quinta-feira, 30 de julho de 2009

mais fotos de Toymaker's War

Sylvie (Andrea Morales), sente a culpa pela morte e estupro da pequena Lejla numa vila só com crianças perto de Sarajevo. Eu, a velha, deusa da morte, carrego a pequena embora.


O jovem jornalista Peter (Greg Poljacik) confronta Sylvie por ter contado apenas parte da história.

Milan (Jesse Menendez) ensina Sylvie a brincar com Lejla sua irmã para distraí-la dos horrores da guerra.


A velha bruxa (moi!) leva Sylvie a reviver e redimir seu passado.


Detalhe, não saíram críticas desse espetáculo porque ele foi apresentado como "ainda em desenvolvimento". Foi a primeira vez que foi montado, mas a autora está ainda mexendo no texto. Ela espera que um teatro maior compre os direitos e o privilégio de anunciar Toymaker's como "estréia mundial", ou world premiere.




sábado, 18 de julho de 2009

A guerra do fazedor de brinquedos

Essa semana encerrou a temporada de "Toymaker's War" dentro do Alcyone Festival. Foi bem bacana a experiência de fazer um espetáculo com texto mais pesado, tocante, e meu trabalho foi muito elogiado.

Em segundos, eu saía do meu jeito bubbly de ser, com a vitalidade dos meus trinta e poucos, e me transformava em um ser mitológico, de idade avançada, lembrando em muito o arquétipo da feiticeira que mora nas profundezas da floresta. Por meu papel ser apenas físico, eu estava sempre tranquila antes das apresentações. Um contraste agradável para o meu tradicional alterado estado de nervos antes de qualquer performance.

A história se passa entre Bósnia em 1995 e Canadá nos dias atuais, quando uma jornalista tem que revisitar seu passado cobrindo a guerra da Bósnia, quatorze anos atrás, e redimir suas escolhas, feitas quando era apenas uma repórter iniciante. E, não, eu não era a jornalista. Sequer fiz teste para o espetáculo. Fui chamada pelo diretor pra fazer o papel de Stara Zena - uma espécie de anjo da morte, deusa do além que aparece para as pessoas que estão prestes a morrer ou que precisam transformar profundamente partes de si mesmas.

Para o movimento dela, eu treinei com uma coreógrafa, e como parte do figurino, usava uma máscara, bastante horripilante.

Eu basicamente contracenava com a jornalista (como na foto aí ao lado), mas no cast tinha uma menina muito fofa de dez anos, Julia, que era a nossa mascote. Julia fazia Lejla, que me via como Stara Zena.
Quando eu punha a máscara, eu e Julia brincávamos de filme de terror no backstage. Em cena, eu a levava morta, como uma avó que guia sua neta mais querida.

Todos os atores estavam cientes de que precisavam desviar de mim nas entradas e saídas de palco em lugares estreitos, pois eu via muito mal com a máscara e morria de medo de tropeçar e causar algum desastre cênico. Na nossa última apresentação, após eu desejar break a leg pra Julinha, ela virou-se, pegou minha mão e disse: "Pra você também. E muito cuidado andando por aí com a máscara, não quero que você se machuque". !!!!

Foi a coisa mais adorável que eu poderia ter ouvido naquele momento. Me senti totalmente Stara Zena: poderosa, porém fisicamente frágil; uma vovó, recebendo cuidados e atenção da sua netinha.

Perfeito!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

mulheres e dramaturgia

Essa semana foi dominada por discussões nas várias mídias sobre feminismo e o teatro. Tudo porque a estudante de pós-graduação Emily Glassberg Sands publicou um estudo sugerindo que mulheres dramaturgas são sistematicamente discriminadas - especialmente, por outras mulheres.
A notícia causou polêmica e os mais diversos blogs e colegas do meio não cansam de falar do tema. Achei que também tinha chegado a minha vez.
Acho bom que isso esteja sendo discutido, porque me afeta. Ainda mais agora que recém estou começando a me lançar no grande barato que é escrever uma peça.
Mais do que isso, recentemente tenho trabalhado com textos fantásticos e intrigantes escritos justamente por mulheres.
O Halcyon Theatre de Chicago todos os anos monta textos exclusivamente escritos por mulheres dentro de um festival de verão que chamaram Alcyone. Tony Adams, diretor da companhia é o criador dessa idéia.
No blog dele, Tony sugere algumas forma de aumentar o número de peças (hoje apenas 20% do total) produzidas que sejam de autoria feminina : "Lermos mais peças ótimas de mulheres; produzirmos mais peças ótimas de mulheres, assistirmos mais peças ótimas de mulheres; ou pelo menos comentar com outras pessoas sobre uma nova autora que você acabou de descobrir e que adorou. "
Claro, ele pode fazer as quatro coisas, mas com certeza cabe a nós ao menos espalhar no boca a boca os elogios que tivermos sobre os trabalhos de autoria feminina.
E não é por ser de autoria feminina que uma peça automaticamente se resume a tratar de temas domésticos ou de sexualidade.
A peça que participo no festival Alcyone, de autoria da canadense Jennifer Fawcett chama-se "A guerra do fazedor de brinquedos", cujo tema é a guerra da Bósnia de 1995 e a ética jornalística.
Dentro do playlab que estou fazendo com o Teatro Luna, somos apenas mulheres, todas talentosas e cada uma trazendo para a mesa sua própria voz, autêntica, verdadeira.
O Teatro Luna também está agora fazendo uma série de leituras dramáticas. Uma vez por mês, às segundas, tem Lunadas, sempre apresentando um texto de autoria feminina.
Nessa última, eu fui convidada a participar e adorei trabalhar com essa companhia. Sempre tinha sido um desejo meu, e agora sinto que isso está acontecendo através do playlab e dessa Lunadas.
O texto era "Catalina de Erauso", texto de Elaine Romero. Elaine é uma dramaturga estabelecida, mas esse texto é novo. Ela veio a Chicago especialmente para acompanhar, e ainda mexeu, reescreveu entre um ensaio e outro. O texto é ótimo e a leitura foi divertidíssima.
Taí, tô fazendo a minha parte: Elaine Romero. Uma dramaturga que acabei de descobrir e que vale super, super a pena.