Hoje comprei um par de sapatilhas de ballet. Eu não botava uma sapatilha no pé desde os meus seis anos de idade, quando eu e todas as minhas amigas ficávamos alinhadas, mão na barra da escola de dança, saia de tule cor-de-rosa e cabelo puxado para trás, aprendendo a fazer pliê.
Ontem à noite foi o último ensaio no estúdio da Moving Dock para o Quiltmaker's Gift. Semana que vem começam os ensaios técnicos no teatro e a gente estréia na quinta dia 6..
No espetáculo, os atores são contadores de histórias que vão se transformando nos diferentes personagens. E estas transformações ocorrem na frente da platéia. Além da narrativa é tudo movimento; meio dança, meio teatro. Por causa disso, e como a roupa básica do show é toda preta (sobre a qual colocamos variados adereços), precisei comprar as tais sapatilhas. Pé no chão não tava dando e sapato normal não contribui pra fluidez que queremos passar.
Ontem mesmo um colega estava comentando que quando alguém perguntou pra ele se ele era um dancer (bailarino), ele respondeu que não, mas que era um mover (movimentador).
Por mais que eu não tenha treinamento em dança e sempre tenha detestado educação física, acabei me achando justamente no teatro físico, que usa o corpo e o movimento como parte integral - ou até principal - do processo de contar uma história.
Já fiz várias aulas que preparam para este tipo de teatro, como artes circenses, máscara neutra e dança moderna. Hoje sinto que posso dizer também que não sou bailarina, mas sou sim uma mover. E agora, com passinhos ainda mais leves e suaves, nas minhas novas sapatilhas pretas.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
bode na garganta
Descobri a Yael Naim por causa da propaganda do MacBook Air. Achei a música "New Soul" tão gracinha, que não resisti e fui descobrir de quem era.
Quando achei o CD da moça, comprei na hora. Adorei todo o disco. Intrigante ela cantar em hebraico, inglês e francês. Os arranjos são super modernos misturados com instrumentos muito tradicionais, como o acordeon.
Especialmente adoro a versão que ela fez para "Toxic", uma música, pasmem, de Britney Spears.
O disco que foi gravado em dois anos, dentro do apartamentinho dela em Paris, supreendeu seus criadores (Yael e o parceiro David Donatien) no resultado e os levou para o mundo. Ela está na sua primeira turnê nos EUA e tive a sorte de poder vê-la uns dias atrás.
O House of Blues estava cheio, mas não lotado. Ela parecia tensa nas primeiras músicas, mas assim que soltou o cabelo e relaxou, aconteceu uma coisa muito inesperada. Yael Naim, estava com o famoso "bichinho do ranrran", que ela descreveu como um "bode dentro da garganta".
Ela parou no meio da música e não tinha mais jeito. Ela pediu chá, deitou no palco, até que alguém da platéia trouxe pra ela uma bala de menta, que pelo visto ajudou.
A gente estava na primeira fila e pode acompanhar todo o desespero dela e da banda. E também a carranquice do David Donatien que pelo visto é patrão da Yael e não foi nada simpático no episódio todo.
Ela terminou o show, que foi super curto e voltou para apenas uma música no bis.
Foi interessante presenciar o ocorrido. Ela em choque porque isso nunca tinha acontecido antes, mas tentando ser graciosa com seu público. O David, furioso... A platéia ajudando trazendo a bala de menta...
Me dei conta que enquanto platéia a gente torce pelos nossos ídolos. A gente torce por quem está lá, pra que dê tudo certo. Eu nunca tinha realizado de forma tão clara o quanto o público também está investido numa performance. Este sem dúvida é um sentimento confortante para quem está num palco.
Mesmo com problema na garganta e tudo, o show valeu. E continuo amando Yael Naim, que conheci graças a Apple e seu bom gosto para trilha sonora de campanhas.
CSS, a banda brasileira Cansei de Ser Sexy, também estourou aqui por ter "Music is my hot sex" como trilha da campanha do I-Pod Touch. Também descobri CSS por causa disso, embora não ame CSS a ponto de ir no show que vão fazer daqui uns dias aqui no Metro. Mas meu sobrinho de 15 anos vai.
E você? Teve alguma banda ou artista que descobriu - e caiu de amores - por causa de um comercial ou um filme?
Quando achei o CD da moça, comprei na hora. Adorei todo o disco. Intrigante ela cantar em hebraico, inglês e francês. Os arranjos são super modernos misturados com instrumentos muito tradicionais, como o acordeon.
Especialmente adoro a versão que ela fez para "Toxic", uma música, pasmem, de Britney Spears.
O disco que foi gravado em dois anos, dentro do apartamentinho dela em Paris, supreendeu seus criadores (Yael e o parceiro David Donatien) no resultado e os levou para o mundo. Ela está na sua primeira turnê nos EUA e tive a sorte de poder vê-la uns dias atrás.
O House of Blues estava cheio, mas não lotado. Ela parecia tensa nas primeiras músicas, mas assim que soltou o cabelo e relaxou, aconteceu uma coisa muito inesperada. Yael Naim, estava com o famoso "bichinho do ranrran", que ela descreveu como um "bode dentro da garganta".
Ela parou no meio da música e não tinha mais jeito. Ela pediu chá, deitou no palco, até que alguém da platéia trouxe pra ela uma bala de menta, que pelo visto ajudou.
A gente estava na primeira fila e pode acompanhar todo o desespero dela e da banda. E também a carranquice do David Donatien que pelo visto é patrão da Yael e não foi nada simpático no episódio todo.
Ela terminou o show, que foi super curto e voltou para apenas uma música no bis.
Foi interessante presenciar o ocorrido. Ela em choque porque isso nunca tinha acontecido antes, mas tentando ser graciosa com seu público. O David, furioso... A platéia ajudando trazendo a bala de menta...
Me dei conta que enquanto platéia a gente torce pelos nossos ídolos. A gente torce por quem está lá, pra que dê tudo certo. Eu nunca tinha realizado de forma tão clara o quanto o público também está investido numa performance. Este sem dúvida é um sentimento confortante para quem está num palco.
