domingo, 9 de novembro de 2008

a platéia e o amor


Desde pequena eu tenho verdadeira adoração pelo teatro. Assistir peças infantis eram ocasiões especiais.
Como morava no interior do Rio Grande do Sul durante boa parte da minha infância, eu assistia espetáculos principalmente quando ia visitar meus avós em Porto Alegre. Quando maiorzinha, eu mesma lia no jornal as sinopses e escolhia qual eu queria ver. Eu me arrumava, botava vestido, meia-calça, tiara no cabelo e lá íamos nós, eu e minha mãe - ás vezes com meu irmão menor - ver as tradicionais sessões das quatro da tarde em fim de semana.
Além da peça em si, eu também amava quando os atores iam para o lobby para conversar e dar tchau pras crianças. Eu colecionava cartazes das peças e pegava autógrafos na saída. Eu sabia os nomes dos atores que eu gostava e os reconhecia na listagem da agenda cultural do jornal.
Dado meu histórico, talvez eu não devesse ter ficado tão surpresa com o tamanho da minha felicidade ao estrear "The Quiltmaker's Gift" esta semana para um público de 115 crianças de jardim de infância.
Confesso que eu estava super nervosa. Toda minha experiência era com teatro adulto, e eu não tinha idéia de como ia ser.
Do camarim, ouvimos a chegada da molecada como uma avalanche que ruidosamente tomou conta das cadeiras. No prólogo, quando duas atrizes interagiam com eles fazendo brincadeiras e explicando o que iria acontecer ali, meu coração comecou a derreter ouvindo as vozinhas que respondiam "Hi Jill" em unísssono, ou gargalhavam daquela forma gostosa que só criança sabe fazer.
Eles são um público muito direto. Você sente de imediato quando começa a perder a atenção da sua platéia, o que requer medidas imediatas de variação de tom e ritmo.
As palmas no final, com todos os pares de olhinhos e sorrisos voltados pra nós, me trouxeram uma satisfação que eu ainda não tinha sentido nesta minha experiência como artista.
Depois dos aplausos, nós atores corremos para o lobby para a despedida. Me vi então do outro lado da experiência que eu tanto apreciava quando pequena.
As turmas da escola iam se organizando em filas, e passavam por nós abanando, dizendo thank you , fazendo high five ou, melhor de tudo, abraçando a gente.
Fiquei super emocionada, e ainda estou agora, revivendo a memória daquele momento.
O carinho deste público não se disfarça, não é distorcido por ego ou por críticas, é um puro e simples gostei ou não gostei. E quando eles expressaram este carinho, este amor me tomou de assalto. Eu geralmente termino um espetáculo super ligada, energizada, plena, mas nunca tinha me sentido tão amada ao final da minha missão cumprida.
Eu nunca tinha pensado em fazer teatro infantil, mas neste momento, posso dizer que talvez esta tenha sido a mais completa de todas as minhas experiências num palco até hoje. Estou descobrindo que gente pequena pode ser a platéia mais generosa que existe.

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