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segunda-feira, 22 de março de 2010

de leitura em leitura

Sábado dia 13 foi a leitura de mesa da minha primeira peça como autora individual de uma obra de teatro.
Eu já tinha ouvido palavras minhas num palco na boca de outros atores em três espetáculos nos quais eu colaborei como escritora, mas nada, nada se compara à delícia de curtir uma peça inteirinha que eu escrevi ser lida por 5 atores dando vozes às minhas personagens.
A leitura foi organizada como parte do do laboratório de playwriting do Teatro Luna, do qual faço parte desde junho de 2009. E foi um presentão.
O feedback após a leitura foi ótimo e apontou vários caminhos pra eu ajustar detalhes, para aquela lapidada final do script.
Deixei de lado uma semana, a coisa toda borbulhando na minha cabeça, e hoje voltei a botar as mãos no texto para os rewrites, as mexidas necessárias e algumas aumentadas aqui e ali.
Além disso, "Brilliant Cut" foi escolhida para abrir uma série de leituras dramáticas que o Teatro Luna tem.
Portanto, a minha comédia farsesca envolvendo um racoon estufado com diamantes vai receber novos atores e o olhar de um/a diretor/a para essa participação no Lunadas 2010!
Estou muito feliz e honrada.
e o melhor de tudo? Tudo está encaixando-se lindamente. A leitura dramática vai ser 18 de abril, duas semanas antes de eu deixar os EUA e retornar de mala e cuia pro Brasil.
É bom partir sabendo que vamos deixar saudades.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

mulheres e dramaturgia

Essa semana foi dominada por discussões nas várias mídias sobre feminismo e o teatro. Tudo porque a estudante de pós-graduação Emily Glassberg Sands publicou um estudo sugerindo que mulheres dramaturgas são sistematicamente discriminadas - especialmente, por outras mulheres.
A notícia causou polêmica e os mais diversos blogs e colegas do meio não cansam de falar do tema. Achei que também tinha chegado a minha vez.
Acho bom que isso esteja sendo discutido, porque me afeta. Ainda mais agora que recém estou começando a me lançar no grande barato que é escrever uma peça.
Mais do que isso, recentemente tenho trabalhado com textos fantásticos e intrigantes escritos justamente por mulheres.
O Halcyon Theatre de Chicago todos os anos monta textos exclusivamente escritos por mulheres dentro de um festival de verão que chamaram Alcyone. Tony Adams, diretor da companhia é o criador dessa idéia.
No blog dele, Tony sugere algumas forma de aumentar o número de peças (hoje apenas 20% do total) produzidas que sejam de autoria feminina : "Lermos mais peças ótimas de mulheres; produzirmos mais peças ótimas de mulheres, assistirmos mais peças ótimas de mulheres; ou pelo menos comentar com outras pessoas sobre uma nova autora que você acabou de descobrir e que adorou. "
Claro, ele pode fazer as quatro coisas, mas com certeza cabe a nós ao menos espalhar no boca a boca os elogios que tivermos sobre os trabalhos de autoria feminina.
E não é por ser de autoria feminina que uma peça automaticamente se resume a tratar de temas domésticos ou de sexualidade.
A peça que participo no festival Alcyone, de autoria da canadense Jennifer Fawcett chama-se "A guerra do fazedor de brinquedos", cujo tema é a guerra da Bósnia de 1995 e a ética jornalística.
Dentro do playlab que estou fazendo com o Teatro Luna, somos apenas mulheres, todas talentosas e cada uma trazendo para a mesa sua própria voz, autêntica, verdadeira.
O Teatro Luna também está agora fazendo uma série de leituras dramáticas. Uma vez por mês, às segundas, tem Lunadas, sempre apresentando um texto de autoria feminina.
Nessa última, eu fui convidada a participar e adorei trabalhar com essa companhia. Sempre tinha sido um desejo meu, e agora sinto que isso está acontecendo através do playlab e dessa Lunadas.
O texto era "Catalina de Erauso", texto de Elaine Romero. Elaine é uma dramaturga estabelecida, mas esse texto é novo. Ela veio a Chicago especialmente para acompanhar, e ainda mexeu, reescreveu entre um ensaio e outro. O texto é ótimo e a leitura foi divertidíssima.
Taí, tô fazendo a minha parte: Elaine Romero. Uma dramaturga que acabei de descobrir e que vale super, super a pena.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

36 comentários sobre dramaturgia por José Rivera

Meu amigo Jesus Contreras postou esse texto no FB, e decidi traduzi-lo.