Mesmo com problema na garganta e tudo, o show valeu. E continuo amando Yael Naim, que conheci graças a Apple e seu bom gosto para trilha sonora de campanhas.
CSS, a banda brasileira Cansei de Ser Sexy, também estourou aqui por ter "Music is my hot sex" como trilha da campanha do I-Pod Touch. Também descobri CSS por causa disso, embora não ame CSS a ponto de ir no show que vão fazer daqui uns dias aqui no Metro. Mas meu sobrinho de 15 anos vai.
E você? Teve alguma banda ou artista que descobriu - e caiu de amores - por causa de um comercial ou um filme?
domingo, 26 de outubro de 2008
herança eleitoral
Normalmente eu sou ligada no que está acontecendo no Brasil. Eu assisto Jornal Nacional, Jornal da Globo (via Globo Internacional) e confiro alguma coisa na internet. No entanto, às vezes eu me perco legal em datas e grandes eventos.
Este fim de semana é uma dessas vezes, eu só descobri que já era o dia da eleição de segundo turno para prefeito quando abri a internet.
Bateu a minha "gauchice" e fui correndo ao site da Zero Hora pra saber das últimas. Além disso, cliquei no link irresistível para a cobertura ao vivo da TVCOM que estou acompanhando agora enquanto escrevo.
É divertido ver alguns dos meus antigos colegas, firmes e sérios, dedicando seu fim de semana às suas funções de comunicadores.
Lembrei direto da cobertura que trabalhei para a TVCOM (canal a cabo da RBSTV no Rio Grande do Sul) nas eleições de governador. Mesmo sendo repórter de cultura, fui chamada para auxiliar o hardnews normalmente naquele fim de semana que elegeu Olivio Dutra (PT) para o governo do RS. Acho até que apresentei algumas chamadas, de terninho e tudo. Sempre me senti meio peixe fora d'agua nessas circunstâncias, mas estava ali para ajudar.
No fim do domingo, eu tinha tanta dor de cabeça que tomei duas neosaldinas. E depois de subir correndo duas vezes os quatro lances de escadas do, então, novo estúdio da TVCOM, eu comecei a ter uma coceira insuportável por todo o corpo e minhas mãos começaram a inchar.
Eu estava tendo uma reação alérgica à Neosaldina, e me fui, solita, dirigindo pro pronto socorro. Depois de duas injeções dolorosas, principalmente ao meu orgulho, fui liberada para ir pra casa, mas até hoje tenho que ficar longe do famigerado composto farmacêutico chamado dipirona.
Este fim de semana é uma dessas vezes, eu só descobri que já era o dia da eleição de segundo turno para prefeito quando abri a internet.
Bateu a minha "gauchice" e fui correndo ao site da Zero Hora pra saber das últimas. Além disso, cliquei no link irresistível para a cobertura ao vivo da TVCOM que estou acompanhando agora enquanto escrevo.
É divertido ver alguns dos meus antigos colegas, firmes e sérios, dedicando seu fim de semana às suas funções de comunicadores.
Lembrei direto da cobertura que trabalhei para a TVCOM (canal a cabo da RBSTV no Rio Grande do Sul) nas eleições de governador. Mesmo sendo repórter de cultura, fui chamada para auxiliar o hardnews normalmente naquele fim de semana que elegeu Olivio Dutra (PT) para o governo do RS. Acho até que apresentei algumas chamadas, de terninho e tudo. Sempre me senti meio peixe fora d'agua nessas circunstâncias, mas estava ali para ajudar.
No fim do domingo, eu tinha tanta dor de cabeça que tomei duas neosaldinas. E depois de subir correndo duas vezes os quatro lances de escadas do, então, novo estúdio da TVCOM, eu comecei a ter uma coceira insuportável por todo o corpo e minhas mãos começaram a inchar.
Eu estava tendo uma reação alérgica à Neosaldina, e me fui, solita, dirigindo pro pronto socorro. Depois de duas injeções dolorosas, principalmente ao meu orgulho, fui liberada para ir pra casa, mas até hoje tenho que ficar longe do famigerado composto farmacêutico chamado dipirona.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
aquém das expectativas
Tem dois filmes brasileiros passando no Chicago International Film Festival. “Desafinados”, de Walter Lima Jr, e “A Festa da Menina Morta”, de Matheus Nachtergaele. Com saudades de ver um filme nacional e por admirar muito o trabalho do Matheus como ator, convidamos um casal de amigos americanos pra assistir Menina Morta. Ele é professor de ciência política aposentado, ela é pró-reitora do departamento de sociologia da DePaul. Também foi conosco uma amiga deles, uma socióloga brasileira que agora trabalha na França, Lícia Valladares.
Por dois terços da película estava tudo bem. Eu tinha embarcado na jornada, estava ali em Barcelos com aquela gente, cativada pela atmosfera, mitologia e disfunção das relações das pessoas do lugar , mas seguia esperando a grande virada ou revelação prometida na sinopse publicada na programação do festival. E elas nunca vieram. Nada muda. Nada altera.
Cada novo elemento introduzido acende uma possibilidade de um desfecho, mas pára por ali. Não concretiza. A mãe desaparecida do Santinho (Daniel de Oliveira) aparece, deixando-o perturbado, mas só isso. Uma menina de repente se junta à procissão - será ela a Menina Morta, que na verdade está viva? Santinho não recebe revelações da Menina neste ano - será que ele finalmente será desmascarado como fraude? O irmão da Menina não quer cooperar com a festa, decide que não vai acompanhar Santinho como de costume, mas vai. E a relação incestuosa do pai com o filho? Será descoberta trazendo conseqüências? Claro que não.
O filme em si também falha em explicar vários acontecimentos, importantes para entender a história que só ficam claros se o espectador leu a sinopse antes de sentar pra assistir.
Fiquei muito perturbada com a matança de animais - especialmente quando eles sangram uma galinha ainda viva -, e com o uso freqüente da câmera na mão, chacoalhando a imagem vertiginosamente na tela do cinema, causando enjôo a ponto de eu precisar fechar os olhos.
Fiquei impressionada pela dificuldade de achar online alguma crítica ao filme em português. E em inglês, a única que encontrei saiu logo depois de Cannes, na Variety, chamando o filme de auto-indulgente.
