segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

saudades do Rio II

Enquanto curto uma tosse que já dura dez dias, o carro que quebrou esta manhã e foi guinchado pela enésima vez este ano e uma fossa que não espera a hora de 2009 chegar deixando as dificuldades de 2008 para trás, me delicio imaginando os dias quentes que me aguardam em menos de um mês.
Esta expectativa reaviva toda a minha paixão pelo Rio de Janeiro e me fez cavocar um texto que escrevi numa tarde de sexta que passei no posto dez.

"Olha o queijo coalho! O sorvete! Mate limão, quem vai querer?!! Empada, empada, empaaada! Suco naturaaaaal!Guaravit! Ó a limonada mate! "

Tento ler mas não consigo com o festival de chamadas da esperança ambulante que pulsa à minha volta.

"Ó o queijo na brasa, queijooo! Abacaxi com hortelã, suco de laranja com cenoura! Aí o açaí! É o queijo na brasa aí ó! Mate, água, guaraplus e o biscoito. Óculos, Ó-le-o! Óleo pra bronzear. Aqui não leva água, é pura polpa de açaí, the bésti on the beachi!"

E eu choro. Choro. Choro. Pela minha pátria que se vira. Descalça, carregando peso sob o sol. Vai e vem. Vai e vem.

"Olha o sanduíche natural no capricho!"


Os farelos da empada barata me rolam umbigo abaixo. Alguém ao longe grita, 'caralhooooo'!

"Alô mate, geladão aí!"

Tô na banca do João, qualquer coisa é só chamar.
Uma gringa me pede com sotaque depositando a bolsa perto de mim com cara de quem precisa de um mergulho, 'posso deixar isso aqui um minutinho'?
E eu me lembro do poema do Vinícius, e choro na praia. Eu branca, vinda do frio me sinto estrangeira com meu sovaco cabeludo bem statement político do feminino, e ao mesmo tempo parte disso tudo, dessa beleza, dessa lindura, desse calor, abobada por eu ter comprado um brinco de cinco reais.
Guardo uma lata já vazia da cerveja pra entregar pra um dos dois que passam recolhendo alumínio reciclável. Na certa para revender em algum lugar e ajudar no pão de cada dia.
'Guardei pra ti', digo com meu sotaque gaúcho entregando a lata, e ela responde em carioquês, 'pô, valeu aí!'.
Sol e nuvens. Agora o brilho do sol escondido reflete na pedra da ilha em frente. ILHA em frente. Só isso já vale a vista. Sem contar que se arrisco olhar pra direita vejo o Dois Irmãos rodeado de nuvens no topo, e à esquerda vejo o céu azul que Copacabana manda para Ipanema.
Pátria amada, patriazinha! De pés descalços, calcanhar rachado e nordestino...
Pátria minha que me invade de emoção e me enche de saudades, carinho e por que não, orgulho.
'Tá tudo certo aí amiga?' , me pergunta o João, 'mais uma cerveja?'
E eu me derramo e choro, mais uma vez, neste dia de praia no Rio.

Fevereiro de 2007

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô, muito bom esse post! parabéns!!! Espero que vcs se divirtam por aqui.