José Rivera é um dos mais bem sucedidos dramaturgos latinos nos Estados Unidos. Ele também fez o roteiro de Diários de Motocicleta – dirigido por Walter Salles, e agora os dois também estão preparando juntos “Celestina”, um filme adaptado da peça “Cloud Tectonics”, um trabalho lindíssimo de Rivera.


Aqui estão 36 comentários sobre playwriting por José Rivera:

1. Boa dramaturgia é uma colaboração entre seus muitos ‘eus’. Quanto mais múltiplas suas personalidades, mais fundo e longe você vai.


2. Teatro está mais próximo da poesia e da música do que da novela (literária).


3. Não há tempo limite para escrever peças. Pense no escrever como um aprendizado de vida inteira. Imagine que vai ter suas melhores idéias no seu leito de morte.


4. Escreva para organizar o desespero e o caos. Para viver intensamente. Para brincar de deus. Para projetar uma versão idealizada do mundo. Para destruir o que mais odeia no mundo e em si mesmo. Para lembrar e e esquecer. Para mentir para si mesmo. Para brincar. Para dançar com a linguagem. Para embelezar a paisagem. Para lutar contra a solidão. Para inspirar aos outros. Para imitar seus heróis. Para trazer de volta o passado e ressucitar os mortos. Para atingir a transcendência de si. Para lutar contra os poderes no comando. Para disparar alarmes. Para provocar discussões. Para estimular conversas sobre grandes escritores do passado. Para evoluir ainda mais a forma artística. Para perder-se em seu mundo fictício. Para ganhar dinheiro.


5. Escreva porque quer mostrar algo. Mostrar que o mundo é uma merda. Mostrar o quão frágeis são o amor e a felicidade. Mostrar os processos do seu ego. Mostrar que a democracia está em perigo. Mostrar o quão interconectados nós somos. (cada ‘mostrar’ é ativo e deve ser pessoal, profundo e verdadeiro).


6. Cada frase de diálogo é como um pedaço de DNA; contendo a peça inteira e sua tese; potencialmente revelando o início, meio e fim da peça.


7. Esteja preparado para arriscar sua reputação por completo cada vez que escrever, se não for assim, não vale o tempo da sua platéia.


8. Aceite seu bloqueio criativo. É a natureza salvando árvores e a sua reputação. Escute e tente entender sua origem. Geralmente o bloqueio acontece porque em algum momento do trabalho você mentiu para si mesmo e seu subconsciente não quer deixar você ir além até voltar, apagar a mentira, afirmar a verdade e recomeçar.


9. Linguagem é uma forma de entretenimento. Uma linguagem bela é como música bela: diverte, inspira, mistifica, ilumina.


10. Ritmo é chave. Use tantos sons e cadências quanto possível. Pense o diálogo como música percussiva. Pode variar a velocidade, número de batidas por linha, volume, densidade. Pode usar silêncios, fragmentos, frases alongadas, interrupções, sobreposições, atividade física, monólogos, bobagens, outras línguas.


11. Varie seu tom sempre que possível. Sobreponha alta seriedade com linguagem provocativa com beleza lírica com violência com humor negro com assombro e erotismo.


12. Ação não precisa ser óbvia. Pode ser o sólido aprofundamento da situação dramática ou os movimentos emocionais da sua personagem de uma condição psicológica para outra: da ignorância para compreensão, da fraqueza para a força, doença para completude.


13. Invista algo realmente pessoal nos seus personagens, mesmo que seja algo do seu pior ‘eu’.


14. Se o realismo é tão artificial quanto qualquer gênero, procure criar o seu. Se teatro é uma arte onde se faz obras únicas, você tem controle total do seu universo fictício. Quais são suas leis físicas? Como é a gravidade? O tempo? Quais as regras de causa e efeito? Como seus personagens se comportam nesse universo alterado?