Fiquei sabendo que A Festa da Menina Morta ganhou dois prêmios importantes no Festival do Rio. Infelizmente não entendo o porquê. O filme não acrescenta, o que é sim uma pena.
Por dois terços da película estava tudo bem. Eu tinha embarcado na jornada, estava ali em Barcelos com aquela gente, cativada pela atmosfera, mitologia e disfunção das relações das pessoas do lugar , mas seguia esperando a grande virada ou revelação prometida na sinopse publicada na programação do festival. E elas nunca vieram. Nada muda. Nada altera.
Cada novo elemento introduzido acende uma possibilidade de um desfecho, mas pára por ali. Não concretiza. A mãe desaparecida do Santinho (Daniel de Oliveira) aparece, deixando-o perturbado, mas só isso. Uma menina de repente se junta à procissão - será ela a Menina Morta, que na verdade está viva? Santinho não recebe revelações da Menina neste ano - será que ele finalmente será desmascarado como fraude? O irmão da Menina não quer cooperar com a festa, decide que não vai acompanhar Santinho como de costume, mas vai. E a relação incestuosa do pai com o filho? Será descoberta trazendo conseqüências? Claro que não.
O filme em si também falha em explicar vários acontecimentos, importantes para entender a história que só ficam claros se o espectador leu a sinopse antes de sentar pra assistir.
Fiquei muito perturbada com a matança de animais - especialmente quando eles sangram uma galinha ainda viva -, e com o uso freqüente da câmera na mão, chacoalhando a imagem vertiginosamente na tela do cinema, causando enjôo a ponto de eu precisar fechar os olhos.
Fiquei impressionada pela dificuldade de achar online alguma crítica ao filme em português. E em inglês, a única que encontrei saiu logo depois de Cannes, na Variety, chamando o filme de auto-indulgente.
Fiquei sabendo que A Festa da Menina Morta ganhou dois prêmios importantes no Festival do Rio. Infelizmente não entendo o porquê. O filme não acrescenta, o que é sim uma pena.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
tortillas e arte
Este fim de semana passado, também como parte do Chicago Artists Month, teve o Pilsen Art Walk. Pilsen, um bairro mexicano super colorido e famoso por seus murais, além de ser super família, virou também um reduto de artistas plásticos na cidade. Três amigas minhas brasileiras dividem um estudio lá, o Arthouse.
A exposição delas estava linda. Especialmente o "White Garden" que Patrícia Peixoto e Magda DeJosé fizeram. Era uma coleção de quatro cubos de acrílico, cada uma com um olho mágico instalado pra poder bisbilhotar a cena montada dentro. Sensacional!
O público do estúdio curtindo o White Garden
Foto de dentro de uma das caixas. Não foi fácil fazer a foto, pois câmera nenhuma conseguia fazer o foco através do diminuto olho mágico. Magda usou a câmera do telefone celular que tinha a lente do tamanho do buraquinho da caixa.
Aí estão as duas, Magda e Patty felizes à janela. :)
As fotos são das duas. Tem mais no blog da Patty: http://pattyartsblog.blogspot.com/
A exposição delas estava linda. Especialmente o "White Garden" que Patrícia Peixoto e Magda DeJosé fizeram. Era uma coleção de quatro cubos de acrílico, cada uma com um olho mágico instalado pra poder bisbilhotar a cena montada dentro. Sensacional!
O público do estúdio curtindo o White Garden
Foto de dentro de uma das caixas. Não foi fácil fazer a foto, pois câmera nenhuma conseguia fazer o foco através do diminuto olho mágico. Magda usou a câmera do telefone celular que tinha a lente do tamanho do buraquinho da caixa.
Aí estão as duas, Magda e Patty felizes à janela. :)
As fotos são das duas. Tem mais no blog da Patty: http://pattyartsblog.blogspot.com/
terça-feira, 21 de outubro de 2008
corpo que trai
"The Tale of the Duck", a leitura dramática que eu fiz no lançamento da revista literária Conclave foi bem. O evento tinha bastante gente, a livraria The Book Cellar é um barato (já adotei e quero voltar lá milhares de vezes) e meu trabalho foi bem recebido.
Era uma leitura longa, cinco páginas direto, com bastante comédia, mas também sofrimento. A autora do texto, Anne Phelan, estava lá e a presença dela adicionou um tanto mais de pressão nas minhas próprias expectativas.
O que aconteceu, que eu não esperava, é que eu fiquei nervosa. Demais. Nunca tinha me acontecido uma coisa assim antes.
Eu fico com borboletas na barriga sempre antes de entrar no palco, mas assim que começo a falar, tudo fica bem. Desta vez não. Não sei se tinha a ver com estar lendo... Ter o papel a princípio poderia me acalmar, não tinha como esquecer texto, etc. Estava ali, eu tinha esta bengala pra me segurar. Mas... pelo contrário, todas as vezes que eu tirava os olhos do papel, é onde eu encontrava meu centro.
Outra coisa é que o texto é meio tipo comédia stand-up, eu não falo para um outro personagem, mas sim com o público, e acho que isso me desestruturou um pouco, pois tinha muita gente de pé, e mesmo sem querer, eu encontrava os olhos das pessoas.
Mesmo tendo já feito centenas de audições, onde todos os olhos estão fixos em mim, na frente de uma sala, subitamente, me senti só, e sob o escrutínio de todos. Resultado, o papel na minha mão, vira e mexe tremia. E eu via isso acontecer, e ficava tentando achar um jeito de parar. Zilhões de coisas passavam pela minha cabeça enquanto eu continuava a leitura, firme e certa até o final - exceto pela minha mão que de vez em quando me traía.
No fim, eu me senti meio mal. Foi um alívio quando terminou. Virei um copo de vinho quase inteiro pra afogar meu pânico. Mas aí, quando eu vi, as pessoas estavam ao meu redor, elogiando, dizendo como foi ótimo.
A própria Anne, que estava sentada do meu lado, pediu meu cartão. Ela estava encantada, disse ter sido a primeira vez que ouviu o texto interpretado por alguém, e que eu tinha achado direitinho os pontos todos das emoções, onde tinha comédia, sarcarsmo, onde tinha dor, onde ela fugia da dor... etc. Ela inclusive disse que se eu viesse a mudar pra New York, para procurá-la, pois ela sempre precisa de atores competentes para as peças dela - e me deu seu cartão também.
