sábado, 18 de julho de 2009

A guerra do fazedor de brinquedos

Essa semana encerrou a temporada de "Toymaker's War" dentro do Alcyone Festival. Foi bem bacana a experiência de fazer um espetáculo com texto mais pesado, tocante, e meu trabalho foi muito elogiado.

Em segundos, eu saía do meu jeito bubbly de ser, com a vitalidade dos meus trinta e poucos, e me transformava em um ser mitológico, de idade avançada, lembrando em muito o arquétipo da feiticeira que mora nas profundezas da floresta. Por meu papel ser apenas físico, eu estava sempre tranquila antes das apresentações. Um contraste agradável para o meu tradicional alterado estado de nervos antes de qualquer performance.

A história se passa entre Bósnia em 1995 e Canadá nos dias atuais, quando uma jornalista tem que revisitar seu passado cobrindo a guerra da Bósnia, quatorze anos atrás, e redimir suas escolhas, feitas quando era apenas uma repórter iniciante. E, não, eu não era a jornalista. Sequer fiz teste para o espetáculo. Fui chamada pelo diretor pra fazer o papel de Stara Zena - uma espécie de anjo da morte, deusa do além que aparece para as pessoas que estão prestes a morrer ou que precisam transformar profundamente partes de si mesmas.

Para o movimento dela, eu treinei com uma coreógrafa, e como parte do figurino, usava uma máscara, bastante horripilante.

Eu basicamente contracenava com a jornalista (como na foto aí ao lado), mas no cast tinha uma menina muito fofa de dez anos, Julia, que era a nossa mascote. Julia fazia Lejla, que me via como Stara Zena.
Quando eu punha a máscara, eu e Julia brincávamos de filme de terror no backstage. Em cena, eu a levava morta, como uma avó que guia sua neta mais querida.

Todos os atores estavam cientes de que precisavam desviar de mim nas entradas e saídas de palco em lugares estreitos, pois eu via muito mal com a máscara e morria de medo de tropeçar e causar algum desastre cênico. Na nossa última apresentação, após eu desejar break a leg pra Julinha, ela virou-se, pegou minha mão e disse: "Pra você também. E muito cuidado andando por aí com a máscara, não quero que você se machuque". !!!!

Foi a coisa mais adorável que eu poderia ter ouvido naquele momento. Me senti totalmente Stara Zena: poderosa, porém fisicamente frágil; uma vovó, recebendo cuidados e atenção da sua netinha.

Perfeito!

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