quinta-feira, 8 de outubro de 2009

altos e baixos

Tô sumida porque esse último mês foi uma barra. Problema e tristeza atrás de problema e tristeza. Minha carteira foi roubada e sou agora vítima de identity theft, uso indevido da minha identidade e meu número de seguro social. Os bandidos sairam abrindo contas e cartões de crédito em meu nome a torto e a direito. Not fun.
Esse é o crime que mais cresce nos Estados Unidos, talvez no mundo. Estou de fato lidando bem com a sombra do capitalismo selvagem, a facilidade de abrir linhas de crédito que facilita a vida do consumidor, mas também dos criminosos.
Paciência. Tenho dois boletins de ocorrência na polícia, estou apagando os incêndios conforme eles aparecem, e espero que daqui a pouco a página vire e isso fique meramente na minha memória.
No momento, no entanto, o baque, o sentimento de violação, o horror de não saber onde vão atacar no momento seguinte, somados a outras questões, ficaram pesados demais para o meu sistema emocional e eu estava vivendo numa paranóia constante e insalubre.
Para me ajudar, hoje conto com a magia da farmacopéia laboratorial em forma de uma pílula diária que tem feito toda a diferença entre o meu absoluto desespero e a recuperação da minha confiança para me defender legalmente. Valeu Lexa.pro!!!
Espero, é claro, que esse auxílio químico seja apenas circunstancial. Mas vamos lá.
Tenho também alegrias, ufa!!! Semana que vem vamos fazer três apresentações de um show de Halloween que venho preparando com meu grupo de performance TerraMysterium.
Estou super feliz com o trabalho e a interação com os colegas. O show é absolutamente original e eu sou do time de escritores!! Isso me traz imensa satisfação.
A personagem que eu faço é uma bruxa italiana Gioconda Strega, especialista em criaturas mágicas e formas-pensamento. Ela é uma comédia. Amei escrever a Gioconda, e amo fazer ela. Ainda fico adicionando milhares de cacos a cada ensaio e faço meus colegas rolarem de tanto rir.
Eu que não me sabia tão palhaça, devo à Gioconda essa permissão para eu soltar a franga com o besteirol geral. Evoé!
Aqui vai o vídeo promocional com ela:

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

um simpósio hilário sobre ocultismo



Está decidido nosso tema, título e várias partes do novo espetáculo do TerraMyterium. Estou animadésima. Fizemos auditions com várias pessoas esse sábado passado e temos novos integrantes na trupe para preparar esse Halloween, inclusive o maridão Rodrigo foi cooptado para o projeto.

O professor Marius Mandragore vai oferecer um salão-simpósio sobre feitiços, espíritos e outras artes remotas. Mais uma vez vamos misturar teatro com música e artes circenses pra dar a vida ao tema. Ele começa com um pouco de história da bruxaria, recebe professores convidados de outros países para debater temas como criaturas mágicas e exorcismos, há os desastres criados pelos aprendizes do professor e, no final, além de uma sessão mediúnica, o público vai participar da criação de uma magia ali na hora, com direito a caldeirão e tudo.


Antes disso, porém, nesse próximo fim de semana vamos fazer dois pocket shows só de músicas num evento de Dia do Orgulho Pagão. Aliás, preciso ainda fazer meus exercícios vocais de hoje... Me sindo super insegura cantando em público, tudo muito novo pra mim.




sábado, 29 de agosto de 2009

miséria criativa

A questão econômica aqui segue feia. Feia mesmo. Tem cada vez mais mendigos e mais pedintes em todos os lugares. Muitos, bem no centro de Chicago, esfregando na cara de quem vive ou visita a WindyCity que a prosperidade perdeu seu lugar no cartão postal.
Num congresso internacional de astrologia que participei recentemente, a discussão é a mesma. Os mesmos astrólogos que previram o desmoronamento econômico de 2008, estão dizendo que apesar da aparente melhora nos índices, há uma outra queda se armando e que a crise está mais para um "W" do que um "V"ou"U".
No entanto a problemática da falta de emprego e grana está estimulando a criatividade de quem pede nas esquinas.
Ano passado, sob um viaduto de muito movimento, um barraco armado com carrinhos de supermercado e papelão, com ótima visibilidade para quem por ali passava, estampava em uma de suas "paredes" um pensamento religioso, e na outra oferecia o espaço: 'Seu anúncio aqui!'
E ontem, em frente à Macy's, um cara que não tinha mais que trinta anos, até boa pinta, tinha uma mão estendida com uma caneca pedindo moedas e, na outra, ostentava a seguinte mensagem escrita à mão num papelão de mais ou menos um metro: " Girlfriend was kidnapped by ninjas. Need money for ransom and kung-fu lessons".
(namorada sequestrada por ninjas. preciso de dinheiro para o resgate e lições de kung-fu)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Agosto

Tenho andado calada, eu sei.
Fim de verão, vida pessoal corrida
cheia de acontecimentos
cheia de preparativos
que não posso, não devo
não é bom falar
antes que aconteçam.
Cruzo os dedos em antecipação. Rezo, peço, imploro.
Será que os deuses dessa vez olham pra mim com a confiança de que estou pronta pro meu desejo?

Das artes:
Tenho escrito pouco. Minha peça anda pendurada e trabalho na corrida antes de ir pro meu playlab. Minha indisciplina está roubando o melhor de mim. Merda isso. Quero terminar essa comédia de erros que estou fazendo antes de Outubro. Está na hora. De tirar essa história de mim, parí-la, para poder gestar outras e mais outras que também querem a sua chance de ir pro papel.
Estou preparando um espetáculo com o TerraMysterium, meu grupo de performances. Uma homenagem à estação escura, Halloween, Samhain, Dia de los Muertos. Vamos falar da morte e do medo. Vamos fazer auditions dia 29 com já quase todos os horários cheios de atores, músicos, cantores, acrobatas, mágicos, bailarinos...
Vai ser ótimo, estar do outro lado e ver as pessoas se esforçando, em cinco minutos pra mostrar seu talento. Cinco minutos tão injustos.
Estou num filme, Parallel Universe. Vou fazer uma stripper que não tira a roupa. Ela tem problemas sérios com a bebida e está no consultório de um psiquiatra. Estou animada pra esse papel. Acho que eu tenho uma desculpa legítima para fazer uma saída a campo em nome da pesquisa necessária para a personagem! ;)
Começo a filmar em Setembro.
Além disso, também preparo um ritual que eu mais duas amigas vamos coordenar para um evento do festival da colheita em fim de setembro - uma combinação de colheita com o equilíbrio da luz no equinócio.
Estamos criando, tecendo, escrevendo. E eu vou também costurar. Inventei de criar corações de feltro, anatomicamente corretos para distribuir para cada participante. Eu sou uma doida de me meter a fazer isso, mas os corações estão ficando lindos! Como eu poderia deixar de fazer corações humanos feito almofadinha? Com suas válvulas aparentes? Tão melhores que os chatos corações dos milhões de "I love yous", os com flechas riscados nas árvores e típicos dos "dias dos namorados" across the globe.
Coisas pagãs que eu amo, e uma bela oportunidade de currículo bruxístico por ser um ritual grande numa organização respeitada.
Pra mim um ritual é como uma instalação. Eu sempre amei instalações artísticas, pois somos envolvidos pela obra com todos os nossos sentidos, transportados dali, pelo artista, a uma outra realidade. Ditto para um bom ritual.
Minha antiga priestess dizia que um bom ritual é igual bom sexo. Concordo.