Pra onde eu olhava, tinha alguém chegando pra me cumprimentar e dizer o quanto tinha adorado minha leitura.
Então talvez o que me grilou tanto, as pessoas nem deram bola, ou nem notaram tanto assim. Eu estou até agora tentando analisar que diabo que me deu.
domingo, 19 de outubro de 2008
prazeres inesperados
Este fim de semana está sendo super artístico. Começando na quinta-feira quando fui assitir a preview de "Militant Language", com o Halcyon Theatre. Foi com este grupo que eu fiz "Henry IV" este ano, e por isso fui convidada para esta pré-estréia.
A peça é sobre o Iraque, retratando um episódio fictício mostrando a guerra do ponto de vista dos soldados americanos que estão lá. Eu estava muito receosa com o tema, já que parece meio oportunista, mas devo dizer que me surpreendi muito.
O texto é de Sean Christopher Lewis e está tendo uma estréia nacional simultânea em Chicago, Columbus, Cleveland, Cincinatti, Seattle e NYC. O texto e as performances me afetaram de forma visceral e fui transportada pro deserto, pros questionamentos, pros medos e abusos causados por esses soldados.
No meio da guerra, o texto é recheado de conteúdo sexual e toca no tabu do homossexualismo no exército. Teve um momento de nudez masculina, que me deixou bem desconfortável, apesar de ser rápido e contribuir na forma que a história foi contada. Acho muito legal quando a arte consegue deixar a platéia sem jeito.
O Halcyon está alugando um espaço comercial que transformaram em teatro. Achei bem precário e mal construído - o velho problema da falta de grana. Felizmente, na magia do teatro, a qualidade da perfomance faz a gente esquecer onde se está.
Sexta fui ver um show de KD Lang. Ela é conhecida por ser uma cantora country lésbica do Canadá. :) E ela é ótima!
Grecco Buratto, amigo de infância do meu marido e guitarrista extraordinaire, está tocando na tour de KD. Eu não conhecia o trabalho dela, mas a convite do Grecco ganhamos lugares na sexta fileira do magnífico e suntuoso Chicago Theater e passes para o backstage após o show. Fiquei fascinada. Ela é bem humorada, tem uma voz inacreditável e uma super presença de palco.
Vestida bem masculina, com calça risca de giz, camisa de abotoadura, colete, lenço amarrado no colarinho, e pés descalços ela agradeceu Chicago pelo seu último export, fazendo uma clara referência a Barack Obama, que mora aqui.
A música é de uma qualidade inquestionável. Não sei se o Brasil já descobriu a KD. Ela veio do country, mas há anos seu repertório já inclui jazz e pop, o que abre o trabalho dela para um público bem maior. Delícia conhecer uma artista assim!
Ontem à noite foi minha leitura dramática no lançamento da revista literária Conclave. Foi bem, mas ainda estou processando alguns acontecimentos, e isso merece um post em separado.
Hoje tem a exposição de algumas amigas artistas plásticas como parte do Chicago Artist's Month, e à noite vamos assistir "A festa da menina morta", filme do Matheus Nachtergaele que é parte do International Film Festival - que também está rolando na cidade. Estou tão empolgada pra ver esse filme, I can't wait!
Outubro é um mês lotado de acontecimentos culturais em Chicago, vou me puxar pra atualizar o blog mais constantemente mesmo em meio a todos estes eventos.
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Sunday, Bloody Mary Sunday
Quando a gente sabe que o frio não tarda, a gente se deleita com cada dia em que ele não vem. Este fim de semana foi praticamente de verão. Muito sol, temperatura nos 25 graus e o povo todo na rua aproveitando. No entanto, as folhas amarelas e vermelhas despencando das árvores e as decorações de Halloween que assolam as portas, jardins e janelas não nos deixam esquecer que isso é apenas uma benção antes do horror que vem.
Domingo foi dia de brunch com o pessoal que fez "Camino Real" comigo. Esta é uma peça bem controversa do Tennessee Williams. Tão controversa que tivemos críticas bem opostas na mídia.
Ela é montada muito raramente porque parece o samba do crioulo doido. Se passa em alguma república das bananas, onde falta água e vários personagens históricos ou da literatura se misturam com os locais à espera de uma salvação que vem do ar, num dirigível chamado "el fugitivo". Eu fazia a dama das camélias Marguerite Gautier e também uma das pessoas pobres de rua.
O mais legal foram as amizades que ficaram depois da conclusão desse projeto.
Teatro é sempre estranho pra mim. A gente convive intensa e intimamente com um grupo de pessoas por umas seis semanas de ensaios, mais seis em cartaz, e era isso. Raras são as ocasiões em que amizades permanecem além do período de apresentações.
Mas com essa turma do Camino foi diferente. A gente vira e mexe tem festas juntos, ou sai pra tomar um brunch dominical falando muita bobagem ao sabor de Mimosas e Bloody Marys.
Nesta foto, estamos eu, Stacy e Lila tentando vender tranqueiras ou esperando esmolas dos turistas ricos do lugar.
Domingo foi dia de brunch com o pessoal que fez "Camino Real" comigo. Esta é uma peça bem controversa do Tennessee Williams. Tão controversa que tivemos críticas bem opostas na mídia.
Ela é montada muito raramente porque parece o samba do crioulo doido. Se passa em alguma república das bananas, onde falta água e vários personagens históricos ou da literatura se misturam com os locais à espera de uma salvação que vem do ar, num dirigível chamado "el fugitivo". Eu fazia a dama das camélias Marguerite Gautier e também uma das pessoas pobres de rua.
O mais legal foram as amizades que ficaram depois da conclusão desse projeto.
Teatro é sempre estranho pra mim. A gente convive intensa e intimamente com um grupo de pessoas por umas seis semanas de ensaios, mais seis em cartaz, e era isso. Raras são as ocasiões em que amizades permanecem além do período de apresentações.
Mas com essa turma do Camino foi diferente. A gente vira e mexe tem festas juntos, ou sai pra tomar um brunch dominical falando muita bobagem ao sabor de Mimosas e Bloody Marys.
