Fevereiro de 2007 eu passei na cidade maravilhosa fazendo aulas na CAL. Eu tava com uma vontade imensa de atuar em português. Eu só atuei em português quando menina, e aquela não sou mais eu. Só que foi bem na época da minha paixão doida pelo teatro físico. Resultado, acabou que fiz várias aulas ligadas à fisicalidade, e quase nada à palavra.
Eu me pergunto sempre que liberdade sensacional seria expressar o texto na minha língua mãe! Quantas nuances mais, quantos duplos-sentidos e quantos sotaques e tiques de classe social deixariam de me escapar e coloririam minha expressão de mais complexas formas humanas?
Ou não. Há uma professora minha que disse que talvez eu também use o idioma como uma máscara. Que seja talvez mais fácil eu desnudar a alma me escondendo atrás do inglês.
Mostrando postagens com marcador estar no palco. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador estar no palco. Mostrar todas as postagens
domingo, 14 de dezembro de 2008
sábado, 22 de novembro de 2008
por inteiro
Se na vida a gente pode adiar decisões e deixar que os fatos escolham por nós, no palco não temos esta opção.
Ali toda atenção é pouca. A presença integral dos sentidos é condição obrigatória, temos que estar preparados para qualquer resposta imediata a tudo que acontece. Estar a frente de uma platéia, ao vivo, é um convite para o inesperado.
E nosso compromisso com o 'ensemble', o grupo - como os americanos chamam - é ajudar uns aos outros a nos sairmos todos bem. We help each other look good.
Tem um lance de confiança que rola. Confiança que se alguém esquece ou troca alguma coisa, todo mundo ajuda a retomar o curso do que precisa ser feito.
Também há a segurança de que, no final das contas, a história é nossa! Nós que estamos contando, portanto podemos fazer adaptações necessárias caso haja algum acidente de percurso.
Quinta-feira fiz duas apresentações seguidas de Quiltmaker's. Tivemos pequenos probleminhas nas duas, texto trocado, figurino esquecido... E nas duas tudo se resolveu e chegamos ao fim como se nada tivesse acontecido - ao menos para quem estava assistindo.
Para a platéia que não sabe o que esperar minuto a minuto, tudo é parte do espetáculo, e se não deixarmos transparecer nenhum desespero e, graciosamente, procedermos nas correções e soluções, tudo fica bem.
A maior prova disso eu tive anos atrás numa peça chamada Blade. A luz apagou durante um monólogo da minha personagem. Eu vi a luz indo... e, mesmo em pânico, segui falando. Quando fiquei na absoluta escuridão, não tive como não ficar reticente, dei uma pausa, que deve ter sido de dois segundos, quando a luz voltou e pude retomar e concluir.
Pós show, conversando com uma espectatora e um colega, eu comentei do blecaute acidental, e ela disse ter achado que era parte do espetáculo. Ela entendeu que aquilo significava que a minha história continuava além do que eu estava falando e, como se fosse um corte de cinema, indicava uma passagem de tempo, retomando quando eu concluía meu argumento.
Mesmo quando estamos calados em cena, temos de estar presentes, e ativos! Não dá pra ficar fazendo a lista de supermercado, recapitulando o problema com a companhia elétrica, ou além de correr o risco de perder uma deixa, perdemos o pique da nossa energia. Ao removermos nossa atenção dos acontecimentos, abrimos uma brecha para a platéia remover a deles.
O prazer e comprometimento do ator são as atitudes que mais auxiliam a transportar quem nos vê para dentro da peça, e atingir a tão fantástica suspension of disbelief, quando a descrença dá lugar a fantasia e o público embarca por inteiro no nosso universo.
Ali toda atenção é pouca. A presença integral dos sentidos é condição obrigatória, temos que estar preparados para qualquer resposta imediata a tudo que acontece. Estar a frente de uma platéia, ao vivo, é um convite para o inesperado.
E nosso compromisso com o 'ensemble', o grupo - como os americanos chamam - é ajudar uns aos outros a nos sairmos todos bem. We help each other look good.
Tem um lance de confiança que rola. Confiança que se alguém esquece ou troca alguma coisa, todo mundo ajuda a retomar o curso do que precisa ser feito.
Também há a segurança de que, no final das contas, a história é nossa! Nós que estamos contando, portanto podemos fazer adaptações necessárias caso haja algum acidente de percurso.
Quinta-feira fiz duas apresentações seguidas de Quiltmaker's. Tivemos pequenos probleminhas nas duas, texto trocado, figurino esquecido... E nas duas tudo se resolveu e chegamos ao fim como se nada tivesse acontecido - ao menos para quem estava assistindo.
Para a platéia que não sabe o que esperar minuto a minuto, tudo é parte do espetáculo, e se não deixarmos transparecer nenhum desespero e, graciosamente, procedermos nas correções e soluções, tudo fica bem.
A maior prova disso eu tive anos atrás numa peça chamada Blade. A luz apagou durante um monólogo da minha personagem. Eu vi a luz indo... e, mesmo em pânico, segui falando. Quando fiquei na absoluta escuridão, não tive como não ficar reticente, dei uma pausa, que deve ter sido de dois segundos, quando a luz voltou e pude retomar e concluir.
Pós show, conversando com uma espectatora e um colega, eu comentei do blecaute acidental, e ela disse ter achado que era parte do espetáculo. Ela entendeu que aquilo significava que a minha história continuava além do que eu estava falando e, como se fosse um corte de cinema, indicava uma passagem de tempo, retomando quando eu concluía meu argumento.
Mesmo quando estamos calados em cena, temos de estar presentes, e ativos! Não dá pra ficar fazendo a lista de supermercado, recapitulando o problema com a companhia elétrica, ou além de correr o risco de perder uma deixa, perdemos o pique da nossa energia. Ao removermos nossa atenção dos acontecimentos, abrimos uma brecha para a platéia remover a deles.
O prazer e comprometimento do ator são as atitudes que mais auxiliam a transportar quem nos vê para dentro da peça, e atingir a tão fantástica suspension of disbelief, quando a descrença dá lugar a fantasia e o público embarca por inteiro no nosso universo.
Assinar:
Postagens (Atom)