Sempre acontece isso. Eu sinto como se minha vida estivesse quase parada. Aí começo a colocar no papel o que ando fazendo e a lista me surpreende com seu tamanho.
Ai, ai... nossas eternas inquietudes humanas e a fragilidade do vício mutante do geminiano.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

mais fotos de Toymaker's War

Sylvie (Andrea Morales), sente a culpa pela morte e estupro da pequena Lejla numa vila só com crianças perto de Sarajevo. Eu, a velha, deusa da morte, carrego a pequena embora.


O jovem jornalista Peter (Greg Poljacik) confronta Sylvie por ter contado apenas parte da história.

Milan (Jesse Menendez) ensina Sylvie a brincar com Lejla sua irmã para distraí-la dos horrores da guerra.


A velha bruxa (moi!) leva Sylvie a reviver e redimir seu passado.


Detalhe, não saíram críticas desse espetáculo porque ele foi apresentado como "ainda em desenvolvimento". Foi a primeira vez que foi montado, mas a autora está ainda mexendo no texto. Ela espera que um teatro maior compre os direitos e o privilégio de anunciar Toymaker's como "estréia mundial", ou world premiere.




sábado, 18 de julho de 2009

A guerra do fazedor de brinquedos

Essa semana encerrou a temporada de "Toymaker's War" dentro do Alcyone Festival. Foi bem bacana a experiência de fazer um espetáculo com texto mais pesado, tocante, e meu trabalho foi muito elogiado.

Em segundos, eu saía do meu jeito bubbly de ser, com a vitalidade dos meus trinta e poucos, e me transformava em um ser mitológico, de idade avançada, lembrando em muito o arquétipo da feiticeira que mora nas profundezas da floresta. Por meu papel ser apenas físico, eu estava sempre tranquila antes das apresentações. Um contraste agradável para o meu tradicional alterado estado de nervos antes de qualquer performance.

A história se passa entre Bósnia em 1995 e Canadá nos dias atuais, quando uma jornalista tem que revisitar seu passado cobrindo a guerra da Bósnia, quatorze anos atrás, e redimir suas escolhas, feitas quando era apenas uma repórter iniciante. E, não, eu não era a jornalista. Sequer fiz teste para o espetáculo. Fui chamada pelo diretor pra fazer o papel de Stara Zena - uma espécie de anjo da morte, deusa do além que aparece para as pessoas que estão prestes a morrer ou que precisam transformar profundamente partes de si mesmas.

Para o movimento dela, eu treinei com uma coreógrafa, e como parte do figurino, usava uma máscara, bastante horripilante.

Eu basicamente contracenava com a jornalista (como na foto aí ao lado), mas no cast tinha uma menina muito fofa de dez anos, Julia, que era a nossa mascote. Julia fazia Lejla, que me via como Stara Zena.
Quando eu punha a máscara, eu e Julia brincávamos de filme de terror no backstage. Em cena, eu a levava morta, como uma avó que guia sua neta mais querida.

Todos os atores estavam cientes de que precisavam desviar de mim nas entradas e saídas de palco em lugares estreitos, pois eu via muito mal com a máscara e morria de medo de tropeçar e causar algum desastre cênico. Na nossa última apresentação, após eu desejar break a leg pra Julinha, ela virou-se, pegou minha mão e disse: "Pra você também. E muito cuidado andando por aí com a máscara, não quero que você se machuque". !!!!

Foi a coisa mais adorável que eu poderia ter ouvido naquele momento. Me senti totalmente Stara Zena: poderosa, porém fisicamente frágil; uma vovó, recebendo cuidados e atenção da sua netinha.

Perfeito!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

mulheres e dramaturgia

Essa semana foi dominada por discussões nas várias mídias sobre feminismo e o teatro. Tudo porque a estudante de pós-graduação Emily Glassberg Sands publicou um estudo sugerindo que mulheres dramaturgas são sistematicamente discriminadas - especialmente, por outras mulheres.
A notícia causou polêmica e os mais diversos blogs e colegas do meio não cansam de falar do tema. Achei que também tinha chegado a minha vez.
Acho bom que isso esteja sendo discutido, porque me afeta. Ainda mais agora que recém estou começando a me lançar no grande barato que é escrever uma peça.
Mais do que isso, recentemente tenho trabalhado com textos fantásticos e intrigantes escritos justamente por mulheres.
O Halcyon Theatre de Chicago todos os anos monta textos exclusivamente escritos por mulheres dentro de um festival de verão que chamaram Alcyone. Tony Adams, diretor da companhia é o criador dessa idéia.
No blog dele, Tony sugere algumas forma de aumentar o número de peças (hoje apenas 20% do total) produzidas que sejam de autoria feminina : "Lermos mais peças ótimas de mulheres; produzirmos mais peças ótimas de mulheres, assistirmos mais peças ótimas de mulheres; ou pelo menos comentar com outras pessoas sobre uma nova autora que você acabou de descobrir e que adorou. "
Claro, ele pode fazer as quatro coisas, mas com certeza cabe a nós ao menos espalhar no boca a boca os elogios que tivermos sobre os trabalhos de autoria feminina.
E não é por ser de autoria feminina que uma peça automaticamente se resume a tratar de temas domésticos ou de sexualidade.
A peça que participo no festival Alcyone, de autoria da canadense Jennifer Fawcett chama-se "A guerra do fazedor de brinquedos", cujo tema é a guerra da Bósnia de 1995 e a ética jornalística.
Dentro do playlab que estou fazendo com o Teatro Luna, somos apenas mulheres, todas talentosas e cada uma trazendo para a mesa sua própria voz, autêntica, verdadeira.
O Teatro Luna também está agora fazendo uma série de leituras dramáticas. Uma vez por mês, às segundas, tem Lunadas, sempre apresentando um texto de autoria feminina.
Nessa última, eu fui convidada a participar e adorei trabalhar com essa companhia. Sempre tinha sido um desejo meu, e agora sinto que isso está acontecendo através do playlab e dessa Lunadas.
O texto era "Catalina de Erauso", texto de Elaine Romero. Elaine é uma dramaturga estabelecida, mas esse texto é novo. Ela veio a Chicago especialmente para acompanhar, e ainda mexeu, reescreveu entre um ensaio e outro. O texto é ótimo e a leitura foi divertidíssima.
Taí, tô fazendo a minha parte: Elaine Romero. Uma dramaturga que acabei de descobrir e que vale super, super a pena.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

36 comentários sobre dramaturgia por José Rivera

Meu amigo Jesus Contreras postou esse texto no FB, e decidi traduzi-lo.

José Rivera é um dos mais bem sucedidos dramaturgos latinos nos Estados Unidos. Ele também fez o roteiro de Diários de Motocicleta – dirigido por Walter Salles, e agora os dois também estão preparando juntos “Celestina”, um filme adaptado da peça “Cloud Tectonics”, um trabalho lindíssimo de Rivera.