Nesta foto, estamos eu, Stacy e Lila tentando vender tranqueiras ou esperando esmolas dos turistas ricos do lugar.
domingo, 12 de outubro de 2008
Retalhos de um ensaio
Ontem foi um dia intenso de ensaio para o Quiltmaker's Gift, a peça infantil baseada no livro de mesmo nome que estou ensaiando com a companhia The Moving Dock.
Quilt é a colcha de retalhos tradicional americana. Aliás, poucas coisas são tão representativas da expressão folk americana do que um quilt. Eles são muitas vezes temáticos e vários passam de geração em geração em uma família.
A Moving Dock trabalha muito com movimento, e as histórias e cenas surgem dos exercícios exploratórios que os atores fazem, através do corpo e do gesto. Sempre tem muito pouco texto, e muito, mas muito movimento nos espetáculos dela.
Esta é a terceira vez que trabalho com esta companhia, mas minha primeira fazendo um espetáculo para o público infantil.
Nesta cena que estamos trabalhando, a Quiltmaker (fazedora de quilts) tem um flashback, mostrando como ela aprendeu a costurar quando jovem, rica e infeliz (eu).
Quando ela aprende a costurar, descobre sua missão, deixa tudo para trás e vai viver numa casinha na montanha costurando colchas lindas que ela jamais vende, apenas dá de presente para quem é muito necessitado.
Na cena estamos eu (jovem Quiltmaker), a Quiltmaker e a minha professora de costura.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
meu grande encontro
Com mais de 150 teatros, 200 companhias, a maior escola de improv (teatro e comédia de improviso) dos Estados Unidos, grandes companhias de renome mundial e pelo menos três escolas de cinema, de fato, Chicago é um ótimo lugar pra ser ator.
É daqui a Second City, a escola de Improv de onde vieram Bill Murray e quase todos os atores do Saturday Night Live. É aqui a casa do Steppenwolf Theatre, companhia de teatro de ensemble fundada por John Malkovich entre outros, do Chicago Shakespeare Theatre - que é premiado até por ingleses, do Goodman e do Lookinglass.
Em termos de treinamento, há várias escolas independentes e pelo menos cinco grandes universidades com departamento de teatro. Três faculdades de cinema (Columbia, Art Institute e Northwestern) têm produções constantes de filmes dos estudantes, proporcionando assim um rico espaço para aprendizado de todos os envolvidos, atores, diretores e equipe.
No centro, há quatro teatros que oferecem o que eles chamam de "Broadway in Chicago". Muitos musicais ficam mesmo residentes na cidade por meses a fio, como é o caso de Wicked, que tem desde 2005 um elenco local e o mesmo sucesso de Nova York. Outros fazem sua estréia aqui, como mercado teste antes de levarem o show para a Big Apple.
Mas a cidade é feita mesmo de seus teatros pequenos. Qualquer sala escura onde caiba um palco e pelo menos 40 lugares, vira espaço de performance. Com tantas companhias independentes, é fácil conseguir trabalho e adquirir experiência.
Além dos profisisonais e companhias ligados ao sindicato, aqui também se faz muito teatro profissional não sindicalizado. É por isso que tantos atores vêm primeiro pra cá, antes de se decidirem por batalhar um lugar ao sol na costa leste ou oeste - Nova York ou Los Angeles.
Eu não sabia de nada disso quando decidi estudar teatro aqui.
Desde menina eu sempre quis ser atriz, e artes cênicas foi o resultado de um teste vocacional que eu fiz antes da faculdade. Mas, pelo visto, naquele momento eu não estava pronta pra encarar o desafio de ser artista num país em desenvolvimento. Optei por jornalismo e, dentro dele, televisão.
Tive a benção de trabalhar sempre com cultura, cobrindo música, dança, fotografia, artes plásticas, cinema e, é claro, teatro. Por mais que eu sempre tivesse profunda admiração por todos os artistas que tive o prazer de entrevistar, eu sempre tinha uma pontada no estômago quando entrevistava atores e atrizes. Uma pontada de inveja. Da grossa. Eu queria mesmo era estar do outro lado da entrevista.
Cada matéria que eu fazia com profissionais anunciando seus workshops e cursos, eu prometia pra mim mesma que iria me inscrever e participar. Mas, óbvio, nunca dava. Jornalismo é uma profissão de dedicação integral.
No entanto, eu não conseguia ficar longe das artes dramáticas, que insistiam em aparecer misteriosamente no meu destino. Por exemplo, quando eu ia começar a apresentar o programa Palco na TVCOM, ganhei de presente da emissora um curso de interpretação.
Foi idéia da Alice Urbim, diretora de especiais da RBS - talvez inconscientemente iluminada por uma visão profética. A TV tinha ganho uma vaga num curso de interpretação para TV (por Thais de Campos e André Cerqueira, da Rede Globo) e Alice achou que seria ótimo pra mim.
Completamente surpresa pela oferta, lá fui eu, direto pra aula que começava em poucas horas. Foi uma das melhores coisas que fiz na vida. Aquele fim de semana foi fundamental para minha desenvoltura frente às câmeras, mas principalmente, porque ali foi plantada mais uma sementinha, que só mais tarde eu viria a entender.
Logo que mudei pra Chicago, meu visto não me permitia trabalhar. Passei vários meses depressiva sem saber o que fazer da vida, e ao mesmo tempo com um mundo de possibilidades à minha frente. Eu tinha ali a chance de começar tudo de novo, tinha um livro em branco pra poder escrever um novo caminho, um novo destino.
Criei coragem e procurei o Chicago Actors Studio. E foi ali que tudo começou. Depois fiz Act One e outros cursos independentes.
Atuar é um ofício que eu tive que aprender do zero. E como eu não gosto de fazer nada mal feito - por um medo danado de queimar meu filme - levei quase três anos pra me sentir apta a participar de testes.
Todos os anos, quando não estou em cartaz ou filmando, faço novas oficinas e cursos, sempre crescendo, sempre acrescentando novas ferramentas. Sinto falta às vezes de não ter tido uma formação acadêmica, mas na prática, isso não me impede de ter as mesmas oportunidades que meus colegas com diploma.