15. Escreva com os seus órgãos. Com seus olhos, seu coração, seu fígado, sua bunda – escreva com o seu cérebro como o último recurso.


16. Escreva com todos os seus sentidos. Esteja preparado para desenhar na página: revele exatamente o que vê, sente, ouve, toca e que gosto tem esse mundo. Nunca deixe o design em aberto, isso inclui o elenco.


17. Encontre sua tribo. Eduque seus colaboradores. Leve fé no seu pessoal e seja fiel a eles. Busque compatibilidade estética e emocional com quem trabalha. Entenda a visão de mundo do seu diretor porque essa visão vai dar a cor do seu trabalho.

18. Busque ter seu próprio gênero. Grandes obras representam o gênero criado em torno da voz do autor. O gênero Chechov. O gênero Caryl Churchill.


19. Busque criar papéis que atores que você respeita seriam capazes de matar pela chance de fazer.


20. A forma segue a função. Tente refletir o conteúdo da peça na forma da peça.


21. Use a literalização da metáfora para discutir o estado emocional interno dos seus personagens.


22. Não tema arriscar um grande tema: morte, guerra, sexualidade, identidade, destino, deus, existência, política, amor.


23. Teatro é a explicação da vida para os vivos. Tente aliviar os ruídos conflitantes do viver, e crie algum padrão e ordem. Não é tanto uma explicação da vida quando uma receita para compreendê-la, uma carta de navegação, um confidente com respostas, o suficiente para guiar e encorajá-lo, mas não ditando o que fazer.


24. Arrisque extremos emocionais. Não seja puritano. Seja sexy. Seja violento. Seja irracional. Seja desleixado. Seja aterrorizante. Seja idiota. Seja colorido.

25. Idéias podem ser inseridas nas interações e reações da personagem; podem estar na música e poesia da sua forma. Você pensa e gera idéias constantemente. Uma peça tem de incorporar esses pensamentos, e esses pensamentos podem servir como a energia unificante da sua peça.


26. Uma peça deve ser organizada. Essa é outra palavra para estrutura. Você organiza uma refeição, seu guarda-roupas, seu tempo – por que não sua peça?


27. Se esforce para ser misterioso, não confuso.


28. Pense em informação numa peça como um soro no hospital – liberando gota a gota o suficiente para manter o corpo vivo, mas não demais de uma vez só.


29. Pense no escrever como uma batalha constante contra a inércia natural da linguagem.


30. Escreva em camadas. Tenha tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo numa peça em cada instante quando possível.


31. Faulkner disse que o grande drama é o coração em conflito com si mesmo.


32. Se mantenha por cima com o constante questionamento do seu trabalho. Reaja contra. Seja hipercrítico. Faça no próximo o que você tentou, mas falhou em conseguir no último.


33. Escute apenas as pessoas que investem no seu futuro.


34. Personagem é a obsessão materializada. Um personagem deve ser inacreditavelmente faminto. Não há descanso para aqueles personagens até que eles satisfaçam suas necessidades.

35. Em todas as suas peças faça questão de incluir ao menos uma coisa impossível. E não deixe seu diretor lhe convencer do contrário.

36. Um escritor não pode viver sem uma voz autêntica – o lugar onde você é mais honesto, mais lírico, mais completo, mais criativo e novo. É isso que você luta para encontrar. Mas a voz autêntica não sabe escrever, assim como a gasolina não sabe dirigir. Mas dirigir é impossível sem combustível e escrever é impossível sem o calor e a força da sua voz mais autêntica. Aprender a escrever bem é para workshops. Aprendendo bons hábitos e praticando muito. Mas encontrar sua voz verdadeira como escritor é com você, sua jornada - sua viagem particular, solitária, inexata, dolorosa, lenta e confusa. Professores e mentores podem aproximá-lo dessa voz. Com sorte e tempo, você chega lá sozinho.