Aqui estão 36 comentários sobre playwriting por José Rivera:

1. Boa dramaturgia é uma colaboração entre seus muitos ‘eus’. Quanto mais múltiplas suas personalidades, mais fundo e longe você vai.


2. Teatro está mais próximo da poesia e da música do que da novela (literária).


3. Não há tempo limite para escrever peças. Pense no escrever como um aprendizado de vida inteira. Imagine que vai ter suas melhores idéias no seu leito de morte.


4. Escreva para organizar o desespero e o caos. Para viver intensamente. Para brincar de deus. Para projetar uma versão idealizada do mundo. Para destruir o que mais odeia no mundo e em si mesmo. Para lembrar e e esquecer. Para mentir para si mesmo. Para brincar. Para dançar com a linguagem. Para embelezar a paisagem. Para lutar contra a solidão. Para inspirar aos outros. Para imitar seus heróis. Para trazer de volta o passado e ressucitar os mortos. Para atingir a transcendência de si. Para lutar contra os poderes no comando. Para disparar alarmes. Para provocar discussões. Para estimular conversas sobre grandes escritores do passado. Para evoluir ainda mais a forma artística. Para perder-se em seu mundo fictício. Para ganhar dinheiro.


5. Escreva porque quer mostrar algo. Mostrar que o mundo é uma merda. Mostrar o quão frágeis são o amor e a felicidade. Mostrar os processos do seu ego. Mostrar que a democracia está em perigo. Mostrar o quão interconectados nós somos. (cada ‘mostrar’ é ativo e deve ser pessoal, profundo e verdadeiro).


6. Cada frase de diálogo é como um pedaço de DNA; contendo a peça inteira e sua tese; potencialmente revelando o início, meio e fim da peça.


7. Esteja preparado para arriscar sua reputação por completo cada vez que escrever, se não for assim, não vale o tempo da sua platéia.


8. Aceite seu bloqueio criativo. É a natureza salvando árvores e a sua reputação. Escute e tente entender sua origem. Geralmente o bloqueio acontece porque em algum momento do trabalho você mentiu para si mesmo e seu subconsciente não quer deixar você ir além até voltar, apagar a mentira, afirmar a verdade e recomeçar.


9. Linguagem é uma forma de entretenimento. Uma linguagem bela é como música bela: diverte, inspira, mistifica, ilumina.


10. Ritmo é chave. Use tantos sons e cadências quanto possível. Pense o diálogo como música percussiva. Pode variar a velocidade, número de batidas por linha, volume, densidade. Pode usar silêncios, fragmentos, frases alongadas, interrupções, sobreposições, atividade física, monólogos, bobagens, outras línguas.


11. Varie seu tom sempre que possível. Sobreponha alta seriedade com linguagem provocativa com beleza lírica com violência com humor negro com assombro e erotismo.


12. Ação não precisa ser óbvia. Pode ser o sólido aprofundamento da situação dramática ou os movimentos emocionais da sua personagem de uma condição psicológica para outra: da ignorância para compreensão, da fraqueza para a força, doença para completude.


13. Invista algo realmente pessoal nos seus personagens, mesmo que seja algo do seu pior ‘eu’.


14. Se o realismo é tão artificial quanto qualquer gênero, procure criar o seu. Se teatro é uma arte onde se faz obras únicas, você tem controle total do seu universo fictício. Quais são suas leis físicas? Como é a gravidade? O tempo? Quais as regras de causa e efeito? Como seus personagens se comportam nesse universo alterado?


15. Escreva com os seus órgãos. Com seus olhos, seu coração, seu fígado, sua bunda – escreva com o seu cérebro como o último recurso.


16. Escreva com todos os seus sentidos. Esteja preparado para desenhar na página: revele exatamente o que vê, sente, ouve, toca e que gosto tem esse mundo. Nunca deixe o design em aberto, isso inclui o elenco.


17. Encontre sua tribo. Eduque seus colaboradores. Leve fé no seu pessoal e seja fiel a eles. Busque compatibilidade estética e emocional com quem trabalha. Entenda a visão de mundo do seu diretor porque essa visão vai dar a cor do seu trabalho.

18. Busque ter seu próprio gênero. Grandes obras representam o gênero criado em torno da voz do autor. O gênero Chechov. O gênero Caryl Churchill.


19. Busque criar papéis que atores que você respeita seriam capazes de matar pela chance de fazer.


20. A forma segue a função. Tente refletir o conteúdo da peça na forma da peça.


21. Use a literalização da metáfora para discutir o estado emocional interno dos seus personagens.


22. Não tema arriscar um grande tema: morte, guerra, sexualidade, identidade, destino, deus, existência, política, amor.


23. Teatro é a explicação da vida para os vivos. Tente aliviar os ruídos conflitantes do viver, e crie algum padrão e ordem. Não é tanto uma explicação da vida quando uma receita para compreendê-la, uma carta de navegação, um confidente com respostas, o suficiente para guiar e encorajá-lo, mas não ditando o que fazer.


24. Arrisque extremos emocionais. Não seja puritano. Seja sexy. Seja violento. Seja irracional. Seja desleixado. Seja aterrorizante. Seja idiota. Seja colorido.

25. Idéias podem ser inseridas nas interações e reações da personagem; podem estar na música e poesia da sua forma. Você pensa e gera idéias constantemente. Uma peça tem de incorporar esses pensamentos, e esses pensamentos podem servir como a energia unificante da sua peça.


26. Uma peça deve ser organizada. Essa é outra palavra para estrutura. Você organiza uma refeição, seu guarda-roupas, seu tempo – por que não sua peça?


27. Se esforce para ser misterioso, não confuso.


28. Pense em informação numa peça como um soro no hospital – liberando gota a gota o suficiente para manter o corpo vivo, mas não demais de uma vez só.


29. Pense no escrever como uma batalha constante contra a inércia natural da linguagem.


30. Escreva em camadas. Tenha tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo numa peça em cada instante quando possível.


31. Faulkner disse que o grande drama é o coração em conflito com si mesmo.


32. Se mantenha por cima com o constante questionamento do seu trabalho. Reaja contra. Seja hipercrítico. Faça no próximo o que você tentou, mas falhou em conseguir no último.


33. Escute apenas as pessoas que investem no seu futuro.


34. Personagem é a obsessão materializada. Um personagem deve ser inacreditavelmente faminto. Não há descanso para aqueles personagens até que eles satisfaçam suas necessidades.

35. Em todas as suas peças faça questão de incluir ao menos uma coisa impossível. E não deixe seu diretor lhe convencer do contrário.