Todos os dias me dou conta da tremenda sorte que eu dei em vir parar aqui. Como se fosse golpe do destino mesmo. A palavra vocação, os americanos traduzem também como "calling", um chamado. Por mais que eu tenha tentado escapar desse chamado, no final, o teatro me achou, me seduziu, me envolveu e, agora, completamente entregue, não tenho mais planos de me esquivar deste grande caso de amor.
É daqui a Second City, a escola de Improv de onde vieram Bill Murray e quase todos os atores do Saturday Night Live. É aqui a casa do Steppenwolf Theatre, companhia de teatro de ensemble fundada por John Malkovich entre outros, do Chicago Shakespeare Theatre - que é premiado até por ingleses, do Goodman e do Lookinglass.
Em termos de treinamento, há várias escolas independentes e pelo menos cinco grandes universidades com departamento de teatro. Três faculdades de cinema (Columbia, Art Institute e Northwestern) têm produções constantes de filmes dos estudantes, proporcionando assim um rico espaço para aprendizado de todos os envolvidos, atores, diretores e equipe.
No centro, há quatro teatros que oferecem o que eles chamam de "Broadway in Chicago". Muitos musicais ficam mesmo residentes na cidade por meses a fio, como é o caso de Wicked, que tem desde 2005 um elenco local e o mesmo sucesso de Nova York. Outros fazem sua estréia aqui, como mercado teste antes de levarem o show para a Big Apple.
Mas a cidade é feita mesmo de seus teatros pequenos. Qualquer sala escura onde caiba um palco e pelo menos 40 lugares, vira espaço de performance. Com tantas companhias independentes, é fácil conseguir trabalho e adquirir experiência.
Além dos profisisonais e companhias ligados ao sindicato, aqui também se faz muito teatro profissional não sindicalizado. É por isso que tantos atores vêm primeiro pra cá, antes de se decidirem por batalhar um lugar ao sol na costa leste ou oeste - Nova York ou Los Angeles.
Eu não sabia de nada disso quando decidi estudar teatro aqui.
Desde menina eu sempre quis ser atriz, e artes cênicas foi o resultado de um teste vocacional que eu fiz antes da faculdade. Mas, pelo visto, naquele momento eu não estava pronta pra encarar o desafio de ser artista num país em desenvolvimento. Optei por jornalismo e, dentro dele, televisão.
Tive a benção de trabalhar sempre com cultura, cobrindo música, dança, fotografia, artes plásticas, cinema e, é claro, teatro. Por mais que eu sempre tivesse profunda admiração por todos os artistas que tive o prazer de entrevistar, eu sempre tinha uma pontada no estômago quando entrevistava atores e atrizes. Uma pontada de inveja. Da grossa. Eu queria mesmo era estar do outro lado da entrevista.
Cada matéria que eu fazia com profissionais anunciando seus workshops e cursos, eu prometia pra mim mesma que iria me inscrever e participar. Mas, óbvio, nunca dava. Jornalismo é uma profissão de dedicação integral.
No entanto, eu não conseguia ficar longe das artes dramáticas, que insistiam em aparecer misteriosamente no meu destino. Por exemplo, quando eu ia começar a apresentar o programa Palco na TVCOM, ganhei de presente da emissora um curso de interpretação.
Foi idéia da Alice Urbim, diretora de especiais da RBS - talvez inconscientemente iluminada por uma visão profética. A TV tinha ganho uma vaga num curso de interpretação para TV (por Thais de Campos e André Cerqueira, da Rede Globo) e Alice achou que seria ótimo pra mim.
Completamente surpresa pela oferta, lá fui eu, direto pra aula que começava em poucas horas. Foi uma das melhores coisas que fiz na vida. Aquele fim de semana foi fundamental para minha desenvoltura frente às câmeras, mas principalmente, porque ali foi plantada mais uma sementinha, que só mais tarde eu viria a entender.
Logo que mudei pra Chicago, meu visto não me permitia trabalhar. Passei vários meses depressiva sem saber o que fazer da vida, e ao mesmo tempo com um mundo de possibilidades à minha frente. Eu tinha ali a chance de começar tudo de novo, tinha um livro em branco pra poder escrever um novo caminho, um novo destino.
Criei coragem e procurei o Chicago Actors Studio. E foi ali que tudo começou. Depois fiz Act One e outros cursos independentes.
Atuar é um ofício que eu tive que aprender do zero. E como eu não gosto de fazer nada mal feito - por um medo danado de queimar meu filme - levei quase três anos pra me sentir apta a participar de testes.
Todos os anos, quando não estou em cartaz ou filmando, faço novas oficinas e cursos, sempre crescendo, sempre acrescentando novas ferramentas. Sinto falta às vezes de não ter tido uma formação acadêmica, mas na prática, isso não me impede de ter as mesmas oportunidades que meus colegas com diploma.
Todos os dias me dou conta da tremenda sorte que eu dei em vir parar aqui. Como se fosse golpe do destino mesmo. A palavra vocação, os americanos traduzem também como "calling", um chamado. Por mais que eu tenha tentado escapar desse chamado, no final, o teatro me achou, me seduziu, me envolveu e, agora, completamente entregue, não tenho mais planos de me esquivar deste grande caso de amor.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
quem tem medo da gravidade
Passei uns dias agora numa cidadezinha chamada Coudersport, visitando um casal de amigos. Ele é meu amigo de infância dos anos que passei em Santo Ângelo, na região da campanha do Rio Grande do Sul.
Na verdade, quase senti como se esta viagem ao interior da Pensilvânia tivesse sido ao interior do sul do Brasil, tamanha a ligação do Rafael (meu amigo) com sua terra natal e as memórias de infância que, inevitavelmente, ele me traz. Pra reforçar esta sensação, passeamos sábado de manhã na feira de outono do vilarejo tomando um bom mate, com direito a bomba de ouro, prata e rubis. Me diverti com um poema colado na geladeira deles e copio aqui pela extrema sensualidade contida nos versos:
"Amargo doce que eu sorvo, num beijo em lábios de prata! tens o perfume da mata molhada pelo sereno, e a cuia seio moreno que passa de mão em mão, traduz no meu chimarrão, em sua simplicidade, a velha hospitalidade da gente do meu rincão!"
