura dramática que eu fiz no lançamento da revista literária Conclave foi bem. O evento tinha bastante gente, a livraria The Book Cellar é um barato (já adotei e quero voltar lá milhares de vezes) e meu trabalho foi bem recebido.
Era uma leitura longa, cinco páginas direto, com bastante comédia, mas também sofrimento. A autora do texto, Anne Phelan, estava lá e a presença dela adicionou um tanto mais de pressão nas minhas próprias expectativas.
O que aconteceu, que eu não esperava, é que eu fiquei nervosa. Demais. Nunca tinha me acontecido uma coisa assim antes.
Eu fico com borboletas na barriga sempre antes de entrar no palco, mas assim que começo a falar, tudo fica bem. Desta vez não. Não sei se tinha a ver com estar lendo... Ter o papel a princípio poderia me acalmar, não tinha como esquecer texto, etc. Estava ali, eu tinha esta bengala pra me segurar. Mas... pelo contrário, todas as vezes que eu tirava os olhos do papel, é onde eu encontrava meu centro.
Outra coisa é que o texto é meio tipo comédia stand-up, eu não falo para um outro personagem, mas sim com o público, e acho que isso me desestruturou um pouco, pois tinha muita gente de pé, e mesmo sem querer, eu encontrava os olhos das pessoas.
Mesmo tendo já feito centenas de audições, onde todos os olhos estão fixos em mim, na frente de uma sala, subitamente, me senti só, e sob o escrutínio de todos. Resultado, o papel na minha mão, vira e mexe tremia. E eu via isso acontecer, e ficava tentando achar um jeito de parar. Zilhões de coisas passavam pela minha cabeça enquanto eu continuava a leitura, firme e certa até o final - exceto pela minha mão que de vez em quando me traía.
No fim, eu me senti meio mal. Foi um alívio quando terminou. Virei um copo de vinho quase inteiro pra afogar meu pânico. Mas aí, quando eu vi, as pessoas estavam ao meu redor, elogiando, dizendo como foi ótimo.
A própria Anne, que estava sentada do meu lado, pediu meu cartão. Ela estava encantada, disse ter sido a primeira vez que ouviu o texto interpretado por alguém, e que eu tinha achado direitinho os pontos todos das emoções, onde tinha comédia, sarcarsmo, onde tinha dor, onde ela fugia da dor... etc. Ela inclusive disse que se eu viesse a mudar pra New York, para procurá-la, pois ela sempre precisa de atores competentes para as peças dela - e me deu seu cartão também.
Pra onde eu olhava, tinha alguém chegando pra me cumprimentar e dizer o quanto tinha adorado minha leitura.
Então talvez o que me grilou tanto, as pessoas nem deram bola, ou nem notaram tanto assim. Eu estou até agora tentando analisar que diabo que me deu.

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