36. Um escritor não pode viver sem uma voz autêntica – o lugar onde você é mais honesto, mais lírico, mais completo, mais criativo e novo. É isso que você luta para encontrar. Mas a voz autêntica não sabe escrever, assim como a gasolina não sabe dirigir. Mas dirigir é impossível sem combustível e escrever é impossível sem o calor e a força da sua voz mais autêntica. Aprender a escrever bem é para workshops. Aprendendo bons hábitos e praticando muito. Mas encontrar sua voz verdadeira como escritor é com você, sua jornada - sua viagem particular, solitária, inexata, dolorosa, lenta e confusa. Professores e mentores podem aproximá-lo dessa voz. Com sorte e tempo, você chega lá sozinho.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Luna cool

comecei meu laboratório de dramaturgia organizada pelo Teatro Luna.
Uma vez por mês vou sentar numa mesa com Latinas para lermos nossos textos, trocar apoio mútuo e cobranças também. O ambiente perfeito para uma pessoa com sérias deficiências disciplinares como eu!
Lemos duas cenas da peça que comecei na aula do Chicago Dramatists e elas curtiram muito. Acharam com potencial ótimo... personagens super claros e very entertaining.
Decidi que preciso concluir ao menos uma das peças que tenho começadas. Um dos meus professores do Dramatists disse que a diferença entre um dramaturgo com textos montados e um sem textos montados é que o primeiro termina os textos. :)
Mas o que mais me chamou atenção com as meninas na terça-feira foi justamente a questão cultural.
Veja bem, eu estou acostumadérrima a grupos de mulheres. Faço parte de um women circle, que são grupos espirituais e acabei de fazer um espetáculo com 16 mulheres que ensaiam juntas desde Fevereiro. Ou seja.. não me falta experiência de participar de reuniões e grupos de americanas.
Mas... bastou eu chegar na sala e dividir a mesa com outras latinas e, imediatamente, me veio toda a familiaridade que sempre senti nesses grupos no Brasil.
Imediatamente, há um interesse na vida das pessoas, conta-se coisas íntimas que evocam compreensão de quem escuta, e um sentimento simplesmente de estar em casa!
Eu me senti em casa num grupo de dez mulheres onde eu apenas conhecia uma delas.
De certa forma, fiquei chocada com isso. Mas um "chocada" bom. Chocada feliz.
Chocada, porque me dou conta que de algum modo eu me americanizei um bocado e fui ficando impessoal, evitando essa intimidade imediata que a gente estabelece no Brasil e, pelo visto também em toda a América espanhola.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

irritação

O que fazer quando se está num projeto por amor, mas esse amor some?
Quando o trabalho com o qual nos comprometemos
tomou rumos com o qual não concordamos?
Quando até decorar falas se torna uma tarefa irritante,
porque tudo parece ruim demais,
chato demais,
longo demais,
idiota demais?

Detesto me sentir assim.

domingo, 17 de maio de 2009

sábado mod


Este fim de semana marca a inauguração da nova ala moderna do Museum of the Art Institute.
Desde que mudei para Chicago em 2001, acompanho a evolução dessa obra, e com um fim de semana inaugural com entrada franca (patrocinado pela Tar.get), eu tinha de ir conhecer o espaço logo no primeiro dia.



O prédio é lindo com uma ponte que leva do fabuloso Millenium Park, direto para o terceiro andar da modern wing, e para o restaurante novo dessa ala, Terzo Piano.




Na rua, o patrocinador do fim de semana popular organizava atividades para a família inteira, distribuia potato chips e água, além de embalava o dia belísismo com vários shows de jazz e dança.
Lembrei vividamente de minhas viagens à Europa, sempre na primavera nórdica, o céu polarizado num azul brilhante, a temperatura amena e o povo jogado nos gramados, sugando os raios do deus Sol.
Tantas vezes ao presenciar essas cenas, desejei ardentemente poder um dia viver num lugar assim com essa experiência. Ontem ali no Millenium, me senti mais uma vez no exterior. Quase esqueci de que essa cidade agora também é minha.
Dentro da modern wing, tudo é lindo. A luminosidade e amplidão da entrada me remeteram um pouco à Tate Modern.







A exposição temporária inaugural é de Cy Twombly e estava bem legal. Especialmente eu amei a série das Peonies.




Era com certeza um dia de multidões e, apesar de ser maravilhoso abrir as portas do museu para a população num dia sensacional de primavara, multidões trazem problemas.

A cada andar, observamos que mais e mais setores iam sendo fechados, isolados do público.
A agitação da equipe do museu acenava para a possibilidade de vandalismo e minha suspeita foi, infelizmente, confirmada.
Várias obras foram danificadas nesse dia de inauguração. Uma, eu soube em detalhes, foi por acidente e as outras, sinceramente, espero que também. Uma pena.

Para encerrar nosso sábado primaveril em downtown, brindamos com mojito e cervejinha belga ao ar livre. Just perfect.

sábado, 16 de maio de 2009

lip gloss

Lip gloss, desses mais grudentos, deveria ser proibido para qualquer pessoa que ama (ou afofa) gatos.
Leia-se: eu.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

enquanto isso, no século passado

Este fim de semana que passou tivemos um 'chá' com as senhoras do Harvard Observatory. As senhoras éramos nós, as atrizes do Unsung Stars, improvisando e recebendo pessoas como as astrônomas do século passado para tomar um chá conosco.
Eu achei no começo que isso não ia dar certo, que ninguém ia se interessar, que era uma bobagem sem tamanho.
Errei feio.
Não só gostei desse faz de conta, mas também o público adorou brincar conosco. Nossos 'visitantes' todos se empenharam em falar e se portar como em 1910, perguntando sobre nosso trabalho no 'Observatório' e também sobre curiosidades de nossa vida pessoal e nossos desafios como primeiras mulheres na ciência.
Teve um jornalista do Chicago Reader que pintou lá e amou. Não conseguia ir embora.
Foi divertido.
Essa iniciativa era parte de um fundraising da companhia. Ainda estamos precisando levantar muito mais dinheiro pra poder montar o espetáculo com todos os figurinos e objetos de época. O chá foi um sucesso tamanho que vamos incorporar algo do gênero às performances em si, quando enfim estas começarem.
Sei que sempre reclamo que em Chicago os processos de montagem de um espetáculo são curtos demais, mas este aqui está se demasiado longo e perdendo momentum.
Em junho temos dois fins de semana para testar o script, debatendo com o público no final. E lá vou eu decorar a montanha científica para mais uma apresentação que ainda não é the real thing.
Eu deveria estar mais empolgada depois do sucesso do chá, mas não estou.
Weird.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

verde aos pulos

Spring quer dizer primavera, mas também quer dizer 'mola', ou como verbo, 'saltar'.
Não podia ter um nome mais perfeito essa estação por aqui. Vide a progressão geométrica do reaparecimento da vida nos últimos dias.

Sábado 18 de abril
árvores sem nenhuma folha
Daffodils florescendo

Segunda 20 de abril
árvores começando a mostrar folhas

Terça 21 de abril
Dentes-de leão florescendo

Quinta 23 de abril
Magnólias em flor

Sábado 25 de abril
Tulipas em flor

Segunda 26 de abril
árvores com folhas: 30%!!!!!!!!!

Números de dias com pancadas chuva na última semana: 6
Temperatura máxima da semana: 30C!!!!!
Temperatura mínima: 4C. :(

Essa oscilação da temperatura tá fazendo um monte de gente gripar, e agora com o pânico extra que possa ser gripe suína.

Eu não me importo com as chuvas, desde que elas tragam dias quentes. :)
April showers bring May flowers.

terça-feira, 21 de abril de 2009

meu amigo google

O Google é meu amigo e manda vários visitantes pra cá. :)
Aqui estão algumas buscas reais, repito: reais, que trouxeram pessoas para esta página:


“FALA PARA UM TEATRO COM FANTOCHES FALANDO SOBRE FAZER O TESTE DO PESINHO”

Com todas essas maiúsculas dá pra ver que a busca é urgente. O teste é de pesinho de peso? Daqueles de balança? Ou você quer dizer teste do pezinho, de pé? Porque se for, aí, além de procurar por falas, devia também se dedicar um pouco mais à escrita, ou seus fantoches vão ensinar coisa errada para população.