O fim de semana foi todo de natureza. A casa deles é praticamente uma casa de campo. As árvores da região estão num degradê de amarelos, laranjas e vermelhos e o sol da tarde faz subir um cheiro pungente e rico das folhas deteriorando no solo. Visitamos um canyon, caminhamos ao longo de um rio e, de quebra, na volta, como nosso vôo saía de Buffalo, NY, visitamos as cataratas do Niagara.
Percebi, para meu desespero, que várias fraquezas minhas têm aumentado com o passar do tempo. Cada vez enjôo mais de carro, cada vez tenho mais pavor de altura e, tenho que admitir, desenvolvi um sério medo de avião.
O problema com altura ou movimento (ou a combinação dos dois) acho que é bem comum em mulheres. Talvez porque tenhamos uma conexão mais forte com o centro gravitacional do corpo que os homens.
No teatro também se estuda isso. Na contrução de um personagem, há que se buscar onde fica o centro gravitacional dessa pessoa, o centro pelo qual ela se move e opera no mundo.
Eu defendo a teoria que à medida que a mulher amadurece, fica mais apegada ao centro gravitacional que os chineses e o pessoal da dança se referem como lower Dantien. O Dantien é como uma "bola" dentro do corpo, localizado logo atrás do umbigo, preenchendo o espaço da pélvis. A dança moderna usa muito a força que vem deste centro para gerar o movimento. Acho que quando conectamos fortemente, ou em demasia, com este centro baixo, cada vez mais "grounded", a tendência natural é tontura e falta de corporeidade cada vez que se afasta do chão. Aí, ou a pessoa trabalha isso, ou passa trabalho. No meu caso, passo trabalho. E olha que me esforço.
Este ano fiz um curso de artes circenses no Actors Gymnasium. Aprendi um pouco de cada coisa: trapézio, lyra, teia espanhola, cloud swing, tecido, corda bamba, malabarismo, perna de pau. No geral fui um desastre nas artes aéreas, mas algumas coisas eu aprendi, e também ao longo do curso descobri que posso superar vários limites e bloqueios.
No entanto, pareço ter esquecido que antes de fazer qualquer movimento brusco, é bem recomendável alongar, vide o registro da minha "estrelinha" inocente. A frase quase inaudível no final do vídeo é: 'Ai, acho que desloquei meu ombro.' Ninguém mandou desacreditar minha própria sensatez.
Na verdade, quase senti como se esta viagem ao interior da Pensilvânia tivesse sido ao interior do sul do Brasil, tamanha a ligação do Rafael (meu amigo) com sua terra natal e as memórias de infância que, inevitavelmente, ele me traz. Pra reforçar esta sensação, passeamos sábado de manhã na feira de outono do vilarejo tomando um bom mate, com direito a bomba de ouro, prata e rubis. Me diverti com um poema colado na geladeira deles e copio aqui pela extrema sensualidade contida nos versos:
"Amargo doce que eu sorvo, num beijo em lábios de prata! tens o perfume da mata molhada pelo sereno, e a cuia seio moreno que passa de mão em mão, traduz no meu chimarrão, em sua simplicidade, a velha hospitalidade da gente do meu rincão!"
O fim de semana foi todo de natureza. A casa deles é praticamente uma casa de campo. As árvores da região estão num degradê de amarelos, laranjas e vermelhos e o sol da tarde faz subir um cheiro pungente e rico das folhas deteriorando no solo. Visitamos um canyon, caminhamos ao longo de um rio e, de quebra, na volta, como nosso vôo saía de Buffalo, NY, visitamos as cataratas do Niagara.
Percebi, para meu desespero, que várias fraquezas minhas têm aumentado com o passar do tempo. Cada vez enjôo mais de carro, cada vez tenho mais pavor de altura e, tenho que admitir, desenvolvi um sério medo de avião.
O problema com altura ou movimento (ou a combinação dos dois) acho que é bem comum em mulheres. Talvez porque tenhamos uma conexão mais forte com o centro gravitacional do corpo que os homens.
No teatro também se estuda isso. Na contrução de um personagem, há que se buscar onde fica o centro gravitacional dessa pessoa, o centro pelo qual ela se move e opera no mundo.
Eu defendo a teoria que à medida que a mulher amadurece, fica mais apegada ao centro gravitacional que os chineses e o pessoal da dança se referem como lower Dantien. O Dantien é como uma "bola" dentro do corpo, localizado logo atrás do umbigo, preenchendo o espaço da pélvis. A dança moderna usa muito a força que vem deste centro para gerar o movimento. Acho que quando conectamos fortemente, ou em demasia, com este centro baixo, cada vez mais "grounded", a tendência natural é tontura e falta de corporeidade cada vez que se afasta do chão. Aí, ou a pessoa trabalha isso, ou passa trabalho. No meu caso, passo trabalho. E olha que me esforço.
Este ano fiz um curso de artes circenses no Actors Gymnasium. Aprendi um pouco de cada coisa: trapézio, lyra, teia espanhola, cloud swing, tecido, corda bamba, malabarismo, perna de pau. No geral fui um desastre nas artes aéreas, mas algumas coisas eu aprendi, e também ao longo do curso descobri que posso superar vários limites e bloqueios.
No entanto, pareço ter esquecido que antes de fazer qualquer movimento brusco, é bem recomendável alongar, vide o registro da minha "estrelinha" inocente. A frase quase inaudível no final do vídeo é: 'Ai, acho que desloquei meu ombro.' Ninguém mandou desacreditar minha própria sensatez.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Inteligência Outonal
O outono chegou. Tanto lá fora, pelos dez graus que estão fazendo, quanto na minha alma que só quer saber de chás deliciosos e de ouvir Madeleine Peyroux.
Ontem à noite teve ensaio do "Quiltmaker's Gift" a peça que estou preparando com o pessoal da Moving Dock, uma companhia com quem já trabalhei outras duas vezes.
A Moving Dock explora as técnicas do Michael Chekhov (sobrinho do Anton, escritor). Ele desenvolveu um método muito próprio de trabalho do ator, e criou o termo 'gesto psicológico', que eu adoro.
