sábado, 18 de abril de 2009

nenhum vintém

Assisti na quinta-feira uma peça incrível escrita pelo romeno Matei Visniec e encenada pelo TrapDoor Theatre. O trabalho recebeu críticas ótimas e de fato merece cada uma delas. "Horses at the Window" é composta por três vinhetas nas quais sempre o homem vai para a guerra. Na primeira é a história de uma mãe e filho, depois filha e pai e por último, um casal. Depois de cada partida, chega de um homem de branco informando que a pessoa morreu.
O texto e a interpretação são carregados de absurdos, como deve ser para quem vive um tempo de guerra mesmo. Fica evidente o desencontro das necessidades e medos de cada dupla de personagens. As interpretações são fenomenais e extremamente físicas. O TrapDoor é conhecido por seu trabalho de fisicalidade extenuante. São pra mim um sopro de vitalidade na cena teatral realista da cidade.
Em suma, fiquei babando.
Porém, quando terminou a performance, a diretora da companhia - e também atriz - Beata Pilch comenta que o TrapDoor não tem condições de pagar seus atores, e estavam aceitando doações.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Em suma, fiquei chocada.
Tá certo que o teatro deles é pequeno (acho que 50 lugares, o que é comum pra Chicago) e com a bilheteria eles devem apenas conseguir cobrir os custos de funcionamento. Aqui também é normal não se ter muito patrocínio cultural... Mas porra! Uma companhia com esse talento, 15 anos de palco, vários prêmios... e os atores ali, sensacionais, dando absolutamente tudo de si e trabalhando absolutamente de graça.
Essa é a minha realidade aqui.
O teatro profissional nos Estados Unidos se divide em duas instâncias: sindicalizada (Equity), não sindicalizada. Apenas os teatros grandes, que são Equity garantem algum cachê ao ator. E eu, não sendo sindicalizada, mas já tendo feito mais de dez peças em teatro profissional, estou acostumada a geralmente não receber para trabalhar, sempre esperando que ali, na próxima oportunidade, vou ter meu big break, trabalhar para algum teatro mais bambambam e receber alguma compensação financeira.
Só que, o TrapDoor, apesar de não ser Equity, estava na minha lista de teatros bala. E caí na real de ver que, pelo visto, compensação financeira era pura fantasia da minha cabeça.
Ano passado eu já tinha tido uma reality call do gênero quando vi uma montagem muito inovadora e visceral da "Ópera dos Três Vinténs" feita pelo The Hypocrites, dentro do Steppenwolf (que é um teatro Equity, grande - mas eles estavam só usando o espaço pelo visto). Eram umas 30 pessoas e eu soube que ninguém estava recebendo cachê.
Eu não faço a menor idéia de como funciona cachê de teatro para ator no Brasil, mas sinceramente estou curiosa para saber como é.
O que mais me enlouquece é pensar que moro numa metrópole no país mais rico do mundo, dedicada ao teatro e as artes. E aqui nesta metrópole, mesmo sendo um ator sensacional, com anos de carreira, você trabalha apenas no amor.
Ou seja, tenho que repensar muita, mas muita coisa.

Um comentário:

Cynthia Falabella disse...

poxa adorei seu blog! to procurando texto para montar...se tiver alguma idéia...! bjos