“a onde eu encontro o peça da green”

Não sei. Não faço a menor idéia. Se você a char e for boa, me a vise.

“slide sobre comida de doente como por exemplo a sopa”

Por que ainda essa mania de achar que sopa é comida de doente?!!! Gente! Por favor, chega disso. Chá e sopa podem ser delícias sofisticadas para paladares de bom gosto e merecem ser apreciadas em qualquer estado de saúde. Tenho dito.

“como analisar um filme chamado um golpe do destino”

Essa não parece ter vindo de algum estudante preguiçoso querendo achar a lição de casa pronta na Internet?


“coseira pes e maos e neosaldina”

Sim, se você tiver uma reação alérgica à Neosaldina vai ter coCeira nos pés e mãos. Coseira não sei bem do que se trata, mas mesmo assim, saia do computador e vá ao pronto socorro. Agora!

“fiz amor com meu avô”

Sem palavras. Se você fez amor com seu avô e está procurando conselho psicológico não vai achar aqui. Nem em algum outro blog. Recomendo urgentemente uma visita ao psiquiatra.

“m e y palavras doidas para colocar no orkut”


Essa é bem específica. E pro orkut? Não perca seu tempo. Quer um conselho? Se você precisa forçar a barra pra ter algo criativo no seu perfil é porque naturalmente não tem esse instinto doidinho que procura. Fazer pose de descontraído e maluquinho é o tipo da mentira que tem perna bem curta.

“quais as transformações que ocorreram na pratica de ensino do professor Matty no filme escola da vida”

Será a mesma pessoa que queria a análise do ‘golpe do destino’? Uau. E veio parar aqui... De novo. Pode até ser que eu fale de algumas transformações, mas são geralmente de cunho pessoal. Não sei se falo em alguma prática de ensino, também não me lembro do nome “Matty” aparecer em qualquer post meu... Agora, escola da vida, bom, nessa estamos todos.

sábado, 18 de abril de 2009

nenhum vintém

Assisti na quinta-feira uma peça incrível escrita pelo romeno Matei Visniec e encenada pelo TrapDoor Theatre. O trabalho recebeu críticas ótimas e de fato merece cada uma delas. "Horses at the Window" é composta por três vinhetas nas quais sempre o homem vai para a guerra. Na primeira é a história de uma mãe e filho, depois filha e pai e por último, um casal. Depois de cada partida, chega de um homem de branco informando que a pessoa morreu.
O texto e a interpretação são carregados de absurdos, como deve ser para quem vive um tempo de guerra mesmo. Fica evidente o desencontro das necessidades e medos de cada dupla de personagens. As interpretações são fenomenais e extremamente físicas. O TrapDoor é conhecido por seu trabalho de fisicalidade extenuante. São pra mim um sopro de vitalidade na cena teatral realista da cidade.
Em suma, fiquei babando.
Porém, quando terminou a performance, a diretora da companhia - e também atriz - Beata Pilch comenta que o TrapDoor não tem condições de pagar seus atores, e estavam aceitando doações.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Em suma, fiquei chocada.
Tá certo que o teatro deles é pequeno (acho que 50 lugares, o que é comum pra Chicago) e com a bilheteria eles devem apenas conseguir cobrir os custos de funcionamento. Aqui também é normal não se ter muito patrocínio cultural... Mas porra! Uma companhia com esse talento, 15 anos de palco, vários prêmios... e os atores ali, sensacionais, dando absolutamente tudo de si e trabalhando absolutamente de graça.
Essa é a minha realidade aqui.
O teatro profissional nos Estados Unidos se divide em duas instâncias: sindicalizada (Equity), não sindicalizada. Apenas os teatros grandes, que são Equity garantem algum cachê ao ator. E eu, não sendo sindicalizada, mas já tendo feito mais de dez peças em teatro profissional, estou acostumada a geralmente não receber para trabalhar, sempre esperando que ali, na próxima oportunidade, vou ter meu big break, trabalhar para algum teatro mais bambambam e receber alguma compensação financeira.
Só que, o TrapDoor, apesar de não ser Equity, estava na minha lista de teatros bala. E caí na real de ver que, pelo visto, compensação financeira era pura fantasia da minha cabeça.
Ano passado eu já tinha tido uma reality call do gênero quando vi uma montagem muito inovadora e visceral da "Ópera dos Três Vinténs" feita pelo The Hypocrites, dentro do Steppenwolf (que é um teatro Equity, grande - mas eles estavam só usando o espaço pelo visto). Eram umas 30 pessoas e eu soube que ninguém estava recebendo cachê.
Eu não faço a menor idéia de como funciona cachê de teatro para ator no Brasil, mas sinceramente estou curiosa para saber como é.
O que mais me enlouquece é pensar que moro numa metrópole no país mais rico do mundo, dedicada ao teatro e as artes. E aqui nesta metrópole, mesmo sendo um ator sensacional, com anos de carreira, você trabalha apenas no amor.
Ou seja, tenho que repensar muita, mas muita coisa.

terça-feira, 14 de abril de 2009

mais um par de asas

Comecei um curso de dramaturgia. Para escrever dramarturgia.
Há uns três anos já que eu venho entretendo essa idéia. Aliás, tenho três peças já começadas, duas no computador e uma na minha cabeça. Isso sem contar um roteiro de longa que estou ajudando meu marido a escrever.
Enfim... essas coisas todas, essas histórias todas ficam povoando a minha cabeça, mas sendo über- indisciplinada, não sento no computador e abro meu final draft pra escrever.
Minto, tem uma peça com já 12 páginas, um belo começo e a promessa de uma história bem intrigante, onde empaquei. Não sei por onde ir. Depois que comecei a escrever a trama mudou... começou a me levar por caminhos que eu não estou sabendo acompanhar - e também morro de medo de fazer qualquer coisa piegas.
Depois então de três anos de muito debate interno, tomei coragem e me inscrevi no Chicago Dramatists. Uma vez por semana tenho aula, para me instrumentar, para fortalecer meu processo e exercitar a arte de escrever.
Estou vendo aí uma grande possibilidade pra mim. Primeiro eu tinha medo de começar a escrever, 'garrar gosto' e acabar parando de atuar. No entanto, tenho mais e mais lido blogs de colegas atores que também escrevem, e isso me estimula.
Ainda não posso sequer pensar em escrever algo para mim mesma. Assim que me imagino num determinado papel, imediatamente, pinta uma censura. Começo a editar minha criação. Acho péssimo isso. Quero que meu escrever seja meu escape, o terreno para a expressão desvairada da minha criatividade. Óbvio que pretendo lapidar e editar, mas não dá pra fazer isso enquanto acesso o lado rico da minha psiquê, sob o risco de empobrecer meus temas. Cada coisa a seu tempo.
Antes de tudo, preciso parir essas histórias. Tirá-las de mim. Assim, do lado de fora, posso avaliá-las, analisá-las e decidir se elas tem condição e qualidades para irem adiante. Talvez algumas delas simplesmente precisem vir à luz para abrir espaço para outras histórias aparecerem. Ainda não sei. Mas agora estou decidida a descobrir.
Também me dei conta de uma coisa maravilhosa: escrever é um ofício que vai aliar minhas duas formações, combinando de forma absolutamente complementar, o jornalismo com o teatro, a arte de escrever com a arte de interpretar.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