Sempre tive dificuldade de usar o "the method", que foi o que me ensinaram no Chicago Actors Studio, trabalhando muito com memória emocional e afetiva.
Já descobri que não dou muito certo quando tenho uma atitude mental frente a um papel ou um texto, ou se tenho que buscar alguma coisa semelhante que aconteceu comigo, para ali encontrar a emoção que eu quero. No entanto, sempre que o trabalho parte do corpo, a coisa flui.
Ou seja, meu antigo eu, de jornalista super racional, aparentemente segue "emburrecendo", enquando abro outras extensões de outras versões de mim que eu sequer sabia estarem lá.
Sempre me considerei uma pessoa com ótimo vocabulário, mas hoje em dia, pra falar de muitas coisas, simplesmente não encontro as palavras. O gesto, o olhar e o movimento dizem muito mais.
Portanto, estes trabalhos com a Moving Dock, são uma delícia pra mim, com ensaios que viram território de exploração de situações e personagens, usando imagens e metáforas pra chegar onde se quer.
Um tempo atrás, teve uma personagem que tinha como gesto psicológico ficar o tempo todo segurando penas de pássaros que flutuavam à frente dela. Quando ela ficava arrasada, é como se todas aquelas peninhas tivessem caído no chão e fossem ser pisoteadas na lama. Parece papo de maluco... mas artisticamente faz todo o sentido do mundo. E, é claro, esta imagem, só serve pra mim, pra mais ninguém. São achados extremamente particulares.
Nesta peça, estou tendo uma experiência ainda mais brincada, pois é para o público infantil. Os ensaios estão muito engraçados, super intensos, bem físicos, mas parecem jogos e brincadeiras. Vai ter um ensaio aberto dia 11 e quero tirar umas fotos pra botar aqui.
Ontem também encontrei no MSN a Maria Allencar, que foi minha colega na CAL, no Rio. Maria tava fuçando no meu currículo de teatro e ficou curiosérrima sobre a leitura dos contos eróticos 'Sex Scenes', da escritora Polly Frost que eu fiz no ano passado.
Resultado, estou eu agora com idéias de criar algo similar, escrever contos em formato pronto para leitura dramática, cheios de comédia e putaria, pra apresentar em uma turnê por cafés descolados de algumas capitais brasileiras.
A idéia é super boa. Quero ver é se eu tenho coragem de escrever sacanagem. Hmmm.... Chego a ficar vermelha, antes mesmo de começar. Aliás, eu tinha um professor de literatura no colégio Rosário, o Walmor, que chamava as bochechas de "tronos do pudor". Certíssimo ele.
Hoje à noite estou de folga e já comprei vinho (Red Truck, 2007 pinot noir da California), mais um Brie francês, queijo de cabra da Holanda, pão italiano, pêssegos, e vou me divertir com meu marido olhando episódios antigos de L Word. Ah... os prazeres do frio e da boa companhia...
Ontem à noite teve ensaio do "Quiltmaker's Gift" a peça que estou preparando com o pessoal da Moving Dock, uma companhia com quem já trabalhei outras duas vezes.
A Moving Dock explora as técnicas do Michael Chekhov (sobrinho do Anton, escritor). Ele desenvolveu um método muito próprio de trabalho do ator, e criou o termo 'gesto psicológico', que eu adoro.
Sempre tive dificuldade de usar o "the method", que foi o que me ensinaram no Chicago Actors Studio, trabalhando muito com memória emocional e afetiva.
Já descobri que não dou muito certo quando tenho uma atitude mental frente a um papel ou um texto, ou se tenho que buscar alguma coisa semelhante que aconteceu comigo, para ali encontrar a emoção que eu quero. No entanto, sempre que o trabalho parte do corpo, a coisa flui.
Ou seja, meu antigo eu, de jornalista super racional, aparentemente segue "emburrecendo", enquando abro outras extensões de outras versões de mim que eu sequer sabia estarem lá.
Sempre me considerei uma pessoa com ótimo vocabulário, mas hoje em dia, pra falar de muitas coisas, simplesmente não encontro as palavras. O gesto, o olhar e o movimento dizem muito mais.
Portanto, estes trabalhos com a Moving Dock, são uma delícia pra mim, com ensaios que viram território de exploração de situações e personagens, usando imagens e metáforas pra chegar onde se quer.
Um tempo atrás, teve uma personagem que tinha como gesto psicológico ficar o tempo todo segurando penas de pássaros que flutuavam à frente dela. Quando ela ficava arrasada, é como se todas aquelas peninhas tivessem caído no chão e fossem ser pisoteadas na lama. Parece papo de maluco... mas artisticamente faz todo o sentido do mundo. E, é claro, esta imagem, só serve pra mim, pra mais ninguém. São achados extremamente particulares.
Nesta peça, estou tendo uma experiência ainda mais brincada, pois é para o público infantil. Os ensaios estão muito engraçados, super intensos, bem físicos, mas parecem jogos e brincadeiras. Vai ter um ensaio aberto dia 11 e quero tirar umas fotos pra botar aqui.
Ontem também encontrei no MSN a Maria Allencar, que foi minha colega na CAL, no Rio. Maria tava fuçando no meu currículo de teatro e ficou curiosérrima sobre a leitura dos contos eróticos 'Sex Scenes', da escritora Polly Frost que eu fiz no ano passado.
Resultado, estou eu agora com idéias de criar algo similar, escrever contos em formato pronto para leitura dramática, cheios de comédia e putaria, pra apresentar em uma turnê por cafés descolados de algumas capitais brasileiras.
A idéia é super boa. Quero ver é se eu tenho coragem de escrever sacanagem. Hmmm.... Chego a ficar vermelha, antes mesmo de começar. Aliás, eu tinha um professor de literatura no colégio Rosário, o Walmor, que chamava as bochechas de "tronos do pudor". Certíssimo ele.
Hoje à noite estou de folga e já comprei vinho (Red Truck, 2007 pinot noir da California), mais um Brie francês, queijo de cabra da Holanda, pão italiano, pêssegos, e vou me divertir com meu marido olhando episódios antigos de L Word. Ah... os prazeres do frio e da boa companhia...
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