workshop gratuito pra quem está em SP

Mesmo anos depois de eu ter parado de trabalhar com televisão, eu ainda sigo na lista de vários divulgadores culturais. Muitas vezes fico sabendo de eventos, espetáculos, ou cursos que parecem superbacanas, mas não tenho muito o que fazer com a informação.
Portanto, decidi que vou começar a repassar algumas dicas aqui na minha querida GreenRoom.
Até porque foi via email que fiquei sabendo do espetáculo Sexo Verbal, em São Paulo. Na noite que cheguei no Brasil, em janeiro, fomos eu, Rodrigo e o queridíssimo Leandro Bier assistir e foi ótimo.
Aí vai, então, uma dica pra quem curte movimento. Aliás, adorei a palavra "coreodramaturgrafia".
Me lembrou algo que a Marta Cotrim disse no workshop de Máscara Neutra que fiz com ela na CAL. Marta falava que há três tipo de ator, não excluindo que uma mesma pessoa possa usar mais de um estilo: o ator que interpreta, o ator-dramaturgo (que improvisa) e o ator-cenógrafo (teatro-físico).


WORKSHOP GRATUITO

COM INTEGRANTES DA CIA. CORPOS NÔMADES
De 14 a 18 de abril de 2009 – inscrições por e-mail: ciacorposnomades@gmail.com, encaminhar o currículo em anexo.
Aulas de criação e técnica em dança contemporânea, partindo da linguagem que a Cia. Corpos Nômades investiga e desenvolve: o corpo/intérprete, sampleamento de movimentos, imagens e sons, a improvisação como processo cênico e a idéia sobre coreodramaturgrafia, utilizando como inspiração o espetáculo Hotel Lautréamont – Os Bruscos Buracos do Silêncio, em cartaz no O Lugar, sede da Companhia (Rua Augusta, 325)
De terça a sexta, das 17h30 às 20h00, sábado das 15h00 às 17h30 (ateliê coreográfico). No sábado, às 16h00, os participantes mostrarão ao público o resultado do trabalho alcançado nesses encontros.
CIA. CORPOS NôMADESDireção João Andreazzi Telefax: 55-11-3237-3224 O LUGAR - Cia. Corpos NômadesRua Augusta, 325 - São Paulo - Brasil
www.ciacorposnomades.art.br
ciacorposnomades@uol.com.br
ciacorposnomades@gmail.com

quarta-feira, 8 de abril de 2009

quem desdenha quer comprar

Continuo nos ensaios de Unsung Stars. É meio estranho pra mim fazer todo esse processo sem ter uma data definida de estréia.
A diretora está em negociação com o planetário, para fazermos a temporada lá. Seria perfeito pelo trabalho ser todo a respeito de astronomia, e também porque atingiríamos um público muito maior, não necessariamente público de teatro.
Como já participei do processo criativo desse espetáculo em 2007, quando ajudei a escrever, vários dos pontos que estamos explorando agora são total dejá-vu pra mim.
Embora eu tenha ganho desta vez uma nova personagem, o que dá um colorido todo novo e me abre a possibilidade de milhares de novas descobertas e explorações a respeito dela, eu me encontro meio enjoada no momento.
Não sei o porquê disso.
Todo processo de ensaio, eu fico super empolgada no começo e quando estamos perto da estréia. Mas durante... tem sempre uma baixada de onda, de energia. Fico me enrolando pra ir aos ensaios, me faço de aborrecida pra sair de casa.
Não que eu chegue atrasada. E não que meu aborrecimento dure além do marco da porta do estúdio da Moving Dock.
Assim que entro lá, sempre acabo me divertindo. Adoro encontrar as pessoas e sem dúvida me dedico ao trabalho que estamos fazendo.
Na verdade, tem muito a ser feito ainda. Os textos estão mudando, as cenas estão mudando - são as vantagens de um trabalho que parte do ator.
Isso me lembra um pouco 'tomar banho' quando eu era pequena. A mãe gritando no pátio, chamando, e eu me escondendo, enfiada no miolo de um limoeiro, me enrolando e fazendo de tudo pra não ir. Mas depois que entrava embaixo do chuveiro, como toda criança, brincando com sabão e xampu, esquecia que tinha hora pra sair.

quinta-feira, 26 de março de 2009

martini shot

Aprendi esse termo Hollywoodiano na madrugada de domingo para segunda-feira.
Eram quatro da manhã quando finalmente terminamos de filmar minha última cena para o "Fallen Souls". Claro que, como toda boa lei de Murphy que se preze, a minha cena mais importante no filme inteiro foi a última da madrugada, quando eu já estava exausta por estar no set há mais de nove horas.
Mas valeu.
O fato de o diretor ter me dado uma atençãozinha especial fez muita diferença. Me chamou de canto, me incentivando, ajudando assim com que eu desse o melhor de mim naquele momento.
Sorte também que a cena acontecia justamente após uma batalha entre eu (uma arcanja) e o minion (um demônio menor). Ou seja, eu pude usar o cansaço físico da Petrucia (atriz), em parte como a exaustão física da Gabriele (personagem) pós-batalha.
Mais uma vez, posso dizer que foi super bom trabalhar com o Steve Hiller. O cara tem uma puta experiência em Hollywood e é super gente fina.
Pelas duas da matina, comecei a reparar que a equipe técnica resolveu pegar mais leve e abrir umas latinhas de M.iller Light. Embora eu não seja fã da marca, naquela altura, fiquei salivando por uma cervejinha também.
Assim que o diretor ficou contente com os takes, e gritou "wrap", pra indicar o final do dia, eu imediatamente fui averiguar se ainda restava alguma lata no cooler do meu desejo. E restava. E eu abri a M.iller bem feliz, com toda a satisfação de dever cumprido.
Estou envolvida com esse filme há mais de três anos. Passei por várias alterações de elenco, roteiro e equipe nessa longa trajetória em busca de verbas pra poder rodar.
E agora a-ca-bou. Ao menos a minha parte.
Enfim, quando Ric Arthur, meu colega de cena e herói do filme, me viu com a cerveja na mão, ele perguntou se era meu martini shot. E depois de me explicar o termo usado para indicar um drink que vem após a última filmagem, ou o último shot de alguém (um trocadilho com "shot" - de filmagem e "shot" - de bebida), eu sorri e brindei -ao som de um aliviado, "oh yeah".

sábado, 21 de março de 2009

equinócio

Ontem começou a tão esperada primavera. Vi duas mini tulipas amarelas na frente do prédio. As primeiras corajosas a se aventurarem nessas temperaturas que ainda apenas insistem em beirar o positivo.
Outro sinal da nova estação é a chegada da estupidamente estridente e insuportável musiquinha do caminhão de sorvete.
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Acabei de ver "Two Lovers". Belo filme. E um trabalho belíssimo, visceral e inesquecível do brilhante Joaquin Phoenix (e também da Gwineth que estava ótima). Vamos ver agora se ele vai seguir insistindo que abandonou a carreira de ator.

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Acabo de assistir da janela algum vizinho desconhecido do bairro chegando de skate carregando uma tela imensa em branco, pronta para pintar, e mais uma sacola da Pearl, loja de materiais de arte.
Realmente, nada como uma subida no termômetro e a mudança na luz solar pra acordar a criatividade e a vontade de viver intensamente em todos nós.
Agora sim começa o ano!

sexta-feira, 20 de março de 2009

transitando entre os séculos

Vi ontem no Jornal Nacional (via Globo int.) que foi lançado no Brasil o novo vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Com certeza preciso ter acesso a esse livro. Morando longe, estou bastante por fora das modificações e sigo escrevendo à moda antiga.
Quando criança, lembro-me bem de ficar surpresa ao encontrar a palavra "assúcar" nos cadernos de receita da minha avó materna. E mais velha um pouco, achar esquisito minha outra avó escrevendo "húmido", assim, com "H".
Hoje percebo que vou ter de fazer um esforço razoável para me atualizar, evitando que eu me sinta uma senhora do século anterior me fazendo passar por uma mulher moderna com blog no século XXI.
Ensaiando para "Unsung Stars" tenho pensado muito nos nossos hábitos humanos. Nossas modas, nossos costumes e posturas que se alteram de uma época para a outra.
Essas mulheres astrônomas que estamos retratando no espetáculo são da virada do século XIX para o XX. Portanto, uma intensa pesquisa de época é absolutamente necessária para compor a personagem.
Imersas em fotografias do observatório de Harvard naquela época (as poucas fotos a que temos acesso), estudos de moda, costumes, biografias, filmes que retratam 1900 a 1920, vamos montando o quebra-cabeça do que teria sido a vida dessas mulheres dentro e fora do ambiente de trabalho.
Já elas estarem trabalhando com ciência era algo absolutamente inovador numa época em que mulheres podiam trabalhar apenas como enfermeiras, professoras primárias ou operárias de fábricas. Aí mora justamente a importâncias dessas nossas estrelas não cantadas, abrindo caminho para a população feminina participar do pensamento e do fazer científicos.
O processo da companhia The Moving Dock é todo baseado no método de Michael Checkhov, ou seja, tudo parte do corpo do ator/ atriz.
É uma delícia compor personagens dessa forma, com tempo de explorar qual o centro dominante, seja o desejo/vontade (pelvis), sentimento (peito), ou a cabeça; encontrando também imagens que nos auxiliem a compreender e incorporar a forma como uma personagem específica expressa cada um desses centros.
No caso de Cecilia Payne-Gaposhkin, a astrônoma que eu estou fazendo, o centro mais importante dela é a mente -com a imagem de explosões estelares em constante expansão para auxiliar meu corpo a expressar minha certeza de sua compulsão visionária.
No centro do coração Cecília é toda praticidade, não se permitindo sentir. Essa é uma mulher que morreu de câncer no pulmão em 1979, sem um resmungo de dor sequer. Ela não sabia lidar bem com emocões intensas, muito menos expressá-las, mas era ao mesmo tempo amável com as pessoas.
Para esse centro, escolhi a imagem de uma balança, dessas antigas com pesinhos sendo acrescentados de um lado e outro, sempre em busca de um contido equilíbrio.
Para o centro da vontade, minha imagem para Cecília é um touro puxando o arado - de energia inesgotável, devagar e certo uma vez que posto em movimento. Ela era de uma determinação notável sendo a primeira mulher a receber um PhD em Radcliffe ousando afirmar de que são feitas as estrelas.
Ela veio da Inglaterra para os Estados Unidos porque descobriu que jamais conseguiria trabalhar com astronomia no seu país de origem. Cruzou um oceano atrás de uma oportunidade porque se recusava a ser professora infantil depois de ter terminado uma faculdade em física e astronomia.
Ela ajudou outros, um Russo, Sergei Gaposhkin a vir para os EUA também para poder trabalhar. Depois casou com ele, bem tarde (para os padrões do período), já aos 34 anos, e teve três filhos, dos quais cuidou enquanto escrevia papers, ensinava em Harvard e viajava o mundo apresentando suas pesquisas.
Ela tinha medo de altura, se achava feia e tinha um ouvido musical perfeito. O primeiro livro que ela lembra de sua infância era a Odisséia de Homero, cujas palavras ela ouviu repetidas vezes enquanto ouvia atenta, acomodada nos joelhos de sua mãe.
Cecília é um prato cheio. Quanto mais mergulho na sua autobiografia, mais me encanto com ela.
Ainda estou em plena fase exploratória, buscando imagens, movimentos, sensações do que seria ser Cecília chegando na América em 1923 para uma fellowship que mudaria sua vida.
Tanta ebulição numa sociedade onde muito pouco podia ser demonstrado.
Aqui um dos grandes desafios é encontrar a vida interna da personagem e expressá-la através da silhueta vertical, os gestos pequenos sempre junto ao corpo, a delicadeza da linguagem da época Eduardiana, de uma sociedade polida e que se sentia confortável sendo assim.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

tentáculos da globalização

Deliguei a televisão assim que o Oscar foi pro Slumdog.

A indústria do cinema americano deu seu maior prêmio a um filme indiano feito por britânicos.
Como bem disse meu marido, se queriam premiar Bollywood, então que premiassem Bollywood e não uma turma de ingleses.

E ter ganho melhor roteiro adaptado também... que puta injustiça. O filme é divertido, mas cheio, tapado, amontoado de clichês.

Tem gente que disse que o filme é 'feelgood'. Nem achei tanto isso. Me diverti no cinema, não nego. Mas levar tanta estatueta.... me aborrece profundamente.

Anyway, este fim de semana, eu que não sou do samba consegui curtir um Carnaval na neve. Super divertido, com dançarinos a rigor, música ao vivo, DJ, confete e serpentina.

O Logan Auditorium parecia um clube normal de qualquer cidade brasileira com seu baile de carnaval, bem como eu me lembro, exceto que sem baixaria. E tinha vários gringos, de todos os continentes, curtindo lá também. Ouvi Russo (ou seria Ucraniano?) na fila do banheiro, vi Africanos apreciando as festividades, americanos arriscando passinhos e orientais tomando caipirinha.
Teve marchinha, funk, regaton, sambaraegge, pagode baiano...

Tava tudo de bom.

E pra entrar na brincadeira eu botei uma peruca loira - herança da Matilda do Enrico IV que fiz em Junho passado.

Metade dos meu conhecidos não me reconheceu. Aliás, nem eu! Eternos dois segundos se passaram até eu me dar conta que era eu mesma quando vi essa foto:




Dos desfiles vi pouquíssimo. A gente tem a tradição de sempre acompanhar alguma coisa via G.lobo internacional. Este ano, como em todos, fizemos um prato brasileiro, abrimos uma cervejinha e ligamos a TV na segunda-feira de Carnaval.

Mas não foi pra olhar o Rio... o Rio até veio depois, mas primeiro veio o L Word que a gente grava no Tivo.

O prato era um escondidinho de frutos do mar. Botei até dendê na mistura de camarão com lula e scallops. Os 'frutos' do mar vinham bonitinhos, limpos e congelados num mesmo pacote. O camarão era da Tailândia. O scallop, do Chile. E a lula, do Vietnã. Eita globalização culinária!!!

Como disse meu marido, "os bichinhos só se conheceram depois de mortos".

Meu marido está virando meu guru de plantão.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

De volta, mas aos poucos

Horror dos horrores! Estou há quase um mês sumida do meu blog!
Eu deveria ter colocado uma plaquinha, do tipo "Já Volto" pra avisar do meu sumiço.
Passei três semanas no Brasil e voltei fazem três dias apenas. Foi uma maratona envolvendo quatro estados e muito pouco computador. Eu realmente fiquei offline, e apenas conferia emails nas parcas oportunidades que se apresentaram em obscuras lan houses por aí.
Em termos culturais a viagem incluiu dois espetáculos: "Sexo Verbal" no Casarão do Belvedere em São Paulo, e "A mulher que escreveu a Bíblia" - com a sensacional Inez Viana - no Rio.
Vou blogar com carinho sobre os dois na sequência, só não queria deixar o blog parado mais um dia à espera de uma atençãozinha qualquer.
Também aproveito pra comentar que a passagem da Companhia Triptal por Chicago continua dando o que falar.
Acabo de receber a Performink, publicação especializada da indústria do entretenimento aqui na cidade, e lá está uma foto da peça que eu assisti, bem na capa!
O trabalho cuidadoso e inusitado do staging dado pelo diretor Andre Garolli é mencionado como "brilhantes reimaginações" das peças de O'Neill.
Agora com a nova reforma ortográfica, me pergunto, esta minha invenção traduzística, reimaginação, fica com ou sem hífen???
:O

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Estrelas Esquecidas

Em 2007 participei de uma criação coletiva com o Studio da Moving Dock de um espetáculo contando a história das primeiras mulheres astrônomas do Harvard Observatory, que começaram a trabalhar lá como 'computadoras' , calculadoras de estrelas, no final do século XIX.
Este é um trabalho muito querido pra mim porque ajudei a escrever e a contar a história dessas mulheres que tomaram uma pequena brecha e abriram portas para todas as mulheres cientistas.
A Moving Dock acaba de ganhar um prêmio de ciências, uma verba para montar o espetáculo completo e eu estou felicíssima com isso.
Como apenas eu e mais uma colega do cast original estamos disponíveis para essa próxima fase, a companhia está fazendo auditions para o elenco, totalmente feminino.
Domingo eu estava lá, ajudando, acompanhando e assistindo os grupos que vinham fazer o teste. Foi mega interessante. Cada grupo tinha uma dinâmica diferente.
Eu nunca tinha assistido auditions antes, e a experiência é inesquecível. De assistir minhas colegas dando tanto de si, com suas inseguranças e também sua arte. Bonito.
A notícia do prêmio que Unsung Stars (nome do projeto) recebeu saiu também na mídia.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

teatro brasileiro em Chicago



A Cia. Triptal de São Paulo está participando de uma série de espetáculos de textos de Eugene O'Neill promovida pelo Goodman Theatre.

Além da Triptal, tem uma outra companhia estrangeira (Toneelgroep de Amsterdam)participando desta série que se propõe explorar a transposição dos textos de O'Neill dentro de uma visão do século XXI.

Fui conferir "Zona de Guerra" este fim de semana e fiquei encantada com a visão do diretor André Garolli sobre o texto.

A performance tinha legendas projetadas em inglês, e eu e meu marido éramos, acredito, os únicos brasileiros na platéia.

Depois do espetáculo, ficamos conversando com André, e foi uma troca ótima. Eu confessando que acho o teatro em Chicago em grande parte entediante por sua sempre preferência pelo realismo, e ele comentando que as vezes no Brasil a fisicalidade é tão grande que fica trabalhoso tirar os excessos quando se quer uma estética mais realista mesmo.

Foi uma delícia ter ido assistir Zona de Guerra, e tenho certeza que está sendo muito bom para artistas daqui poderem também testemunhar estas outras visões e formas de trabalhar.

A platéia do Goodman adorou e não parava de aplaudir. Acho que pra eles também é refreshing poder assistir alguma coisa que foi preparada com mais tempo, e não com os ensaios a toque de caixa de três a quatro semanas apenas que a gente tem aqui.

Eu especialmente curti muito um tableau na abertura que remete direto ao Guernica do Picasso. André contou que esta cena tinha justamente surgido de uma improvisação durante os três meses e meio que eles tiveram pra ensaiar.

Eles ainda vão fazer "Longa Viagem de Volta pra Casa" e "Cardiff" aqui no Goodman e estão adorando a recepção que a equipe do teatro está dando pra eles, em termos de apoio e acomodações. Mal sabem eles que isso de forma alguma é a regra aqui na cidade e que eles estão tendo a sorte de terem sido convidados por um teatro com tantos recursos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

26 negativos

é a temperatura lá fora. Preciso dizer mais?

O portão não abre pra sair com o carro.


Estalagtites se formam na varanda dos fundos.

















O horror do gelo junto à porta e cobrindo a tomada.

Exaustão de lidar com os elementos.
Ao menos alguém está curtindo todo este gelo.



quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

slumdog millionaire

Por que mesmo que Slumdog ganhou o prêmio de melhor filme no Golden Globes?
Fui ver e não entendi o motivo...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

saindo da toca



Hoje tive que praticamente desenterrar meu carro para poder sair na neve. Assim são os perrengues do inverno.


Ontem no entanto, levamos minha cunhada e sobrinho para visitar Milwaukee. A gente adora levar visitas lá por causa do fantástico, fabuloso, incomparável prédio do Milwaukee Art Museum, projetado pelo meu arquiteto favorito: Santiago Calatrava.
O museu em si é uma obra de arte.
Esta vista ficou meio 'branco sobre branco' (ainda mais contando o meu casaco), mas geralmente a visão do museu é mais impactante, com um céu azul atrás e um lago Michigan menos congelado.
As asas do teto do prédio são na real uma estrutura móvel que abre e fecha regulando a luminosidade e o calor internos. Tem até nome, as famosas asinhas, 'Burke Brise Soleil'.
As formas e a cor me remetem a gaivotas ou um barco, o que integra perfeitamente com a localização. A construção é tão orgânica e sensorial, que me sinto num templo sempre que entro lá.



Na entrada tem uma obra do Chihuly, um artista que faz coisas geniais em vidro. Ele é craque em fazer interferências em espaços não convencionais, como estufas de plantas ou muradas e jardins de castelos europeus. Sempre que vejo uma peça dele, não consigo deixar de sorrir.
Me traz uma alegria ver tanta cor em formas que lembram coisas de infância, canudinhos, balões torcidos, minhoquinhas coloridas...
Mas o preço não tem nada de lúdico. Em Las Vegas, dentro do Bellagio tem uma loja dele. Um prato-flor - daquelas peças que a gente colocaria numa mesa de centro - com uns 20 cm de diâmetro custava mais de quatro mil dólares. Mas, quem sabe, um dia eu possa ter um Chihuly em casa.